19 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Um presidente atrás de desculpas para justificar sua eventual derrota

Bolsonaro teima em continuar sendo o seu principal adversário

Jair Bolsonaro nos Estados Unidos – Reprodução

Querem fazer de Jair Messias Bolsonaro o que ele nunca foi e jamais será – um político cerebral, moderado, de bom senso, capaz de refrear seus instintos mais primitivos e de saber ler com argúcia a conjuntura. Se possível, alguém capaz de chorar pela dor alheia.

É o que querem seus conselheiros da banda não familiar e não militar do governo com base em análises de pesquisas que a todo momento são feitas por encomenda dos partidos que o apoiam ou de banqueiros e empresários bolsonaristas de raiz ou de ocasião.

Na semana passada, a pedido de Valdemar Costa Neto, presidente do PL que hoje o abriga, Bolsonaro reuniu-se com ele durante duas horas no Palácio do Planalto. Costa Neto queixou-se dos elevados gastos de campanha e sugeriu correções em suas falas.

Costa Neto não se veste como palhaço, não é espalhafatoso como palhaço, mas é capaz de matar sorrindo como o Coringa. Bolsonaro parece Zelig, personagem do filme de Woody Allen com esse mesmo nome, dotado de raro talento para o mimetismo.

Frequentemente, Bolsonaro decide ou muda de opinião de acordo com a última palavra que ouviu de alguém. Nem por isso se afasta por completo do que ele mesmo e seus filhos julgam o certo. Se foram bem-sucedidos até aqui, por que fazer diferente?

Porque uma coisa foi Bolsonaro se eleger 7 vezes deputado e uma vez presidente com a mesma receita. Num desses giros que o mundo dá, eles ficaram em sintonia. Outra coisa é: decorridos 4 anos com uma pandemia pelo meio a sintonia continuar.

Mesmo depois de votar em Lula para presidente em 2002, logo Bolsonaro voltou a ser oposição, talvez movido pelo ressentimento de não ter emplacado seu candidato a ministro da Defesa. Era um estafeta dos militares e como estafeta permaneceu.

Hoje, é incumbente. E tem pela frente o desafio de enfrentar um ex-presidente da República que governou por 8 anos, elegeu e reelegeu seu sucessor, e é lembrado por ter tirado o país do mapa da fome. A fome voltou para 33,4 milhões de brasileiros.

Bolsonaro não perdeu a esperança de se reeleger e tudo fará para tal, como provou ao pedir ajuda ao presidente Joe Biden para derrotar Lula. No entanto, a menos de 4 meses das eleições, comporta-se como se fosse seu principal adversário.

O que promete fazer caso se reeleja? Ninguém sabe, nem ele que só faz repetir o que disse há 4 anos. Cobra-se de Lula um programa de governo, de Bolsonaro pouco se cobra. Bolsonaro sequer cumpriu o que havia prometido – destruir “o sistema”.

O que ele chamava de sistema, está mais forte. Aumentou o número de ricos e os pobres ficaram mais pobres. Aumentou a violência, apesar de ter aumentado o número de armas à disposição de quem possa comprá-las. O Brasil piorou.

Bolsonaro dá a impressão de lutar para perder de pouco e jogar a culpa nas urnas eletrônicas, na Justiça que tirou Lula da cadeia, nos donos de riquezas que não refreiam seu apetite por lucros exorbitantes, e na pandemia, culpa de Deus ou da China.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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