20 de abril de 2024
Ligia Cruz

China vai de táxi


Se você costuma chamar táxi pelo aplicativo, cuidado! Sua viagem pode acabar em Pequim. Brincadeiras à parte, o 99 Taxis piorou muito de uns tempos para cá. Com opções de faixas diferenciadas de serviços, era possível optar pelo custo que melhor cabia no bolso com carro comum ou preto. Era bom até o carro chamado começar a parar em outro endereço. O motorista te esperando e você esperando por ele; os dois batendo cabeça, traídos pelo mapa que o aplicativo inseriu.
Após me irritar muito com as voltas que o aplicativo indicava, resolvi apurar e conversar com vários taxistas e tentar entender a confusão. Todos, pelo menos uns oito, concordaram com o desserviço do 99. Me aconselharam a cadastrar-me em outro concorrente. O Uber não é opção para mim desde que caí num golpe que não vem ao caso aqui.
A explicação veio de um motorista antenado com as questões da categoria: o 99 foi adquirido por um grupo chinês! Faz todo sentido: meu endereço sumiu do mapa! Se eu insistir no serviço tenho que caminhar uns 100 metros e ir me encontrar com o motorista em frente à casa de um vizinho. Juro que não é piada.
A questão que me intriga é: de onde vem tanto dinheiro? Todas explicações óbvias eu já tenho. A China cresce acima de 10% ao ano, a política externa é agressiva etc e tal. Mas tem muito mais aí. A filosofia do “grão em grão” cabe aqui e o massacre é grande. Ninguém cobre a capacidade de investimento deles. São pobres lá na China, vivem sob um regime opressor, mas aqui ostentam como se estivessem em Shangri-La, apesar de serem extorquidos por membros da própria pátria.
Em Santana, numa rua de grande movimentação de varejo tradicional da região Norte de São Paulo, os antigos comércios de judeus e árabes, que não sobreviveram à crise, ressurgiram como lojas chinesas de quinquilharias. Aquelas que vendem de tudo – principalmente aquilo que você não precisa mas compra. E aquelas de doces e biscoitos, de panelas e trecos agora também têm proprietários chineses. Nos endereços que estão de portas fechadas dá para ouvir serras e martelos em ação. Não me surpreenderá se o novo negócio não for deles também.
Onde está a caixa de Pandora? Os impostos que qualquer um desembolsa neste país são pagos por eles também. Só que os funcionários, em sua maioria, são da família. Gente que nem fala português direito mas topou vir para cá de atacado para atuar como se fossem um. Custos mais baixos na folha de pagamentos, preços acessíveis e negócios enxutos.
Em bairros de classe média da região central, os prédios de alto padrão estão sendo ocupados por chineses. Vez ou outra acontecem assaltos misteriosos e as somas encontradas nos apartamentos – de acordo com o que se fala na padaria, no café, no mercado, no posto – são de grande monta. Poucos deles se veem em bancos pagando taxas extorsivas. São silenciosos e investem em negócios e não em aplicações financeiras. Pelo menos é o que se deduz.
A Galeria Pagé, endereço conhecido de produtos piratas de todo tipo, após a última ação da Polícia Federal, no ano passado, foi reformada. Ainda não vi. O poderoso chefão da máfia chinesa, vulgo Law King Chong, foi preso e sumiu da mídia. Mas ele tem ramificações hierárquicas e está ativo como qualquer quadrilheiro neste país promíscuo. Do lado de dentro desta organização deve estar a resposta do novo rico paulistano, que chamamos de ching ling, mas anda de SUV blindada. A gente zoa, mas ele ri de nós em chinês. Somos sua grande sucursal.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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