24 de abril de 2024
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Ave, globais, Ignorantus te salutant

Temos um real motivo para nos orgulharmos do Brasil. Nossos atores (e atrizes, antes que as feministas reclamem) são os únicos multifacetados do universo. Além de comporem, com extraordinário talento e rigorosa precisão, qualquer personagem em qualquer idioma – dizem, não confirmo, que o Wagner Moura está estudando russo para interpretar Joseph Stalin, sem absolutamente nenhum sotaque, numa superprodução norte-coreana -, eles também jogam em todas as posições e são pós-PHDs nos mais variados assuntos. Do alfinete ao foguete, nossos artistas sabem tudo e são capazes de apresentar extraordinárias soluções para os mais intrincados problemas.

Cientistas políticos renomados, apesar de só conhecerem Karl Marx de ouvir falar; adoradores de Noam Chomsky por ignorarem a crítica demolidora que ele fez a Lênin e ao marxismo;  psiquiatras competentes e sensíveis, que acham lindo o título do livro Totem e Tabu, mas acreditam que o texto estuda as alegorias das escolas de samba do carnaval carioca, os artistas brasileiros estão ofendidos porque o prefeito de São Paulo resolveu fechar a cracolândia – um triste lugar de degradação humana – sem consultá-los. Também estou chocada, é muita pretensão do senhor Dória tomar decisão de tal magnitude sem ouvir a opinião dos nossos hiperqualificados atores e atrizes.
Nada neste país pode acontecer ou dar certo sem o transcendental pitaco dos luminares que atuam nas novelinhas da Rede Globo, compõem sem ler pauta ou levam ao palco um Hamlet com alma de capitão Nascimento. Não gosto de me exibir. Mas, meses depois de ver a montagem do nosso Hamlet histérico, assisti outro espetáculo, em Londres, em que o ator dominou o papel com extraordinária elegância. Não suou uma gota, enquanto o nosso saiu de cena com jeitão de trabalhador braçal em dia de sol inclemente. Sim, o ar refrigerado do teatro estava funcionando muito bem.
Não alongarei a conversa. Só quero louvar as inigualáveis mentes da intelectualidade mundial: as estrelas nacionais. Queria também recomendar à prefeitura da cidade de São Paulo que não ouse fechar a cracolândia escutando apenas a opinião de médicos, psicólogos e assistentes sociais. Enfim, acreditando nessa gentinha que tem mania de se meter em tudo e não entende nada de compulsão, vício ou outras atitudes inconscientes.  Os gênios globais já se colocaram à disposição. O prefeito Dória está esperando o quê para recebê-los?
Nós, os brasileiros, convivemos com os mais sofisticados pensadores do mundo contemporâneo. Não custa atentar a opinião deles sobre a cracolândia, sobre a combalida democracia nacional, sobre os fungos que atacaram as flores da ilha de Madagascar.
Reverencio-me diante de vós e de vossa inigualável sapiência, oh, artistas do Brasil.
Com todo o respeito, vós sois phoda.

O Boletim

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