19 de abril de 2024
Yvonne Dimanche

"Como a ave que volta ao ninho antigo"

Imagem: Arquivo Google – Timeout

Amigos, voltarei para o Rio no próximo dia 03. Nunca pensei que esta mudança fosse me causar tanta tristeza.
Não é por sair daqui ou ir para lá. Nem sei explicar direito.
Estou totalmente parada, não consigo guardar nada só esperando o meu irmão vir para cá e organizar as coisas.
Ele é que vai receber a mudança e depois juntamente com o Felipe ajeitar mais ou menos o lar.
Eu e Vilhena só iremos para lá depois. Não dá para ele acompanhar a bagunça.
Aí, eu me lembrei de quando nos mudamos para Brasília em 1961. Uma viagem de carro que levou dois dias. Até MG deu para aguentar, mas quando chegou em GO era só cerrado e mais nada. Uma cidade ou outra e olhe lá. A mudança da capital federal foi importante para o país.
Acho que foi uma tentativa dos meus pais de salvar o casamento.
Acho, minha mãe nunca falou nada, mas não deu certo, porque só ficamos lá seis meses. Tivemos alguns momentos felizes.
Um deles quando estávamos prestes a entrar na cidade e finalmente conseguimos ouvir a rádio local e tocou a música abaixo.

Outro dia maravilhoso foi quando fomos embora. O resto só infelicidade. Éramos crianças, mas não tolos.
Ainda bem que nosso apartamento do Rio continuou alugado com nossos móveis, os brinquedos e a nossa vida.
Agora, o retorno ao útero de Botafogo, onde vivi nos meus primeiros 28 anos de vida. Eu sei que a tristeza vai acabar e sei ainda que sou meio dramática. É só insegurança.
Lembro da viagem de ida, mas nada da volta.
Nota do Editor: O título é uma homenagem ao poeta brasileiro Luís Guimarães em seu poema “Visita à Casa Paterna”, que acho que se encaixa perfeitamente na alma dos grandes amigos que estão voltando ao lar:
Visita a Casa Paterna
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos — olhou-me grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta sala… (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe…
O pranto jJorrou-me em ondas… Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.

O Boletim

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