24 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Quem matou e quem mandou matar Bruno Pereira e Dom Phillips?

Se depender de Bolsonaro, este será mais um crime que ficará impune.

Região do Vale do Javari, onde o indigenista e o jornalista desapareceram
Material cedido ao Metrópoles

A não se montar uma comissão com representantes da sociedade civil e de órgãos internacionais de direitos humanos para acompanhar as investigações policiais sobre a morte na Amazônia do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, jamais saberemos com segurança o que de fato aconteceu.

A versão oficial conhecida até agora dá conta de que Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, decidiu confessar “voluntariamente” o crime. Não é bem assim. Ele não confessou ter matado ninguém, só ajudado a enterrar os corpos. E, em audiência de custódia na semana passada, disse que foi torturado por policiais.

Irmão de Pelado, Oseney da Costa Oliveira é um suspeito preso sem confissão. Ou se chega a outros nomes que participaram da chacina e aos mandantes ou Pelado dirá mais adiante que não passa de um bode expiatório. A polícia teria localizado a cova de Bruno e de Dom Phillips e atribuído o crime a ele e ao irmão.

Por quê? Porque há testemunhas de que Pelado e Bruno haviam se desentendido no passado. Há até um vídeo de poucos segundos em que Pelado responde a uma advertência supostamente feita por Bruno de que ele estaria pescando em águas próximas a uma reserva indígena. Lembremos do caso da Marielle Franco.

A socióloga e vereadora do PSOL, ativista dos direitos humanos, foi assassinada a tiros no centro da cidade do Rio há pouco mais de 4 anos e três meses juntamente com o motorista Anderson Pedro Mathias Gomes. Quem matou e quem mandou matar Marielle, e acabou também matando Anderson? Não se sabe ao certo.

É possível que nunca tenhamos uma resposta confiável a essa pergunta. Em outubro do ano passado, a quarta edição da pesquisa Onde Mora a Impunidade, do Instituto Sou da Paz, mostrou que é muito baixa a taxa de esclarecimentos sobre crimes contra a vida no país; algo como menos da metade. Ou 4 em cada 10.

Bahia (22%), Rio de Janeiro (14%) e Paraná (12%) foram os estados com as menores taxas de elucidação de crimes contra a vida. Amapá, Goiás, Pará e Maranhão forneceram dados incompletos para o relatório. Os que não enviaram dados: Alagoas, Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins.

Maxciel Pereira dos Santos, servidor da Funai, foi assassinado em 2019 na cidade de Tabatinga. Decorridos três anos, não há presos nem condenados pelo crime. Bolsonaro não tem interesse na punição dos assassinos de Bruno e Dom Phillips. Garimpeiros, pescadores ilegais e desmatadores da Amazônia são eleitores dele.

Sobre a viagem dos dois por uma região perigosa, Bolsonaro disse que não passou de “uma aventura”, e que Bruno era malvisto por lá. Quer dizer: culpou-os pela própria morte, na mesma linha do “morram os que tiverem que morrer” à época da pandemia da Covid-19. Morreu muita gente que não tinha de morrer.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *