19 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Mudar o hino ou estudar História?

Até onde vai o preconceito? Agora o hino do Rio Grande do Sul está na lupa de políticos afrodescendentes do estado.
O contexto histórico precisa ser respeitado porque a história é feita de justiça e injustiça, e é disso que o hino fala, nada a ver com a escravidão no Brasil. Sem esse contraste não haveria avanço social.

Minha descendência eslava, nome de origem polêmica na comparação com o latim, o inglês, o grego e outras línguas regionais está associado à “povo escravo”.
Os eslavos talvez sejam maioria hoje na Europa, mas nem sempre foi assim. Ainda há em nosso tempo, extrema beligerância e subjugação entre rivais, guerras violentas que a mídia não conta.
A África não é, nem nunca foi, um paraíso onde irmãos de pele se abraçam. Monarquias africanas como as de Gana, Congo, Axum, Mali, no passado, escravizaram negros de etnias rivais por serem diferentes em costumes, tradições, culturas, línguas e religiosidade e os vendiam como mercadoria. Não precisamos ir longe, quem não se recorda da carnificina em Ruanda, guerra entre hutus e tutsis, em 1994? Tem até um filme sobre esse horror.
Há muitos conflitos nas fronteiras entre países, que foram divididos, recentemente, como o Sudão e a Somália, por exemplo. Naquele caldeirão, em que todos são de pele negra, há uma infinidade de diferenças étnicas. Não só se escraviza como se tortura e mata ainda hoje.
A vergonhosa partilha do continente entre potências europeias, em 1885, só piorou o que já era ruim porque novas fronteiras foram estabelecidas, colocando lado a lado etnias rivais.
E o europeu, a grosso modo, se aproveitou disso como estratégia de dominação. Pode até ser que sem essa intromissão os africanos negros hoje fossem menos hostis. Resolvendo seus problemas sozinhos.
Mas isso é uma suposição infantil. Lá, as regras são outras. Aquela vastidão de terras, diferentes, entre savanas, florestas tropicais e os desertos do Saara e Kalahari é dividida também com grandes animais.
Vizinhos como Camarões, Guiné Equatorial, República Centro Africana, Nigéria, para mencionar alguns, principalmente, os chamados povos da floresta, nunca se bicaram e isso não vai mudar. No berço da humanidade há mais discórdias e atrocidades do que diplomacia. São 492 grupos étnicos, 36 línguas pertencentes a troncos linguísticos distintos. Diferenças que sempre pesaram quando o assunto é sobrevivência.
Vamos voltar ao passado e levantar todas as civilizações e etnias escravizadas ao longo do tempo. Vamos chegar a Adão que foi escravizado pela beleza de Eva e, por isso praticou o primeiro pecado.
Então, vamos mudar o hino gaúcho ou vamos estudar história?
Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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