Na última quarta-feira à noite estava assistindo ao programa “Destino Certo”, e comecei a viajar com a Mel Fronckowiak por vários vinhedos espalhados pelo mundo.
Lugares maravilhosos, vinhos maravilhosos, e a boca enchendo de água.
Quando ela sentou pra comer uma pasta acompanhada de um Brunello de Montalcino, não resisti.
Fui correndo até a cozinha preparar um macarrão. (O Brunello, porém, ficou só na imaginação. Foi substituído por um cabernezinho chileno mesmo.)
Enquanto a massa cozinhava, voltei pra sala e lá estava a Mel fazendo matéria sobre autódromos. Fiquei com vontade de pegar um carro e sair estrada afora, livre, leve (ô) e solta tomando um vento no rosto.
Os antigos diziam que a pessoa que quer tudo o que vê é uma pessoa lombriguenta.
Alguém se lembra da vó passando uma carraspana na gente porque queria comer o bolo da vizinha? “Deixa de ser lombriguenta, menina! Tem bolo aqui em casa”. (Pelo menos a minha fazia isso.)
Pois acho que eu sou uma. Vendo o Biden passando na frente do ainda presidente, em vários estados americanos, fiquei com vontade de ver nosso genérico do Trump levar um banho por aqui também.
Não porque eu ache o Joe Biden “o cara”. Nem o conheço tanto pra isso. O cara continua sendo Barack Obama, mas só de pensar na possibilidade de não ver mais aquele beicinho do homem cor de laranja dizendo que soube como ninguém dominar a pandemia e que trabalhou arduamente em prol dos negros e dos imigrantes, fiquei lombriguenta. E mais ainda de pensar que, por aqui, não teria de ouvir mais aquela risada sem graça que o nosso presidente costuma dar de suas próprias piadas, igualmente sem graça.
Senti vontade de ver nosso país ter a chance de andar pra frente.
Senti vontade de ver nosso país sendo dirigido por alguém que não fique enaltecendo sua Bic só porque se acha o dono absoluto da bola. Alguém que não fique acobertando crimes de parentes, alguém que pense no bem estar coletivo. (Tá fácil!)
Nesse desgoverno, os nossos ministros não têm voz ativa, não têm planos de governo, não têm a decência de cortar seus próprios gastos para equilibrar as contas.
E, com a ajuda do Congresso, esta semana passaram mais um pouco da boiada. Na calada do dia, foi aprovada a proposta que tira R$ 1,4 bilhão da Educação para enfiar em obras eleitoreiras. (Estamos indo bem na avenida!)
Mas, confesso, não é de tudo que vejo que tenho vontade.
Por exemplo, não tenho a menor vontade de ser filha do jornalista Rodrigo Constantino, que esta semana, perdeu suas boquinhas na Jovem Pan, na Record, na Rádio Guaíba e no Correio do Povo por causa da sua bocona de machista retrógrado, ao comentar o caso de Mariana Ferrer, a jovem que denunciou um estupro e foi chamada, em outras palavras, de puta pra baixo por um advogado criminalista. (Ele se defende e diz que “atua nos limites legais e profissionais”.) Rodrigo vomitou no ar: “Se minha filha disser que foi numa festinha, que bebeu muito e que foi estuprada, não vou denunciar o cara. Vou dar esporro nela e botar ela de castigo”. (A coisa, que já não estava bonita pro lado dele, ficou ainda mais feia.)
Também não fiquei com vontade de ser parente do Celso Russomanno, o candidato à Prefeitura de São Paulo, que está caindo feito viaduto nas pesquisas. Num evento na Associação Paulista de Imprensa, Russomanno dilmou e soltou essa pérola: “A vacina está sendo testada em adultos sãos, nenhum com Covid. Não está sendo testada em crianças, não está sendo testada em idosos e não está sendo testada nos doentes.”
Ô, orêia, explica aí como uma vacina – algo destinado única e exclusivamente a EVITAR uma doença – tem de ser testada na pessoa que está doente?
Sobre começar em primeiro lugar nas pesquisas e estar indo agora pras cucuias, não precisa explicar nada. Já entendemos o porquê!
Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.