23 de abril de 2024
Colunistas Walter Navarro

Dois Papas, Um Jesus e Vários Idiotas


Fernando Meirelles, há muito tempo, é o melhor cineasta brasileiro. Primeiro porque está vivo, segundo porque não tem concorrência.
O Cinema brasileiro continua uma chatice e fiel à maldição: “O filme é uma bosta, mas o diretor é genial”.
Fernando Meirelles é bom porque esgotou o tema Brasil e tornou-se internacional, um cosmopolita. Penso isso desde “O Jardineiro Fiel” de 2005, meu favorito até hoje.
Mesmo seu esquerdismo não atrapalha, é discreto, não compromete.
Tudo confirmado em seu mais recente bom filme, “Dois Papas”.
Fica clara sua predileção, no mínimo simpatia, pelo “esquerdoso” Papa Francisco, em detrimento do “nazista” Papa Bento XVI, o Jânio do Vaticano.
Bento XVI renunciou no Carnaval de 2013 e até hoje não conhecemos o motivo de tão tresloucado ou sensato gesto. E não é no filme, baseado em fatos reais, que descobrimos. Na hora da confissão de Bento XVI, o filme de Meirelles vira cinema mudo.
Dá algumas pistas, mas nada de novo no Front.
Eu ia escrever sobre isso e o resto, dia 25 de dezembro, aniversário de Jesus, mas preferi ajoelhar e rezar em altares mais pagãos.
Foi até bom, porque o Papa Francisco, anteontem, dia 31, último dia de 2019, perdeu a Santa Paciência e deu não um, mas dois tapas na mão de uma fiel. E depois a xingou com bastante raiva, mas o cinegrafista, com inveja de Fernando Meirelles, não gravou as injúrias.
Enquanto argentino, juro, continuo preferindo o Maradona. Este Papa, além de “bonzinho”, é petista. Depois de estapear a fã, dia seguinte, Francisco rezou Missa condenando a violência contra as mulheres… É de fazer Deus perder a fé, como sempre digo.
O Papa pecou, mas a mulher também errou. Ela agarrou e puxou a mão do sumo pontífice, até com certa violência. Francisco, que além de argentino tem sangue italiano, reagiu com a mesma intensidade.
Uma besteira engraçada. Desconfio que Francisco ainda perpetrará coisas bem piores, tipo, “O Último Tango no Vaticano”…
Bom, lá se foram os dois papas, falemos de Jesus e dos idiotas da Porta dos Fundos.
Acho que tudo já foi dito ou pelo menos o principal: queria vê-los fazer o mesmo com o Profeta Maomé…
Porque escreveu “Versos Satânicos”, há 30 anos, Salman Rushdie vive escondido. O saudoso aitolá Khomeini ordenou sua morte, chamando o livro de “blasfémia contra o Islão”. A “fatwa” contra Rushdie foi renovada em 2005 por Ali Khamenei. É mole?
E as confusões, crises diplomáticas, ameaças de morte criadas pelo jornal Jyllands-Posten, da Dinamarca, ao publicar 12 caricaturas com o título de “As faces de Maomé”, em 2005?
E os 12 mortos no jornal Charlie Hebdo, em Paris, 2015, pelos mesmos motivos?
Sou contra a censura. Cada um se expressa como pode, como sabe; como desta vez, apelando. E quem apela em piada já parte perdendo: não tem graça.
Não tem graça, nem nada de novo. Apenas mostrou o desespero dos maus perdedores que, não tendo mais o que fazer, partem para a agressão gratuita.
E para a Burrice.
Qual foi o “defeito” de Jesus para o Porta dos Fundos? Como o Porta dos Fundos escolheu agredir a fé das pessoas? Dizendo que Jesus era gay, São José, corno e Maria, uma devassa…
Então, onde está a verdadeira homofobia, a clara intolerância machista que eles tanto condenam em Bolsonaro?
No final, para o Porta dos Fundos gay é defeito. É errado, risível, é ridículo.
O Porta dos Fundos já fez coisas muito engraçadas e inteligentes, mas há muito a criatividade deles vem despencando andares no meu conceito. Simplesmente, não vejo. Nem vou ver.
E não preciso ver para ver que apelação não tem graça. É como o típico cinema brasileiro citado no início desta conversa. Até hoje, para atrair público, sem ideias e originalidade, o cinema brasileiro “social” tem que ter palavrão, mulher pelada e favela.
Fernando Meirelles fez um filme de esquerda, inteligente. O Porta dos Fundos não conseguiu uma coisa nem outra. Repetiu clichês, contou piada dormida e requentada. Tadinhos. Toda obra reflete o criador.
O filme do Porta dos Fundos é exatamente o que a gente tira pela porta dos fundos: lixo e bosta. Se rico ri à toa, bobos também.
PS: Ei Gregório Duvivier, você precisa é de um homem para chamar de seu. Mesmo que este homem seja o Fábio Porchat, kkk.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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