15 de março de 2025
Ligia Cruz

The day after

A América deu novamente um passo importante ao restabelecer os princípios e igualdades sociais como reza sua constituição, promulgada em 1787.

A posse de Donald Trump, como o 47° presidente dos Estados Unidos, em seu segundo mandato, assinala o fim da guerra midiática global, tramada nos subterrâneos de seu próprio país. O chamado “deep state”. Ele voltou para desintoxicar o país de tantas decisões equivocadas tomadas na gestão De Joe Biden.

Acabou o tempo em que os reis das redes sociais se curvaram ao sistema, cumprindo os ditames dos dominadores globais. A ideologia woke está moribunda, com a desistência de empresas âncoras do mercado de continuarem defendendo pautas segregacionistas e agora, com a posse de Trump, será enterrada. Acabou, pelo menos na América.

Os quatro principais representantes dessas redes estavam pareados e aliviados na posse do novo presidente, entre sorrisos, e certamente trocando impressões sobre os rumos e tendências do mercado, até porque, um dos colegas dentre eles tem cargo no poder: Elon Musk, o dono do X.

A principal notícia é: a censura acabou e a liberdade de expressão foi restabelecida para os cidadãos. Chega de mordaça. Agora eles podem gerir suas empresas sem ter que pagar para agências de checagem e seguir cartilhas identitárias, de gênero e de raça.

Cada cidadão que ocupe sua própria lacuna na estrutura social e lute por seus interesses. O estado não vai mais se ocupar disso. Com uma única ressalva: trabalhador federal só tem dois gêneros, masculino e feminino e isso vale para todo país, no governo Trump. Acabou também a mamata do home office dos tempos da covid-19. Todo mundo volta a trabalhar normalmente.

Logo no primeiro dia de governo, durante a solenidade de posse, Trump assinou uma série de medidas, revogou decretos do governo Biden, assinou 80 novos, que entraram em vigor de imediato. A maioria dos quais relacionados à imigração e economia.

Um dos decretos mais comemorados foi o indulto presidencial aos 1.500 condenados no episódio da invasão do Capitólio, em 2021, quando manifestantes se rebelaram contra a vitória de Joe Biden nas eleições.

Olhando pelo prisma de Trump, o cenário é muito claro: é imperativo estancar a sangria de impostos sobre a população, adotar medidas de enxugamento da máquina pública e impor maior competitividade para os produtos americanos, com o intuito de manter a primeira posição no ranking das maiores economias do mundo. Será um verdadeiro choque de gestão.

A primeira medida neste sentido foi a saída dos Estados Unidos da OMS (Organização Mundial da Saúde). Com isso o governo deixa de gastar US$ 500 milhões por ano, para nutrir de modo desigual com pesados recursos à entidade. Outra decisão foi a de se retirar também do Clube de Paris, que já havia feito e o governo Biden retornou. Ele acredita que os princípios da entidade são contrários aos interesses dos americanos.

“We make America great again”

Para escalar no ranking mundial com vantagem, será necessário mexer em todas as peças do tabuleiro. E Trump é protecionista.
Ele enfatizou a importância de prestigiar as empresas americanas e taxar os países que não facilitarem acordos bilaterais interessantes para o país. Como dinheiro não tem ideologia, o que for atrativo será estudado.

Tudo leva a crer que ele adotará uma postura muito mais analítica sobre todos os aspectos, em relação à gestão anterior.
E certamente não vai facilitar as coisas para a China, que corre pelos flancos e vem investindo pesadamente em economias do terceiro mundo, principalmente nas que precisam de obras estruturais, que permitam levar seus produtos mais longe.

Alguns analistas acreditam que Trump vai adotar uma política isolacionista e tudo indica que sim. Mas isso também é perigoso para a balança comercial e ele sabe disso. Então é possível que Trump faça o que mais sabe e gosta: negociar. Tanto ele quanto Musk sabem como “fazer dinheiro”, sem imprimir.

Um dos pontos mais polêmicos da nova gestão é o de fechar suas fronteiras para os vizinhos – Canadá e México –, para evitar o ingresso de drogas e imigrantes ilegais no país.

A política migratória consome recursos volumosos que poderiam ser revertidos em benefícios para o cidadão americano.
Além disso, ele aumentou as penas e deportações e revogou o direito de nascença de bebês em solo americano, filhos de pais ilegais. Todos serão deportados. Ademais, ele não desistiu de construir um muro na divisa com o México, considerado por ele um narcoestado, de onde advém muitos dos problemas em solo americano. Mas isso depende de aprovação no congresso.

