14 de outubro de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Superman não é gay

No Brasil de hoje tudo pode acontecer de um dia para o outro e tomar proporções dramáticas.

Maurício Souza, jogador de vôlei do Minas Tênis Clube, foi pego em uma dessas ciladas ao fazer um comentário sobre o “Superman gay” que  surgiu nas redes sociais, beijando na boca um outro menino.

O comentário foi o seguinte: “ah é só um desenho, não é nada de mais. Vai nessa que vai ver onde vai parar”. O que se seguiu lembra um verdadeiro tribunal de inquisição, com acusação e sentença por crime de homofobia.

À primeira vista, qualquer um que não integre o grupo de pessoas “homoafetivas”, principalmente as mais velhas, dos anos 1940/50, conheceram o super herói do HQ como um personagem viril, macho, apaixonado pela Lois Lane, que escondia sua verdadeira identidade, através do tímido repórter Clark Kent. Àquela altura do tempo o mercado consumidor de gibis era mais conservador mesmo. E os personagens, em sua maioria, eram masculinos. Com ressalva para um suposto envolvimento entre Batman e Robin.

O fato é que o que o atleta escreveu foi enquadrado em um contexto homofóbico e reverberado pelo colega de seleção brasileira, Douglas, que nestas últimas Olimpíadas revelou sua condição de homossexual. Ato heroico para o grupo de pessoas LGBTQIA+. Quantos mais tomarem decisões neste sentido, melhor para eliminar os estigmas impostos à pessoas que mantém relacionamentos afetivos com outras do mesmo sexo.

Somado ao fato, outra pitada apimentada no tempero da trama foi a reação nas mídias sociais.  Consta que, além de homofóbico,  Maurício é Bolsonarista. Opção que tem lhe custado caro desde que admitiu  publicamente apoiar o presidente e sua proposta de governo. Um crime para a ala da esquerda, que considera o conservadorismo uma aberração.

Imagem: Google Imagens – TV Cultura – UOL (meramente ilustrativa)

A celeuma teria ficado em mais um bate-boca trivial se os apoiadores do Minas Tênis Clube, Fiat e Gerdau, não tivessem tomado partido e pedido a cabeça do jogador. Maurício foi demitido do clube e, para completar, o técnico da seleção brasileira Renan Dalzotto, o excluiu do time também. 

Nem Lex Luthor, o inimigo mais sagaz do Superman lhe mandaria uma kriptonita tão destrutiva. Acabou com a carreira esportiva do atleta.

Na sequência, os admiradores do jogador e público em geral se dividiram nas opiniões contra e a favor. A conta do Instagram de Maurício, em um dia, atingiu a marca de 800 mil seguidores.

Mas é assim que a banda toca neste país. O crime de opinião existe na informalidade e afeta qualquer cidadão que não se enquadre na agenda da esquerda, de acordo com o  PL 122/21, que abrange a homofobia junto com mais uma série de crimes que não têm uma legislação específica.

Mas valem os impunes xingamentos desabonadores que Maurício tem recebido. Todos carregados com ofensas e ódio visceral.

Em nenhum momento o atleta manifestou aversão, ódio ou repulsa por com pessoas homoafetivas. O comentário banal se soma a milhares de outros trocados nas mídias sociais.

Mas ninguém está proibido de sentir ou ter afinidade com esse e aquele segmento social. É uma questão pessoal.

O personagem gay, segundo seguidores do DC Comics, na verdade é filho do Superman com Lois Lane, Jon Kent, bissexual. Na verdade, está em curso no país uma agenda heterofóbica e racista.

Os excessos foram invertidos, o que não ajuda a sociedade a refletir e repensar o respeito aos valores humanos sejam quais forem.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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