19 de abril de 2024
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Tragédia


Portugal é um país amoroso, tudo aqui é afeto e gentileza. Só quem mora e conhece, como eu conheço, sabe a extraordinária generosidade que paira no ar, faz da vida uma tranquilidade e une as pessoas num ritmo de felicidade.
Também é lindo, transpira História. Em cada canto há castelos, fortificações, registros de um passado nobre, que pertence igualmente ao Brasil. Parte de nós foi construída pelos mesmos combates e aventuras que construiram os portugueses.
O incêndio deste fim de semana, no distrito de Leiria, atinge-nos a todos. A tragédia é imensa e, na hora em que escrevo, tarde de segunda-feira, o fogo avança sobre Coimbra e Castelo Branco. Não dá sequer para imaginar o que ainda pode acontecer.
No ano passado, as incêndios também preocuparam. Houve um enorme, perto do Porto, onde moro, que chegou a cobrir a cidade de fagulhas e cinzas. Nunca tinha vivido tal experiência, assustei-me com os ventos que chegavam carregando a fumaça e o calor das chamas. Mas me assustei à toa. Não chegou nem perto do que acontece hoje.
Hoje há dezenas de mortos, famílias inteiras que tentaram fugir de carro de suas casas e, encurraladas na estrada pelo fogo, morreram da pior maneira possível. Há centenas de desabrigados, aldeias foram inteiramente destruídas.
O país se movimenta para ajudar aos sobreviventes. Tentei enviar leite e água, mas cheguei atrasada. A solidariedade é tanta que os bombeiros pararam de aceitar ofertas. Voltarão a pedir, se necessário. E eu sairei correndo para entregar porque, se já me considerava portuguesa, mais portuguesa fiquei diante desta dor.
Num país pequeno, onde em cada canto existe uma vila, uma plantação, um rebanho, incêndio tão grande é mais do que destruidor, é catástrofe. Não consome simplesmente campos sem dono. Cada labareda queima vidas, propriedades, queima o passado e o futuro. Cada labareda queima o coração de Portugal.
O calor – fora do normal, dizem – piora a situação. Novos focos de fogo pipocam em outros lugares. Portugal chora.
Espero que o Brasil, indelevelmenmte ligado a nós – sim, a nós, aqui sou 100% portuguesa – faça-se solidário. Falamos a mesma língua, pedimos socorro com as mesmas palavras. Mais do que ninguém entendemos os portugueses. E, no momento, eles choram.
São irmãos sofrendo, que possam se segurar em nossas mãos.

O Boletim

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