Em meio à pandemia, o governo faz todos os esforços para atrapalhar.
Jair Bolsonaro chama a COVID-19 de gripezinha. Não passa semana sem que vá contra as recomendações de todas as autoridades de saúde do mundo e se junte a aglomerações, e saia cumprimentando as pessoas, entre uma passada de mão pelo nariz e outra. Luta diariamente contra as medidas de distanciamento social, as únicas que podem minorar a disseminação da pandemia.
Mas isso não é o pior que seu governo faz diante da maior tragédia sanitária que o mundo já experimentou nos últimos 100 anos.
Toda essa palhaçada de Bolsonaro ir para o meio de seus fanáticos diante do Palácio do Planalto – até mesmo em cima de um cavalo, ele, a cavalgadura –, toda essa pantomima de ir a padarias, a lojas, de provocar aglomerações, tudo isso é um absoluto horror. Não apenas é um espetáculo desprezível, nojento, como é também o exemplo de tudo o que um chefe de Estado não deveria fazer no meio de uma desgraça como esta que se abate sobre o planeta.
Mas isso não é o pior.
Nem sequer toda a histeria de Bolsonaro sobre a tal da cloroquina, sua insistência em que essa substância pode ser a panaceia mundial contra a pandemia é o pior.
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Há várias semanas Bolsonaro vem expondo o Brasil ao ridículo para a opinião pública mundial. Há várias semanas os mais diversos jornais e revistas dos mais diferentes países vêm mostrando o presidente brasileiro como um despreparado, uma figura grotesca, que se destaca entre todos os líderes do mundo como um dos mais desvairados no enfrentamento da pandemia – comparável apenas ao folclórico ditador da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, que recomenda à população que beba vodca e vá à sauna para combater o coronavírus.
Mas isso não é o pior.
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Nesta semana, os números foram mostrando cada vez mais a absurda extensão da tragédia da pandemia no Brasil. A cada dia o recorde de mortes vem sendo batido. Foram terríveis 1.349 mortos registradas na quarta-feira, dia 3/6, recorde absoluto até então – mas que seria batido no dia seguinte, a quinta, 4/6, com apavorantes 1,.473 mortes em 24 horas.
No dia 16 de maio o país já havia ultrapassado Itália e Espanha e se tornado o quarto com maior número de casos de infectados – eram, então, 233.142.
Agora, nesta semana, o país ultrapassou a Espanha e logo em seguida a Itália, e se tornou o terceiro país com mais mortes pela doença, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. E, com 34.021 mortos até a quinta-feira, 4/6, contra 39.987 do Reino Unido, está bem perto de chegar ao segundo lugar.
No quesito número de infectados, o Brasil já passou Itália, Espanha, Reino Unido e Rússia e está em segundo lugar, com 614.941 até a quinta, dia 4.
O governo Bolsonaro reagiu adiando a divulgação do número de novos casos e novas mortes diárias para as 22 horas, como forma de evitar a divulgação das estatísticas pavorosas nos telejornais da noite.
A decisão de adiar a divulgação dos boletins diários partiu diretamente do presidente da República, segundo mostrou reportagem de Renato Souza no site do jornal Correio Braziliense, nesta sexta-feira, 5/6. “De acordo com uma fonte no alto escalão do governo, a decisão é permanente e, a partir de agora, a divulgação será apenas às 22 horas. A estratégia da Presidência é evitar que os dados estejam disponíveis no horário dos telejornais noturnos, período em que as televisões têm maior audiência, pois muitos dos brasileiros estão em casa. Mesmo sem anúncio oficial, a ordem foi dada para que os dados sejam enviados à imprensa apenas no final da noite, mesmo que estejam prontos às 19 horas.”
Mais de mil mortes por dia? “Lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”, reage o presidente.
Mas isso não é o pior.
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Diante do aumento brutal do número de infectados e de mortes pela COVID-19 entre nós, o presidente dos Estados Unidos e ídolo de Jair Bolsonaro, Donald Trump, afirmou que, se seu país tivesse agido como o Brasil e a Suécia no enfrentamento da pandemia, os EUA “teriam perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez 2,5 milhões ou até mais”.
Eis a frase do político que é tido por Bolsonaro como seu grande aliado no cenário internacional: “Se você olha para o Brasil, eles estão num momento bem difícil. E, falando nisso, continuam falando da Suécia. Voltou a assombrar a Suécia. A Suécia também está passando por dificuldades terríveis. Se tivéssemos agido assim, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez 2,5 milhões ou até mais.”
Esta é a única verdade que Donald Trump falou nos últimos muitos anos.
Mas isso não é o pior.
