29 de abril de 2024
Vinhos

Vinhas velhas

Vinhateiros nunca tiveram vida fácil: a concorrência é enorme, a variedade de uvas se aproxima de números astronômicos e a cada dia novas técnicas de vinificação são usadas. Isto sem falar na reedição de processos ancestrais, como as talhas, ânforas, kvevris e assemelhados. Tudo para deixar os consumidores sempre ligados nas próximas novidades.

Tradicionalmente, os vinhos eram elaborados a partir de uma mistura de diferentes uvas, um corte ou blend, como são classificados hoje. Coube, basicamente, aos produtores do Novo Mundo, insistirem nos vinhos varietais ou monocastas, o que nem sempre é uma verdade absoluta: dependendo da legislação local, um pequeno percentual de uma outra vinificação pode ser adicionado, sem ser declarado no rótulo.

Seguindo nesta linha, uma das recentes inovações foram os vinhos de vinhedos únicos ou de parcela única. São vinhos obtidos com uma matéria prima especial, ou diferenciada, a critério de seus produtores.

Não é nenhum mistério que, dentro de uma mesma área plantada, algumas regiões produzem frutos melhores do que outras. Há algumas explicações para este aparente fenômeno: os solos não são exatamente homogêneos; a insolação pode variar bastante dependendo da orientação do vinhedo; as mudas plantadas não são 100% iguais (diferentes clones), etc.

Outra situação que acentua estas diferenças, acontece quando há parreiras de diferentes idades num mesmo vinhedo. Existem, também, em diferentes países, vinhedos muito antigos. Em geral, esquecidos ou abandonados. Mas, em determinado momento, são recuperados mostrando uma qualidade, até então, insuspeita.

Um ditado popular diz que a idade é sinônimo de sabedoria. Se transplantarmos esta ideia para as velhas parreiras que existem ao redor do mundo, seriam elas as que produziriam os mais nobres vinhos. Para muitos produtores, isto tornou uma verdade que podemos identificar nos rótulos de alguns de seus vinhos, onde está escrito: Vinha Velhas, Old Vines, Vielle Vignes, Alte Reben, Antico Vitigno ou Viñas Viejas, entre outras opções. São vinhos especiais.

O paralelo com a vida de uma pessoa pode explicar um pouco mais. Assim como nós, quando jovens, as videiras são muito produtivas, gerando muitos cachos e frutos. Mas a qualidade nem sempre é a desejada. Quem cuida de vinhedos usa técnicas específicas para obter a o melhor resultado de uma videira nova. Já uma velha parreira, desde que tenha sido bem tratada, produz poucos cachos que nos dão frutos próximos da perfeição. Tudo que sonha um bom enólogo,

Não há um consenso sobre quando um vinhedo ou parte dele pode ser classificado como velho. Alguns produtores adotam 10 anos, outros preferem 25 anos e poucos trabalham com 50 anos ou mais.

E há quem preferira erradicar estes vinhedos de baixa produção, substituindo-os por videiras mais produtivas.

Este é um primeiro alerta: não existe mágica. Um verdadeiro “Old Vines” custa caro simplesmente porque as vinhas velhas ainda existem e produzem, pouco. Isto tem um preço.

Parreiras “velhas” é um bom sinal, mas não é determinante na produção de um vinho fora do comum. Há muitos outros fatores envolvidos que começam com o tipo da casta, passam pelas regiões onde estão plantadas e terminam nas cantinas e nos métodos de elaboração. Um bom exemplo é a casta País (Chile), muito comum nas Américas, onde recebe diferentes denominações como Criolla (Argentina) ou Mission (EUA). Podem ainda estar plantadas em pé franco, sem enxertos, o que é considerado uma raridade. Até poucos anos atrás ela estava esquecida. Agora, produz alguns rótulos muito interessantes.

O Chile é um campeão neste quesito. Os Andes protegeram seus vinhedos da Filoxera, uma terrível praga, que dizimou vinhedos em todo o mundo. Outro país que teve uma região muito protegida foi Portugal e os vinhedos de Colares, plantados em areia.

Outras castas que produzem excelentes Vinhas Velhas são a Cabernet Sauvignon, uma das uvas mais plantadas, Merlot, Pinot Noir, Malbec, Carignan e Zinfandel entre as tintas; Chenin Blanc (África do Sul) e Semillon (Argentina) são as brancas mais comuns em vinhedos antigos.

Quem já provou um bom vinho destes descobriu sabores intensos e marcantes com ótima permanência. São diferentes dos vinhos jovens e fáceis de degustar: não é para qualquer paladar! Há que ter alguma sabedoria para escolher, deixar maturar no ponto certo e apreciar.

Os “velhos” sabem como fazê-lo …

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto de Tucker Monticelli na Unsplash

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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