20 de abril de 2024
Colunistas Priscila Chapaval

A casa que eu moro pertenceu aos meus avós maternos

Foto Google – Pinterest – meramente ilustrativa

Meu avô Manuel Scharff e minha avó Jenny Scharff. Ambos imigrantes do leste Europeu. Meu avó de uma cidade da Rússia e minha avó de Londres. Pouco sei a respeito.

Minha mãe costumava me contar como era a vida aqui na casa que moro.

Vô Manuel veio primeiro. O navio que pegou por engano parou no Brasil e não nos Estados Unidos onde foram outros da família. Minha avó veio com o pai dela. Conheceu o meu avô e se casaram ela com 15 anos.

A vida não foi fácil mas meu avô deu certo na vida. Conseguiu trazer os irmãos e irmãs que ainda estavam na Europa. Foi comprando casas aqui na rua e toda família dele morava por aqui. Eram unidos e as primas e primos se davam muito bem. Eram felizes.

Às vezes dormiam todas as primas aqui onde moro. Eu moro aqui sozinha e acho que a casa ainda é pequena. Foi aqui que minha mãe se casou com o amor da vida dela que foi meu pai, também filho de imigrantes.

Meus pais nasceram no Brasil e me contavam quando perguntava da história dos avós imigrantes.

Hoje me lembrei do tempo que aqui nessa casa se comemorava o Ano Novo e o Yom Kipur. Minha avó cozinhava uns 3 dias para os jantares e almoços. Vinham todos aqui.

Meu avô era cohen. Tipo um rei dentro do judaísmo. Era rígido nos rituais. Seu lugar à mesa era na cabeceira numa cadeira forrada de almofadas digna de um judeu cohen.

Na casa tinha até galinheiro. Vinha um homem matar as galinhas. O galinheiro ficava onde hoje é minha sala de estar. Hoje eu diria que estou mais para galinha d’angola: tô fraco, tô fraco…

A canja que minha avó fazia era dos deuses. Lembro do gosto até hoje, cheia de gordura da galinha, com os ovinhos que estavam na barriga da galinha, com a moela, enfim o gosto era maravilhoso.

Lembranças boas é que não faltam.

E hoje sinto a presença deles todos. Numa boa. A casa é cheia de recordações boas.

Mas logo terei que vender. A construção é daquela época. Casa centenária e com muitas coisas para serem reparadas. Não vale a pena reformar. Sempre tem alguma coisa que quebra.

O pior de tudo é que de uns tempos para cá passa ônibus e a maioria dos imóveis estão com rachaduras por conta disso.

Árvores que pedi para a prefeitura plantar e plantaram arvores que não condizem com as casas. Arvores enormes que entopem todas as calhas da rua. Não podam e nem querem saber.

Já estou fazendo a minha cabeça para a mudança que pode demorar. Mas será inevitável. O ramo imobiliário está ávido por casas por aqui. Virou um bom negócio. O bairro cresceu e se valorizou.

Priscila Chapaval

Jornalista... amo publicar colunas sobre meu dia a dia...

Jornalista... amo publicar colunas sobre meu dia a dia...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *