13 de outubro de 2024
Sergio Vaz

Crônica da eleição do horror (5)

O PT se dizer bastião da democracia agride a verdade e a inteligência.
“Com o PT a democracia sempre esteve em risco”
Sejamos claros e diretos: o PT se passar por bastião da democracia é uma desfaçatez sem tamanho, uma agressão à verdade dos fatos e à inteligência dos brasileiros.
Jair Bolsonaro é tudo o que de pior pode haver. É inteiramente despreparado, jamais exerceu qualquer cargo executivo – o político que mais se parecia com ele, em eleições passadas, Fernando Collor de Mello, ao menos já havia sido governador de Alagoas. É ignorante, tosco, grosseiro, racista, homofóbico, machista, misógino – e não cansa de elogiar a ditadura e os que na ditadura torturavam opositores.
Mas o PT se dizer bastião da democracia é o absurdo absoluto.
Editorial do Estadão desta sexta-feira destrincha isso com competência:
“Com o PT a democracia sempre esteve em risco. Basta ver que, no momento em que Lula ocupava a Presidência da República e o partido desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa, comprando parlamentares por meio do esquema que depois ficaria conhecido como mensalão. Mesmo após a confirmação do caso, o PT não fez nenhuma autocrítica. Os petistas nunca pediram desculpas à população brasileira por terem desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo – sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares.”
(A íntegra do editorial está mais abaixo.)
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Canto chorado, choro cantado
O que dá pra rir dá pra chorar, diz o samba do mestre Billy Blanco. Às vezes o que dá pra chorar dá pra rir.
Como, por exemplo, neste trecho de entrevista de Kátia Abreu, candidata a vice na chapa de Ciro Gomes, pelo PDT, na quinta-feira, 11/10, ao repórter Bruno Góes, de O Globo: “Haddad seria um governo Dilma 2, piorado”.
Aí a amiga pessoal e ex-ministra de Dilma Rousseff, o estrupício, deve ter percebido que tinha falado asneira, quer dizer, verdade, porém uma verdade que ela não deveria falar. E então emendou rapidinho: “O que piorou a vida de Dilma foi a conspiração do vice.”
Segundo o pensamento vivo de Kátia Abreu, o governo Dilma 2 foi um horror, mas por causa da conspiração do vice. Que poder tinha esse Michel Temer, meu Deus do céu e terra!
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Mas não é só Kátia Abreu, adversária do PT no primeiro turno, que diz que o PT é ruim. O próprio Jaques Wagner, um dos petistas mais ilustres hoje em dia, recém-eleito senador pela Bahia, disse na quinta, depois de fazer mais uma visita de beija-mão ao babalorixá do partido, no prédio da Polícia Federal em Curitiba:
“No primeiro turno você escolhe o seu. No segundo turno. Escolhe o menos pior. Não há dúvidas de que tanto o candidato Fernando Haddad quanto o PT são muito menos piores.”
Jaques Wagner também esclareceu para o povo brasileiro que, no encontro com o presidiário em Curitiba, este pediu (ele mandou, exigiu, como fazem os chefões, mas Jaques Wagner usou o verbo pedir) que a campanha neste segundo turno ressalte que o PT respeita a democracia e as instituições, “com seus acertos e com seus erros”.
Acertos e erros delas, a democracia e as instituições, certamente, porque o PT jamais errou, na visão do babalorixá de Garanhuns.
O que dá pra chorar dá pra rir?
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Fora dos debates por estratégia
“Jair Bolsonaro admite faltar a debates por estratégia”, titulou O Globo nesta sexta.
É forçoso admitir que o sujeito tem motivos reais para não participar de um compromisso que exige que ele fique duas horas, duas horas e tanto diante das câmaras de TV. Afinal, fez uma colostomia.
Mas é claro, é óbvio que Bolsonaro vai se aproveitar o tanto que for possível do fato de estar ainda se recuperando do absurdo atentado que sofreu. Nesta quinta ele mesmo admitiu isso, com quase todas as letras. Em resposta a pergunta sobre a possibilidade de faltar aos debates, respondeu: “Existe a possibilidade, sim, por estratégia”.
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Pela primeira vez, o MDB na oposição
Uma novidade bombástica: o presidente nacional do MDB, o senador não reeleito Romero Jucá, anunciou na quinta que o MDB estará fora da base do governo a partir de 2019 – seja ele um governo do Bolsonaro, seja de Haddad.
Será a primeira vez, desde a redemocratização, em 1985, que o (P)MDB estará fora do governo.
O próprio Romero Jucá havia conseguido a proeza de ser aliado dos governos de Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer.
Pela primeira vez desde a redemocratização, vem aí um governo que não poderá usar como desculpa para seus erros o fato de estar coligado ou aliado ao MDB.
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O PT com as cores dos coxinhas

