A Força-tarefa da polícia do Rio está de parabéns pelo êxito da operação para preservar as vidas dos passageiros do ônibus sequestrado, na ponte Rio-Niterói, nas primeiras horas da manhã desta terça-feira.
Ao fim, me pareceu que os pulinhos do governador e a comemoração do sniper ao atingir o sequestrador foram mais relevantes do que o sofrimento dos 39 passageiros e motorista a bordo. Meros coadjuvantes de uma história triste como tantas nesse país sem eira nem beira.
Ameaçados por mais de três horas por um jovem de 20 anos, armado, os passageiros da linha 2520 estavam indo para os seus locais de trabalho no centro do Rio quando foram tomados por todo tipo de horror que um ato desse desperta. Pânico, medo, momentos de incerteza quanto às suas vidas, seus planos e compromissos. Inimaginável a devastação emocional dessas pessoas.
Contudo, nas redes sociais, o maior clamor foi pela vida perdida do jovem de 20 anos, totalmente desequilibrado, conforme diagnosticado pela própria equipe de negociação, presente no local. O mesmo script de sempre: jovem negro, pobre etc.
Se fosse de qualquer outra etnia o desfecho seria o mesmo. Ninguém pode tomar para si o direito sobre a vida do outro. Esse foi seu maior erro. Óbvio que a biografia do jovem não deve ser diferente daqueles que vivem à margem da sociedade, sem oportunidades, sem lar, sofrendo todos os estigmas de uma sociedade injusta.
Tudo foi feito pela polícia dentro das possibilidades para que o rapaz se entregasse. Mas isso não ocorreu. Seu comportamento não mostrava sinais de desistência. O sniper ou atirador de elite é um policial preparado para intervenções como essa, onde há risco de morte de civis. A ordem de atirar foi dada após ser esgotado o diálogo com o sequestrador. Ao mostrar-se fora do ônibus o sequestrador foi abatido com precisão. Fim para ele e para a agonia de 40 pessoas.
Isso tudo seria apenas mais um episódio triste em um país pobre, onde as pessoas estão expostas diariamente a todo tipo de violência, tanto criminosa como institucional.
Tão logo se deu o desfecho do fato, surgiu o “superman” Witzel de helicóptero comemorando de forma inapropriada o fim do sequestro.
Óbvio que ele quis assinar o êxito da polícia, aparecendo como a estrela principal. Ele teria vindo em outra consequência? Os policiais e peritos mereciam a honraria do governador, mas os pulinhos foram demais. Uma figura pública deve mostrar-se sóbria principalmente porque não há nada a comemorar em uma circunstância como essa.
É compreensível a satisfação em uma operação bem sucedida. O Rio de Janeiro precisa mais disso para sair da pauta da violência nacional, só que o homem público precisa de mais sobriedade.
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