O depoente nega, mas caberá à Justiça dizer se Bolsonaro e seus filhos enriqueceram ou não por meio de pequenos e grandes roubos
Na celebração dos mil dias do seu governo, Jair Bolsonaro disse em Belo Horizonte que ser presidente da República não é uma tarefa fácil, mas que seu conforto é que na sua cadeira não tem um “comunista, socialista e ladrão”.
Comunista, de fato, não tem. Nem socialista. Nem social-democrata. Parente do fascismo, pode ter, sim. Quanto a não ter ladrão na Presidência, há controvérsia. Ladrão não é só aquele que rouba muito, tampouco o que só rouba galinha.
O parlamentar, por exemplo, dono de imóvel em Brasília, mas que mesmo assim recebe auxílio-moradia não deixa de ser ladrão. Pode ser chamado por esse nome. O auxílio-moradia é pago pelo Congresso e destina-se aos que não têm imóveis na cidade.
O Congresso não fabrica dinheiro. O dele sai do Orçamento da União, por sua vez sustentado pelo dinheiro arrecadado com a cobrança de impostos. É dinheiro público, portanto, que poderia ser mais bem aplicado. O Congresso fecha os olhos a essas coisas.
Mesmo tendo um imóvel em Brasília, Bolsonaro, então deputado, recebeu auxílio-moradia de mais de 4 mil reais por mês desde outubro de 1995 até se eleger presidente. Transgressão é transgressão, não depende do valor.
Resta demonstrado que Bolsonaro como parlamentar e, depois, seus filhos Zero Um e Dois valeram-se do esquema da rachadinha para enriquecer. Rachadinha é a expropriação de parte do salário pago a funcionários de gabinetes ou a empregados fantasmas.
De novo: é dinheiro público que vai parar no bolso de quem não deveria. É desvio de finalidade. É crime. Os garotos Bolsonaro, assim como o pai, assim como a mãe deles, Ana Cristina Valle, sempre gostaram de pagar suas contas com dinheiro vivo.
Não há sinal mais forte de lavagem de dinheiro do que esse. Fabrício Queiroz, o operador da rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, é réu confesso. Queiroz cansou de pagar despesas de Flávio e de sua mulher.
Continua mal contada a história dos depósitos feitos por Queiroz e sua mulher na conta de Michelle Bolsonaro. Disse o presidente que foi dinheiro que Queiroz lhe devia. Então, por que não lhe pagou diretamente? Flávio e Carlos são os que mais puxaram o pai.
No fim de 2018, os Bolsonaros eram donos de no mínimo 12 imóveis só no Rio de Janeiro. Como acumularam tal fortuna se sempre viveram do salário de parlamentares? Este ano, Flávio comprou uma mansão em Brasília por mais de 6 milhões de reais.
Está mais claro por que é controverso dizer, como Bolsonaro disse, que um ladrão de pequeno, médio ou de grande porte não possa estar sentado na cadeira de presidente da República? Esclarecer essa dúvida é tarefa da Justiça.
Fonte: Blog do Noblat
Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.