Pela primeira vez, na vergonhosa história política do Estado do RJ, em que 5 ex-governadores já foram presos e o penúltimo condenado a 280 anos de prisão, foi aberto por unanimidade e numa única votação um processo por “crime de responsabilidade” contra um Governador. Trata-se do impeachment do atual Governador Wilson Witzel.
A pífia biografia do desconhecido ex-juiz Witzel evidencia o abuso de um discurso anticorrupção na campanha eleitoral para abocanhar decisivos votos bolsonaristas, que o elegeram Governador.
Com um ano de mandato o seu senso de oportunismo o levou a se proclamar um opositor do governo federal e se autopromover presidenciável, em 2022.
Na sua curta investidura no poder se notabilizou pelo seu total descaso para a grave crise de abastecimento de água. Um pesadelo que atingiu na virada do ano a segunda maior cidade e a mais turística do Brasil. Mal começou 2020, sem nenhuma notificação, criminosamente a CEDAE surpreendeu a população com uma água fedorenta e escura, logo comprovada como contaminada.
O Governador primeiro tentou ocultar o “tamanho da crise hídrica” e depois se saiu com essa: não tenho nada a fazer, o Estado não dispõe dos recursos para uma solução imediata.
Ainda se vangloriou: somente se for levado adiante o “meu projeto de privatização” da CEDAE, que lucrou “R$ 800 milhões em 2019”, o abastecimento no RJ se normalizará.
Durante a discussão dos limites dos Estados e Municípios diante do devastador avanço da pandemia, em decisão unânime do STF e foi reafirmado o direito que dispunham de “editar medidas em defesa da saúde e sem aval da União”.
Assim, diante do estado de calamidade pública e consequentemente com a dispensa de licitações, os Estados e Municípios promoveram, em março, um festival de compras emergenciais.
Chamou atenção o montante dos gastos públicos e a absurda variação dos preços.
Até a semana passada, os Estados gastaram R$ 687 milhões somente nas compras de respiradores. Os preços unitários variaram de R$ 40 mil aos estratosféricos R$ 226 mil.
Na maioria dos Estados, a entrega dos hospitais de campanha se deu com atrasos. No Rio de Janeiro as inaugurações ignoraram o cronograma. A eleitoreira promessa de inaugurar sete unidades até o dia 30 de abril nunca foi levada a sério pelo Governo Witzel. Apenas os hospitais do Maracanã, na Zona Norte do Rio, e de São Gonçalo na Região Metropolitana, foram abertos, após sucessivos atrasos e com menos leitos do previsto.
Não existe crime mais hediondo nesses tempos de letal coronavírus do que a corrupção na saúde. O Rio de Janeiro tem hoje a mais alta taxa de letalidade do Brasil com 9,6%.
Causa a maior indignação na enlutada família brasileira saber que se intensificaram as suspeitas de um grande esquema de corrupção no RJ, em especial nos hospitais de campanha.
A cúpula do Governo está envolvida: recentes buscas e apreensões foram efetuadas no Palácio das Laranjeiras (sede do Governador), na sede do Executivo e “na antiga casa em que o mandatário morava antes de assumir o governo”.
O presidente da ALERJ apoiou a “decisão coletiva e saudável” do impeachment e não deixou dúvidas sobre o futuro do Estado: “a gente precisa que o governador governe, que tenha gestão”. E para os eleitores, melhor ainda se for sem suspeitas de corrupção.
A população aguarda a VITORIOSA destituição do Governador do Rio de Janeiro.
Advogado da Petrobras, jornalista, Master of Compatível Law pela Georgetown University, Washington.