23 de abril de 2024
Editorial

Políticos x "outsiders"

Joaquim Barbosa, Bernardinho e Huck. Todos desistiram de suas pretensões políticas – Montagem/O GLOBO

Convencionou-se tratar todo pressuposto candidato que não tem militância na política como outsider (indivíduo que não pertence a um grupo determinado). Exemplos: Bernardinho, Luciano Huck, Joaquim Barbosa etc. Para ficarmos nesses dois: ambos vivem muito bem, e jamais sairiam da zona de conforto para enfrentar uma guerra que é uma campanha eleitoral. O altruísmo não chegaria a tanto! Mas não dá para deixar de comentar o comportamento dos dois, que cozinharam o eleitorado, postergando a decisão de suas candidaturas. Muito mais num momento conturbado, como o que vivemos. Por que razão?

Para muitos, um candidato à Presidência de fora da política não teria traquejo suficiente para lidar com os políticos. Talvez este seja, justamente, o melhor caminho. Romper com esse modelo fisiológico, do toma lá dá cá, com ampla base de apoio e que impõe a pauta do Congresso. Um presidente que governe com as leis que existem, sem precisar fazer nomeações políticas e indicar apadrinhados. Atender aos interesses pouco republicanos de deputados e senadores é um preço alto demais para o país. E que o Congresso cumpra a sua obrigação de legislar, ou se submeta ao crivo da opinião pública.
Joaquim Barbosa desistiu de se candidatar à Presidência. Em face do posicionamento político manifestado em declarações divulgadas logo após a aposentadoria da Corte, o lançamento de seu nome perturbou e inquietou, pois prenunciava o mergulho em mais uma aventura semelhante às últimas, nas quais a sociedade insistiu em propostas geradoras do presente desastre econômico, de difícil recuperação, e da degradação da política. Neste indefinido quadro eleitoral, sua saída do páreo foi uma atitude sensata que, se espera, seja seguida por outros desconcertantes pré-candidatos.
É um desalento para o futuro do país quando pessoas como Huck, Bernardinho e Joaquim Barbosa, que tiveram sucesso em suas profissões e viraram referência para a sociedade, não aceitam ir para a vida pública. Teremos eleições em breve, e as opções serão as mesmas. Enquanto pessoas de fora da política não aceitarem se sacrificar para tentar mudar a sordidez da vida pública, não teremos com o que sonhar. Não quero dizer com isso que os três ou qualquer deles fosse mudar o país, nem que sejam exemplos de honestidade e honradez, não os conheço para tanto, mas ainda estariam sem os vícios da função pública, o que já seria um ótimo começo.
Se colocarmos o melhor administrador do mundo na Presidência do Brasil, mesmo assim não haverá governabilidade. Enquanto houver 35 partidos políticos, 513 deputados federais e 81 senadores, a maioria ávida em interesses pessoais, alguns até escusos, o DNA da corrupção não deixará que o país prospere, sob o ponto de vista econômico, social e ético. Ou mudamos esse regime de presidencialismo de coalizão, que obriga o primeiro mandatário a atender às necessidades do Legislativo, ou nunca sairemos desse atoleiro moral, que impede que o Brasil seja o país do futuro.
Infelizmente ainda não será nas próximas eleições que começaremos a melhorar o Brasil. Teremos presidiários em campanha, acusados de graves crimes de corrupção com lentas apurações sendo candidatos, e não podemos esquecer que o sistema eleitoral não mudou, ou seja, votaremos num candidato e não saberemos quem estaremos elegendo.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *