1 de maio de 2024
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Pois é…

A pátria da gente tem sabor. Melhor dizendo, sabores. E deles é impossível esquecer.
Apesar de, em Portugal, ter à minha disposição a melhor comida – bebida aussi – do mundo, sofri, durante um coquetel no último sábado, o ataque da síndrome minha terra tem palmeiras: saudades de um gostinho brasileiro.

Tudo de saboroso me era oferecido – e aceito, naturalmente, cometo com naturalidade o pecado da gula. Vinho bom, conversa gostosa,  momentos de puro prazer até o momento em que meus olhos se deitaram num bolo. Simples, sem cobertura, igual o bolo que fazia para os filhos. Igualzinho aos de uma amiga querida, vizinha carinhosa que conhece a minha paixão por bolos em geral. Principalmente quando degustados com café.
Bem, bolo com café não é exatamente a iguaria servida num coquetel. De modo que fiquei ao lado da mesa, aguando o bolo, sonhando com a possibilidade de o garçom aparecer com uma bandeja repleta de xícaras. Claro, nesta altura o bolo cresceu, acenou para mim, andou em cima da mesa, tentou-me de todas as maneiras possíveis. Um vândalo irresponsável.
Derrotada nas boas maneiras du enfant du Sacré Coeur, resolvi que frustrada não voltaria para casa. Cederia à tentação. Discretamente – nem tão discretamente assim, duas brasileiras notaram o meu momento desonroso – embrulhei um pedaço em guardanapos, escondi-o na bolsa e me despedi do anfitrião: compromissos inadiáveis me aguardavam.
O compromisso era com um bar, localizado quase ao lado do local da festa. Nesta altura já estava acompanhada das brasileiras que testemunharam o meu ato deselegante. Mas elas se comportaram bem, não furtaram nada. Só eu furtei um pedaço de bolo danado de bom.
Não sei se já contei que o café português é infinitamente mais saboroso do que o brasileiro. Tem aroma, tem corpo, sabor perfeito. E que pode ser pedido curto, longo ou comprido – um dia esclarecerei, hoje não há espaço. Pois bem, entrei no bar, mostrei o bolo à menina que nos atendia, expliquei o meu surto de gulodice e, para provar que era da área, sabia me comunicar em português/ português, pedi um abatanado. Ou seja, um megacafé.
Gente, que delícia. Morri de pena de não ter surrupiado mais pedaços do bolo. Na primeira dentada, primeiro gole, quanta emoção. Um tempo bom, de juventude e de muito bolo com café, voltou-me à memória. Quase chorei.
Talvez o anfitrião da bela festa leia estas linhas. Peço desculpas. Estava tudo ótimo. Inclusive, ou principalmente, o bolo.
Mas café só tinha no bar ao lado. Fazer o quê, mestre?

O Boletim

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