20 de abril de 2024
Walter Navarro

Adélio querido, fura o saco do Bolsonaro


Apesar de uns vocês, e dele mesmo, ainda sou o maior fã de Chico Buarque. É o Gênio do Crime, Letra & Música. E eu o perdoo por me trair.
“Amar é ser fiel a quem nos trai”, cantaria Nelson Rodrigues. O mesmo Nelson que inspirou “Te perdoo por te trair”, outro clássico do Velho Chico.
Pois é, pois bem. Uma das grandes letras de Chico está em “Partido Alto”, cuja música não é nenhuma Brastemp, mas boa.
Entre outras pérolas de “Partido Alto”, gosto especialmente destes versos ateus, filisteus, visigodos, ostrogodos e hereges: “Deus é um cara gozador, adora brincadeira, pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro, mas achou muito engraçado me botar cabreiro, na barriga da miséria nasci brasileiro. Eu sou do Rio de Janeiro…”.
E olha que não me chamo João, nem sequer nasci em Niterói, cidade que tem a melhor vista panorâmica do Brasil.
Depois de muito repetir “Diz que deu, diz que Deus dará”, lá no meio da música, Chico desabafa: “Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio, pele e osso simplesmente, quase sem recheio, mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio, dou pernada a três por quatro e nem me despenteio. Que eu já tô de saco cheio…”.
Porque já estou de saco cheio! Na lição de anatomia, as musas podem dizer que estão de vulva cheia. Igualdade.
Chico chora, não de saco, mas de barriga cheia. Ele está longe de ser fraco, feio, desdentado, quase sem recheio.
Chico é o terror e amor das mulheres. De alguns homens (sic) também.
Chico é rico e com todos os méritos. Seu talento é como o MST não conhece fronteiras.
Mas Chico também, como Deus, é um gozador. É petista. Seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda foi um dos fundadores do PT. Não importa que hoje esteja revirando-se no túmulo. Complexo de Édipo, Elektra e Freud explicam muita coisa, a começar por Chico.
O que quero com todo este preâmbulo é dizer que até Deus e Chico têm o santo direito de estar e ficar de saco cheio. Menos o presidente Jair Bolsonaro, claro. Afinal, ele é um Mito, não é humano, como Deus e Chico Buarque.
Mitos geralmente são gregos, mas porque Zeus é gozador e adora brincadeira; pra jogar Bolsonaro no mundo, tinha o mundo inteiro, mas achou muito engraçado lhe botar cabreiro, Bolsonaro nasceu quase na miséria, em Glicério (SP) e foi eleito pelo Rio de Janeiro e o Brasil inteiro.
Uma das críticas e xingamentos mais frequentes contra Bolsonaro é ser estourado, de não ter papas e mamas na língua. De falar o que pensa, de falar a dolorida verdade.
Votei nele por isso. Continuo torcendo por ele por isso.
A última foi a resposta dura, duríssima, a mais uma repórter idiota útil da Folha de São Paulo.
O cara já explicou mil vezes que contingenciamento não é corte, aí vai a imbecil, pra puxar saco do editor e do patrão, perguntando, de novo, se o “corte” não deixará a caduca Educação brasileira ainda pior.
Haja saco!
Não há cristão de Coliseu que aguente! Nem leão de Coliseu! Pelamordedeus!
Parece que bebe!
Meus contemporâneos devem morrer de saudade, como eu, da revista MAD. Lembram?
Uma de minhas sessões e seções favoritas da MAD era “Respostas Cretinas para Perguntas Imbecis” de Al Jaffee.
– Você está vendo tevê?
(para uma mulher deitada vendo tevê)
– Não, estou me bronzeando com esse novo tipo de lâmpada solar.
– Você se machucou?
(para um cara caído com a cara num poste)
– Não! É que eu estou com um dente mole e estou tentando me livrar dele mergulhando minha cara nas coisas.
– Está dormindo, Tião?
(para um cara dormindo no sofá)
– Não! Sempre que fico acordado eu fecho os olhos.
– Você está fazendo a barba?
– Não! Estou tentando o suicídio me cortando em mil pedacinhos!
– Pode me dizer qual filme está passando aqui?
(para uma bilheteira de cinema)
– Não! Preferimos manter em segredo para evitar filas quilométricas!
E a lista de ótimas é infinita!
“Bolsonaro, o senhor falou que não tem nenhuma universidade brasileira entre as 250 melhores do mundo. É cortando verbas que alguma universidade brasileira vai chegar a ser?”.
O presidente responde: “O corte de verba não é maldade de alguém, não tem dinheiro. A palavra certa é contingenciamento”.
A repórter rebate: “Contingenciamento é corte, presidente”, então uma terceira pessoa explica a diferença entre corte de verbas e contingenciamento.
“Contingenciamento é a suspensão do gasto durante um período até a receita se confirmar”.
Bolsonaro, de saco cheio, respondeu na lata: “Vocês da Folha de São Paulo tem entrar de novo em uma faculdade que presta para aprender a fazer um bom jornalismo e não contratar qualquer uma ou qualquer um para ficar fazendo discórdia e perguntando besteira por aí”.
– “Navarro, o senhor falou que não tem nenhuma universidade brasileira entre as 250 melhores do mundo. É cortando verbas que alguma universidade brasileira vai chegar a ser?”.
– Não, minha filha. As universidades brasileiras estarão entre as melhores do mundo, quando seus professores derem aula de verdade, sem salários de R$ 60 mil. Quando estudantes pararem de cheirar a bunda um do outro, confundindo antropologia com antropofagia. Quando você parar de usar este microfone como vibrador!
PS: Não é porque Jair começa com J que ele tem que ser Jó.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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