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O pior não são os gestos, as palhaçadas, as idiotices que Bolsonaro faz ou fala. É o que o seu governo de fato faz para enfrentar a pandemia – e o que não faz.
Não são os gestos, as palavras. São as ações – e as omissões.
Além de ter demitido dois ministros da Saúde em plena pandemia, além de ter colocado um general como ministro interino e preenchido dezenas de cargos técnicos do Ministério com militares, o governo simplesmente não põe dinheiro nas ações de combate à doença.
Muito ao contrário: sonega os recursos aos Estados e aos municípios.
E asfixia o Sistema Único de Saúde.
Diz o jornal O Globo em editorial desta sexta, dia 5:
”É chocante, mas os dados do Tesouro expõem a decisão do Palácio do Planalto de não dar prioridade, em plena pandemia, à execução orçamentária do Sistema Único de Saúde: até a primeira quinzena de maio, foram pagos apenas R$ 8 bilhões — 42% dos R$ 18,9 bilhões de despesas lançadas na rubrica ‘Enfrentamento da Emergência de Saúde’ .
“Análise dessa fonte de custeio das ações sanitárias para a Covid-19 indica que o governo resolveu não aumentar o financiamento do SUS de forma direta, como seria esperado na calamidade. Ao contrário, preferiu subtrair R$ 5,7 bilhões do orçamento da Saúde, num remanejamento de verbas que só aumentou a asfixia de um sistema já combalido.”
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Os que são contra a abertura de um processo de impeachment do presidente argumentam que este é procedimento longo, doloroso. Que seria terrível para o país enfrentar o processo justamente em meio à pandemia.
Sem dúvida é um procedimento longo, doloroso. Mas é melhor deixar que esse ser desqualificado, despreparado, despótico, incompetente, e desumano, sem simpatia alguma pelos demais, sem piedade alguma, continue desgovernando o país impunemente?
Não há dúvida alguma: sem Bolsonaro, o país estaria em condições muitíssimos melhores para enfrentar a pandemia – e também a recessão que vem e virá com ela, e a necessidade de se reconstruir a economia.
Não há nada pior do que Bolsonaro.
Qualquer coisa sem Bolsonaro é melhor para o país.
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Governo precisa explicar gasto ínfimo para a Saúde na pandemia
Editorial, O Globo, 5/6/2020
Vai ser difícil ao governo Jair Bolsonaro justificar ao Judiciário, ao Congresso e ao Ministério Público Federal a asfixia financeira que impôs ao Sistema Único de Saúde em meio à pandemia que já matou pelo menos 32 mil pessoas.
Há 18 semanas o Congresso reconheceu a situação de calamidade, pela disseminação do vírus, e autorizou o governo federal a ativar o regime de exceções para gastos previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Na sequência, o Supremo Tribunal Federal deu o amparo jurídico requerido pelo governo, convalidando o caráter extraordinário para resposta rápida e abrangente na Saúde.
Constata-se uma diferença abissal entre os anúncios feitos pelo governo e os investimentos realizados na Saúde em 75 dias de catástrofe.
É chocante, mas os dados do Tesouro expõem a decisão do Palácio do Planalto de não dar prioridade, em plena pandemia, à execução orçamentária do Sistema Único de Saúde: até a primeira quinzena de maio, foram pagos apenas R$ 8 bilhões — 42% dos R$ 18,9 bilhões de despesas lançadas na rubrica “Enfrentamento da Emergência de Saúde” .
Análise dessa fonte de custeio das ações sanitárias para a Covid-19 indica que o governo resolveu não aumentar o financiamento do SUS de forma direta, como seria esperado na calamidade. Ao contrário, preferiu subtrair R$ 5,7 bilhões do orçamento da Saúde, num remanejamento de verbas que só aumentou a asfixia de um sistema já combalido.
A partir de indícios exibidos em estudo do economista José Roberto Afonso e da procuradora Élida Graziane Pinto, o Ministério Público Federal decidiu abrir inquérito para “averiguar as razões pelas quais a União não vem se utilizando, até o momento, das verbas disponibilizadas” e, também, “por que motivo os repasses a estados e municípios têm aparentemente sofrido retenção”.
5/6/2020.
Um lembrete: esta série de textos e compilações “Fora, Bolsonaro” não tem periodicidade fixa.
Os fanáticos aplaudem, é claro. Mas a exibição do circo de horrores enfraquece Bolsonaro. (19)
Para presidente criminoso, impeachment. (18)
Não adianta apelar para o bom senso – ele não sabe o que é isso. É preciso pôr para fora. (17)
É sempre importante lembrar: os alemães acharam que um doido varrido não iria longe. (16)
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