18 de abril de 2024
Colunistas Junia Turra

Neste dia dos Pais, a lembrança através de uma foto e a história dela…

A “foto que mais gostaram em 2017″… Esta foto é uma das minhas favoritas. Tive a oportunidade de trabalhar com esses três grandes juízes, aliás, desembargadores. Um deles é o meu pai e eu passei o pão que o diabo amassou quando trabalhei com ele, porque ele fazia questão de exigir mais de mim.

Eu estudava Direito, passei no concurso público e fazia as audiências numa Vara Criminal com um juiz linha dura e que trabalhava mesmo. Meu pai era juiz criminal na Vara seguinte e ambos eram da mesma turma workaholic linha dura. Marcavam audiência de manhã, em expediente extra, para agilizar o andamento dos processos.

Meu pai era conhecido por fazer várias audiências ao mesmo tempo e assim requisitava funcionários. Eu fui “emprestada” algumas vezes e ia a contragosto.

Meu pai fazia sete audiências ao mesmo tempo sem perder o fio da meada. Quando chegava a minha vez, ele falava mais rápido, mas pensa numa pessoa falando rápido… E aumente a velocidade.

Mas para bom entendedor, um pingo é letra. E eu digitava mais rápido que um corisco. Eu nunca errei, porque não ia dar o braço a torcer e dizer:

  • “meritíssimo, o senhor pode repetir?”.
    Preferia a morte!
    Saía com os olhos chamuscando de iraaaaa, e encarava o meu pai que dava aquele sorriso enorme.

Eu ainda fazia o maldito curso de Jornalismo à noite, por causa da exigência do diploma inútil, era a editora do jornal da Faculdade de Direito, e colaborava com grandes jornais.

Aí fui chamada pelo Presidente da Amagis para fazer o jornal da Associação dos Magistrados.

Vai vendo…

Meu pai foi perguntar ao então presidente da Amagis, que está na foto acima, o motivo de ter me colocado na função. E ouviu dele:

  • Ora, Paulo, ela está aqui por mérito, é sua filha, não?
    Foi a resposta bem humorada do grande amigo de uma vida e juiz com todas as letras.
    Aliás esses três juízes da foto…
    Justiça seja feita, eles usavam o Direito e faziam Justiça!
    A Justiça era feita com trabalho, muito trabalho, estudo, conhecimento, talento, e correção.
    E não faz tanto tempo assim…
    São a referência a ser seguida.

Educa-se pelo exemplo.

Meu pai lindo, a minha maior referência, meu Norte, meu porto seguro.

Eu sempre tentava ser melhor como aprendiz para mostrar ao mestre que eu sabia fazer as coisas.

O único detalhe, é que eu segui o caminho que eu escolhi e isso me deu muitas dores de cabeça.

Afinal, virei jornalista, formei em Direito, mas larguei o Direito, e meu pai achava que eu poderia ser jornalista, mas escrever artigos sem largar o Direito. Ele dizia que eu daria sequência ao trabalho dele e estaria com o futuro garantido, estável, sem depender financeiramente de ninguém.

Eu não cabia naquela formalidade, naquela rotina, na mesmice…

E eu fui, cada vez fui indo embora para mais longe…

A família se aproveitou para tentar ocupar o meu espaço e quebrar o elo inquestionável entre nós.

Criaram tantas desavenças para garantir patrimônio, dinheiro, aproveitando que eu estava pelo planeta.

Não ganhei dinheiro mas ganhei o mundo… E sou referência no que faço. Isso não tem preço. Não está no diploma, não está na carteira de jornalista. Está no reconhecimento dentro da minha área. Não tenho nada mais a provar.

Recebi tantos prêmios, recebo convites, e me divirto com a inveja dos que têm a pretensão de se colocar em patamar que jamais ocuparão…

Os bons não invejam, não dividem, somam, não é mesmo?

O presente no último Dia dos Pais.

Foi num almoço do Dia dos Pais, na Roselanche, o restaurante ponto de encontro por décadas dos amigos. Lá estavam reunidos com as famílias, aquela grande família. Eu tinha saído da Europa para passar o aniversário e o Dia dos Pais com o meu pai.

Não nos víamos fazia um bom tempo e ele me pediu que fosse, ele queria me ver.

Quando entrei no Restaurante, ele disse a todos: talvez alguns aqui não a conheçam, mas vou apresentar a vocês, eu sou o pai da jornalista Junia Turra.

Bem, até ali eu sempre fui a filha do juiz, do desembargador, da família Aleixo. E por ser do contra, eu nunca usei o sobrenome de peso.

Sou turrona mesmo… Ainda que Turra, em italiano,signifique “torre”, aquele que tem a visão ampla, do alto da torre.

Naquele Dia dos Pais meu pai me deu um prêmio, o maior dos presentes, o reconhecimento dele e me disse quando eu o abracei: “tenho tanto orgulho de você, minha filha”…

No domingo seguinte, eu era um poço de lágrimas e me despedia dele que do alto das montanhas seguiu viagem… Se foi num acidente.

O Dia dos Pais sem o meu pai não tem sentido. Mas, todos os dias é dia dele, porque a minha melhor parte, com certeza, é ele que está em mim.

Um Feliz Dia dos Pais a todos os pais, aos filhos que amam seus pais e e aos que têm a referência de alguém como Pai.

Obrigada ao Deus Pai pelo Pai que me deu.

Junia Turra

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

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