26 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Quer vender? Baixe o preço

Tente não rir. A mulherada está alucinada à espera da black friday – ih não pode mais falar black, alguém vai se ofender, de acordo com o Boticário. A calculadora está quase sem bateria de tantos dedos cutucando há dias. Mas a geladeira nova e a fritadeira são desejos antigos. Demora um ano para chegar essa data, que não tem nada de apelativa, preconceituosa, é só negócio mesmo.

Pesquisando nos buscadores só preços alinhados. Que brincadeira é essa? Então é um acordo entre as grandes redes de vendas? Não há gordura para queimar porque lojão trabalha com outros índices. A margem de lucro nunca é comprometida.

O fato é que, com a pandemia e o desemprego pavoroso, o brasileiro não tem para onde correr. Se sobrar 10 reais, já vai para o porquinho feliz para juntar e comprar uma panela de pressão nova, acima de 100. O colchão novo, acima de 1000. O jeito é comprar edredon no saldão para cobrir o buraco. Problema de coluna é coisa de gente fresca.

A vizinha idosinha pediu para monitorar um telefone sem fio, comprável em 12 vezes sem juros. Tudo made in China, mais barato. Ah não, pode ser coreano, a China é culpada pelo coronavírus. Ela que vá “pros quintos dos infernos”. Imperdoável.

Mas já tem um tal de “esquenta black friday” com preços baixos antecipados. Mas é tudo mentira! A Amazon está fazendo desconto surpresa todos os dias. Baixe o aplicativo e vá checando, vai que rola. Logo tem o 13° salário para o bem de poucos afortunados.

Todo mundo da família pegou o Covid-19, um tio morreu. Mal dá para comprar vitamina D, cara pra caramba! Tome sol no puxadinho, vá lagartear na praça! Não tem black friday em farmácia senão bombaria.

Na verdade, a ilusão não é de toda ruim. Se parece com “sonho” ou um mantra em que se vai repetindo palavras “quero um celular novo, quero um celular novo…” e de repente ele aparece! Na dúvida, peça a intersecção de São Judas.Tem aquele sem expectativas, que diz que não se importa, o que vier é lucro.

Já é tradição também as grandes redes de vendas aumentarem os preços 10 dias antes da última sexta-feira do mês, para depois estamparem aqueles descontos enormes, tais como os percentuais de aumentos praticados.

Na fila do pão, o senhorzinho mal consegue contar o dinheiro, tem que pedir ao rapaz de trás, pois precisa de um óculos novo que, “se Deus quiser e ele vai querer”, conseguirá comprar.

Mesmo conseguindo adquirir objetos do desejo ou da necessidade, vem a parte ruim de constatar tantas parcelas no cartão de crédito. Será que eu entro nessa? Este país é imoral.
Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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