Uma coisa é preciso reconhecer: o PT tem uma capacidade incrível, fantástica, inacreditável, de ser coerente com o princípio da incoerência.
Como diz Merval Pereira na coluna desta sexta-feira em O Globo:
“É interessante notar que desde 2013, quando das manifestações populares difusas contra ‘tudo o que está aí’, e depois nas passeatas a favor do impeachment de Dilma, os manifestantes que usavam o verde e amarelo, geralmente com a camisa da seleção brasileira de futebol, eram ridiculamente acusados pelos petistas de serem ‘coxinhas’ coniventes com a corrupção da CBF.
“Agora, os cartazes do petismo que quer se esconder mostram moças e rapazes com a camisa da seleção, com a mão no peito em sinal de respeito, e olhando para o horizonte, dignos do realismo socialista do tempo de Stalin na União Soviética. E o desaparecimento da figura de Lula dos cartazes lembra muito o hábito stanilista de apagar das fotos os que caiam em desgraça no regime comunista, muito antes de aparecer o photoshop.”
(Não encontrei o nome do autor dessa bela arte aí acima. Infelizmente ficará sem o devido crédito.)
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“Tão opostos e tão parecidos”
Em artigo em O Globo desta sexta, Eduardo Affonso realça as semelhanças entre os dois candidatos, o de esquerda e o de direita:
“Entre o sujeito que defende uma ditadura e o que defende várias, a diferença é quantitativa — em essência, nenhum dos dois tem grande apreço por valores democráticos. Ambos tinham planos, até outro dia, de mandar redigir uma nova Constituição, sob medida para o seu projeto político. O que variava era essa aberração ser ‘popular’ ou assinada por uma ‘comissão de notáveis’. E há os vices (ah, os vices!), escolhidos a dedo para nos deixar em sobressalto com o fantasma de um impítimã, já que um aventa a hipótese de autogolpe e a outra conclama a ‘ir para cima, com o nosso amor, com a nossa hipocrisia’.”
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Mais um engodo petista
O Estado de S.Paulo, editorial, 12/10/2018
O PT planeja lançar uma “frente democrática” no segundo turno, em defesa da candidatura do preposto do presidiário Lula da Silva, Fernando Haddad. Sob a coordenação de Jaques Wagner, a legenda tenta pregar mais uma peça na população brasileira, dizendo que o PT pode ser o bastião da democracia ante o avanço da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL).
Com o PT a democracia sempre esteve em risco. Basta ver que, no momento em que Lula ocupava a Presidência da República e o partido desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa, comprando parlamentares por meio do esquema que depois ficaria conhecido como mensalão. Mesmo após a confirmação do caso, o PT não fez nenhuma autocrítica. Os petistas nunca pediram desculpas à população brasileira por terem desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo – sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares.
Não satisfeito com o mensalão, o PT instalou outro esquema de corrupção do sistema político, o petrolão, com o uso das estatais para intermediar a compra de apoio político em troca de benesses econômicas. Além de os valores desviados das empresas públicas terem atingido cifras até então inauditas – o escândalo do mensalão ficou parecendo manobra de principiante –, o petrolão representou um novo grau de subversão do poder. Era a apropriação de todo o aparato do Estado por parte de uma causa político-partidária. Evidentemente, esse cenário não é compatível com o que se espera de uma democracia pujante.
Nos últimos tempos, o PT voltou a mostrar seu desprezo pelas instituições republicanas. A legenda instalou uma autêntica cruzada contra o Poder Judiciário, simplesmente porque várias instâncias da Justiça entenderam que Lula da Silva também devia estar submetido ao regime da lei. A absoluta evidência de que o ex-presidente petista pôde exercer um amplíssimo direito de defesa não foi motivo para que o PT interrompesse suas imprecações contra o Judiciário. Seguiram com sua infantil postulação de que todo o Estado Democrático de Direito deveria se curvar ao grande líder. Nos regimes admirados pelos petistas, o Judiciário não tem a audácia de condenar líderes populares por corrupção e lavagem de dinheiro.
Neste ano, Lula da Silva e seu séquito fizeram de tudo para desrespeitar as regras eleitorais, com uma massiva campanha de desinformação, pregando que, se o demiurgo de Garanhuns não pudesse se candidatar, a eleição seria uma fraude. “Eleição sem Lula é golpe”, repetiram por todo o País. Sem nenhum apreço pelo princípio da igualdade de todos perante a lei, a fantasiosa argumentação era um descarado pedido de privilégio para o sr. Lula da Silva. Segundo os petistas, a Lei da Ficha Limpa não podia ser aplicada ao grande líder.
E para que não pairasse nenhuma dúvida de que continua havendo nas hostes petistas uma profunda ojeriza pelos princípios democráticos, o programa de governo do candidato Fernando Haddad foi talhado nos moldes do modelo bolivariano. Sem cerimônia, o PT prega um “novo processo constituinte: a soberania popular em grau máximo para a refundação democrática e o desenvolvimento do País”. A legenda promete subverter a democracia representativa. Além de instalar conselhos populares, ela quer “expandir para o presidente da República e para a iniciativa popular a prerrogativa de propor a convocação de plebiscitos e referendos”. Também fala abertamente em “instituir medidas para estimular a participação e o controle social em todos os Poderes da União e no Ministério Público”. Para coroar suas pretensões autoritárias, os petistas mencionam a necessidade de um “novo marco regulatório da comunicação social eletrônica”. A atual liberdade tem incomodado suas pretensões autoritárias.
Quando o PT pede votos em favor de Fernando Haddad, que seria o campeão da defesa democrática do País, falta-lhe credibilidade. O passado e o presente o desmentem.

O Boletim

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