Geopolítica do Ártico

Para manter a hegemonia norte-americana como a nação mais forte do globo, uma possível expansão territorial viria a calhar. Por essa razão, dias atrás ele fez uma provocação à Groenlândia. O país busca sua autonomia, para sair do controle do reino da Dinamarca e dar um salto econômico. Se isso se tornar realidade, os Estados Unidos passam a controlar a geopolítica do Atlântico Norte, fechando a passagem da Rússia e da China pelo Ártico. Um golpe de mestre.

A gestão americana na Groenlândia possibilitaria a exploração de recursos minerais e naturais, além da segurança contra invasões e ataques futuros. E para a América seria mais um posto avançado o Atlântico.

Trump deixou claro em seu discurso que suas prioridades são os assuntos americanos. Portanto, quem acredita que Trump tem um projeto de salvação para os outros países , pode “tirar o cavalinho da chuva”, como se diz. E isso vale para os brasileiros. Ele certamente diria: “the Brazil is not my business”.

Muito embora tenha um apreço por Jair Bolsonaro, mais por afinidade ideológica, isso não inclui uma interferência aqui, muito embora o governo Biden tenha interferido efetivamente nos rumos da política brasileira, definindo quem deveria se sentar na presidência e quem seria o xerife. Tudo para tirar o Brasil do páreo como mercado competidor, num sistema de serventia, sem direito a reclamar.

Lógico que os envolvidos na tramoia lucraram, como tudo o que envolve o PT. Não se sabe o quanto. Desse modo foi mais “convincente” implantar a ideologia woke e o projeto de censura no Brasil.

O fato é que os EUA puseram a esquerda retrógrada mais vil aqui porque os donos do mundo sabem que, para se recuperar do caos, o Brasil precisará de mais 30 anos e um verdadeiro choque de ortodoxia na economia. Durante esse tempo não atrapalhará os seus planos de poder porque estará mergulhado nos próprios problemas e dependente.

George Soros tem “sócios” no Brasil há muito tempo e irriga com milhões de dólares empresas nacionais de mídia, ongs e outras. São agentes infiltrados no tecido social do país, impondo suas políticas e regras. Principalmente impedindo que o Brasil explore suas riquezas naturais e minerais. E não se enganem: não há um único preservacionista, nem patriota no governo Lula, nem na militância.

Talvez, moralmente, Trump devesse fazer alguma coisa, afinal foi o estado americano que se meteu aqui. Então, vamos aguardar, mas sentados.

Enquanto isso, quem efetivamente pode interferir, impondo medidas restritivas a brasileiros envolvidos na implantação ditatorial no Brasil será o parlamento americano.

Maria Elvira Salazar, membro da câmara americana dos deputados, chefiará o subcomitê de assuntos ocidentais na Comissão de Relações Exteriores do Congresso e tem acompanhado par e passo os excessos cometidos aqui pela corte suprema, com relação às prisões ilegais, à censura e à privação da liberdade de expressão e todos os tipos de abusos. Sua intenção é cassar o visto de entrada dos implicados em território americano.

Donald Trump não vai facilitar a vida para países com regimes autoritários da América Latina. Isso ele deixou claro. Tanto que, Lula sequer foi convidado para a sua posse, como outros da vizinhança.

Um seleto grupo de chefes de estado compareceu, entre eles o argentino Javier Milei, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, o salvadorenho Nayib Bukele e o equatoriano Daniel Noboa. Bolsonaro, mesmo sendo ex-presidente, recebeu convite, mas foi impedido de viajar pelo STF e se fez representar por sua esposa Michelle.

Disposto a dificultar para regimes autoritários na América também, Trump revogou o decreto de Biden que retirou Cuba da lista de países patrocinadores de terrorismo. Pedido que Lula havia feito ao ex-presidente, pessoalmente.

No dia da posse, meio a contragosto, Lula fez um pronunciamento chinfrim dizendo que os EUA e o Brasil são parceiros de longa data, que não tem nada contra ninguém e que quer paz. Isso depois de muitas vezes chamar Trump de nazist@. Típico de arregão, que foge da briga quando vê no que se meteu. Tarde de mais.

