A “foto que mais gostaram em 2017″… Esta foto é uma das minhas favoritas. Tive a oportunidade de trabalhar com esses três grandes juízes, aliás, desembargadores. Um deles é o meu pai e eu passei o pão que o diabo amassou quando trabalhei com ele, porque ele fazia questão de exigir mais de mim.
Eu estudava Direito, passei no concurso público e fazia as audiências numa Vara Criminal com um juiz linha dura e que trabalhava mesmo. Meu pai era juiz criminal na Vara seguinte e ambos eram da mesma turma workaholic linha dura. Marcavam audiência de manhã, em expediente extra, para agilizar o andamento dos processos.
Meu pai era conhecido por fazer várias audiências ao mesmo tempo e assim requisitava funcionários. Eu fui “emprestada” algumas vezes e ia a contragosto.
Meu pai fazia sete audiências ao mesmo tempo sem perder o fio da meada. Quando chegava a minha vez, ele falava mais rápido, mas pensa numa pessoa falando rápido… E aumente a velocidade.
Mas para bom entendedor, um pingo é letra. E eu digitava mais rápido que um corisco. Eu nunca errei, porque não ia dar o braço a torcer e dizer:
- “meritíssimo, o senhor pode repetir?”.
Preferia a morte!
Saía com os olhos chamuscando de iraaaaa, e encarava o meu pai que dava aquele sorriso enorme.
Eu ainda fazia o maldito curso de Jornalismo à noite, por causa da exigência do diploma inútil, era a editora do jornal da Faculdade de Direito, e colaborava com grandes jornais.
Aí fui chamada pelo Presidente da Amagis para fazer o jornal da Associação dos Magistrados.
Vai vendo…
Meu pai foi perguntar ao então presidente da Amagis, que está na foto acima, o motivo de ter me colocado na função. E ouviu dele:
- Ora, Paulo, ela está aqui por mérito, é sua filha, não?
Foi a resposta bem humorada do grande amigo de uma vida e juiz com todas as letras.
Aliás esses três juízes da foto…
Justiça seja feita, eles usavam o Direito e faziam Justiça!
A Justiça era feita com trabalho, muito trabalho, estudo, conhecimento, talento, e correção.
E não faz tanto tempo assim…
São a referência a ser seguida.
Educa-se pelo exemplo.
Meu pai lindo, a minha maior referência, meu Norte, meu porto seguro.
Eu sempre tentava ser melhor como aprendiz para mostrar ao mestre que eu sabia fazer as coisas.
O único detalhe, é que eu segui o caminho que eu escolhi e isso me deu muitas dores de cabeça.
Afinal, virei jornalista, formei em Direito, mas larguei o Direito, e meu pai achava que eu poderia ser jornalista, mas escrever artigos sem largar o Direito. Ele dizia que eu daria sequência ao trabalho dele e estaria com o futuro garantido, estável, sem depender financeiramente de ninguém.
Eu não cabia naquela formalidade, naquela rotina, na mesmice…
E eu fui, cada vez fui indo embora para mais longe…
A família se aproveitou para tentar ocupar o meu espaço e quebrar o elo inquestionável entre nós.
Criaram tantas desavenças para garantir patrimônio, dinheiro, aproveitando que eu estava pelo planeta.
Não ganhei dinheiro mas ganhei o mundo… E sou referência no que faço. Isso não tem preço. Não está no diploma, não está na carteira de jornalista. Está no reconhecimento dentro da minha área. Não tenho nada mais a provar.
Recebi tantos prêmios, recebo convites, e me divirto com a inveja dos que têm a pretensão de se colocar em patamar que jamais ocuparão…
Os bons não invejam, não dividem, somam, não é mesmo?
O presente no último Dia dos Pais.
Foi num almoço do Dia dos Pais, na Roselanche, o restaurante ponto de encontro por décadas dos amigos. Lá estavam reunidos com as famílias, aquela grande família. Eu tinha saído da Europa para passar o aniversário e o Dia dos Pais com o meu pai.
Não nos víamos fazia um bom tempo e ele me pediu que fosse, ele queria me ver.
Quando entrei no Restaurante, ele disse a todos: talvez alguns aqui não a conheçam, mas vou apresentar a vocês, eu sou o pai da jornalista Junia Turra.
Bem, até ali eu sempre fui a filha do juiz, do desembargador, da família Aleixo. E por ser do contra, eu nunca usei o sobrenome de peso.
Sou turrona mesmo… Ainda que Turra, em italiano,signifique “torre”, aquele que tem a visão ampla, do alto da torre.
Naquele Dia dos Pais meu pai me deu um prêmio, o maior dos presentes, o reconhecimento dele e me disse quando eu o abracei: “tenho tanto orgulho de você, minha filha”…
No domingo seguinte, eu era um poço de lágrimas e me despedia dele que do alto das montanhas seguiu viagem… Se foi num acidente.
O Dia dos Pais sem o meu pai não tem sentido. Mas, todos os dias é dia dele, porque a minha melhor parte, com certeza, é ele que está em mim.
Um Feliz Dia dos Pais a todos os pais, aos filhos que amam seus pais e e aos que têm a referência de alguém como Pai.
Obrigada ao Deus Pai pelo Pai que me deu.
Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.