27 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Grande no nome, gigante na crise


Na última semana de setembro passado a mega incorporadora chinesa, Evergrande, fez o mercado de investidores do mundo dormir preocupado. Afinal, não faz tanto tempo assim que o banco americano Lehman Brothers quebrou, arrastando consigo o mercado imobiliário do país, acionistas e bancos de investimentos mundo afora. Treze anos, precisamente.

Imagem: Google Imagens – Seu Dinheiro

Ninguém aposta numa crise sem precedentes, por tratar-se da maior incorporadora chinesa, dona de um grupo econômico portentoso, que representa 25% do PIB do país. Mas os últimos registros financeiros e a falta de dois pagamentos de bônus seguidos deixou todos de cabelos em pé.

Primeiro a Evergrande perdeu o prazo de pagamento de US$47,5 milhões referentes a março de 2024, conforme estava programado. Depois deixou de honrar um compromisso financeiro de US$ 83,5 milhões para investidores. Isso nas duas últimas semanas. O passivo total da empresa soma o montante de US$ 305 bilhões e as ações na bolsa despencaram de US$31,00, em 2017, para US$ 3,57, em 2021 – e foram paralisadas para o fiasco não ser maior.

O que aconteceu? Especialistas de mercado de capitais acreditam que um conjunto de fatores contribuiu para essa hecatombe. A principal foi a mudança de comportamento da população chinesa nas últimas décadas, que migrou das áreas rurais para as cidades, exigindo a construção de moradias com celeridade. Além disso, aumentaram os ingressos de chineses nas universidades, o número de casamentos e a permissão para terem mais filhos.

O país precisa de soldados, mão de obra e consumo interno. A economia interna precisa girar, não dá para depender amplamente do mercado externo. A população de 1,3 bilhão precisa comer.

Nesse lastro de fatos, a Evergrande, que surgiu em 1996, viu a possibilidade de lucrar, provendo moradias à essa população crescente. Só que errou a mão. Se perdeu no caminho.

A construção desenfreada de prédios de apartamentos de variados padrões criou as conhecidas “cidades fantasmas”, empreendimentos que não foram vendidos devido à localidades sem acessibilidade, outros inacabados e os que foram comprados na planta e que sequer saíram do papel. Isso gerou uma ciranda financeira de tomadores de empréstimos, acionistas insatisfeitos, investidores internos e externos muito preocupados. Os imóveis tornaram-se caros e os pequenos investidores não podem pagar.

A Evergrande possui cerca de 1300 projetos de construção em 223 cidades, 200 mil empregados e uma dívida monstro. Os sinais evidentes de colapso financeiro foram sentidos quando deixou de honrar a folha de pagamento de funcionários e a rede de fornecedores. Segmentos que têm a preferência em qualquer situação de crise.

Como a China é um país fechado, onde as informações não ventilam, não se têm dados oficiais, além dos que os acionistas e populares revelam nos protestos que têm ocorrido no país. Um grande abacaxi para Xi Jinping descascar.

Para os compradores, a Evergrande tornou-se gananciosa e começou a investir em outros setores da economia, como indústria de bebidas, turismo, carros elétricos e até em time de futebol. A maioria não deu certo. Saiu do foco.

O que preocupa o mundo é que essa bolha imobiliárias e as decisões desastradas da Evergrande podem desencadear outra crise mundial, made in China. A primeira foi a pandemia e a segunda pode ser o efeito dominó decorrente do calote financeiro. Essa mácula o país vai levar em sua historia, por mais que tentem calar o fato.

Muitos bancos e acionistas internacionais podem ser impactados, além de países exportadores de insumos e commodities para a China. A América Latina está no centro do furacão e o Brasil, principalmente, porque tem 20% das suas exportações destinadas àquele país.

O que Xi Jinping pode fazer?

Já que tudo no país é de propriedade estatal, ele não pode simplesmente fechar os olhos e deixar a Evergrande quebrar. Além do que a China tem um projeto geopolítico muito mais ousado, que implica na dominação do continente asiático e de controle do mercado mundial.

Para isso, o ditador chinês precisa sacrificar a Evergrande, diminuindo sua importância em seus negócios, desestruturando-a pouco a pouco.

Uma tática delicada e cirúrgica que pode significar um recuo nos planos, mas que na verdade pode salvar o seu pescoço.

Na verdade, ninguém sabe o que pode acontecer.

Esse pode ser um cenário assustador para 2022.

Só se sabe o que Xi Jinping permite.

Foi assim com a Covid.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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