Mas essas fofocas regionais são enfadonhas para magnatas do calibre de Trump e Elon Musk. Para eles essa novela de maldades latinas são um tédio. As de lá são mais picantes.

O Brasil é grande, mas é infantil demais no jogo geopolítico. Haverá consequências, se meter os pés pelas mãos novamente e der guarida para navios iranianos, chineses e russos em nossa costa.

Prova disso, foi o embaraço criado com o Panamá, que anda recebendo investimentos da China no Canal. Trump ficou picado com o fato, pois foram os EUA que construíram essa passagem entre os oceanos Pacífico e Atlântico. E estamos falando de um chefe de estado nacionalista e conservador.

Mas há uma diferença conceitual nesse âmbito, que coloca a China e os Estados Unidos mais uma vez em lados opostos. Nos Estados Unidos vigora a economia de mercado, ou seja, quem investe é a iniciativa privada. Na China, não há isso; é o capitalismo de estado que manda . Portanto, a chance do governo americano investir em melhorias no Canal do Panamá é praticamente zero. A China tem muito dinheiro para gastar e não presta contas a ninguém e continuará fazendo essas investidas mundo afora para ampliar territórios, de um modo diferente.

Certamente, Trump fará algumas exigências, mas não poderá interferir na soberania panamenha e nem na empresa que administra o Canal.

Conflitos futuros

A briga com a China merece um capítulo à parte, pois envolve as duas maiores economias do mundo. Mas o que todos querem saber é o que vai acontecer se a China invadir Taiwan. Aí sim haverá guerra, que poderá escalar para um conflito mundial. Uma hora isso vai acontecer, a questão é quando.

Mas Trump tem um viés pacificador e provavelmente não injetará recursos em guerras alheias. Não se pode esquecer que na gestão passada ele visitou a Coréia do Norte e foi o único presidente americano a ficar frente a frente com o facínora Kin Jong-un. E foi tudo bem. Trump é um sujeito pragmático.

À essa altura, Vladimir Zelensky deve estar muito preocupado porque Trump não é Biden, que se rendia à sua choradeira. Os recursos para as defesas de suas fronteiras com a Rússia podem minguar. Mas aí reside um paradigma: Trump vai deixar Vladimir Putin anexar a Ucrânia? Do ponto de vista geopolítico é catastrófico. Resta saber que cartas estarão na mesa no “day after” à posse e que conselhos receberá de suas forças armadas para encarar essa ou aquela contenda. A Otan é uma força presente, mas a Ucrânia não é signatária e não foi aceita.

E também não parece que Trump se comova com as trapalhadas dos governos europeus. Não haverá nenhuma salvaguarda financeira, nenhum “Plano Marshall”, pois quem assumiu políticas equivocadas e se abriu à migração desenfreada foram os próprios europeus. Agora que lidem com sua crises econômicas, seus abismos sociais e culturais.

Mas, por outro lado, a indústria bélica norte-americana vive dos conflitos mundiais. Então não sejamos ingênuos em acreditar que um setor tão forte, que fatura acima de US$ 600 bilhões ao ano e é responsável por 45% das exportações de armas no mundo, não tenha um lobby poderoso para defender seu quinhão. Aqui e ali haverá a presença norte-americana que, tradicionalmente, oferece recursos aos seus parceiros e democracias tradicionais. Como é o caso de Israel, o maior cliente.

Trump afirmou também que irá perfurar poços de petróleo com o intuito de diminuir a dependência dos países árabes, que endureceram com Biden por conta da atabalhoada política internacional. Especialmente com as monarquias. Além do mais, em 2019, quando o Irã atacou a Arábia Saudita, Trump não se posicionou em sua defesa.

Por outro lado, se os EUA aumentarem a produção de petróleo vai abalar a economia dos países do Oriente Médio. A geopolítica nesse pedaço de mundo é complexa e os Estados Unidos são uma peca chave nesse jogo.

Diferente de Joe Biden que atuou como arroz de festa – e no último dia livrou a cara de todos os seus familiares envolvidos em corrupção em seu governo – Donald Trump sabe que talvez sua última oportunidade de deixar seu nome entre os mais ilustres da história americana. E ele aposta que Elon Musk tenha razão sobre povoar Marte. O planeta vermelho será um exemplo do “hard power” dos Estados Unidos, sob a batuta de Trump.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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