4 de outubro de 2025
Veículos

Test-Drive com o Chevrolet Tracker RS 2026

No finalzinho da primavera, passei uma semana foi com um Chevrolet Tracker 2026, nesta versão topo de linha RS que você vê neste post. Vale explicar que, até o ano/modelo passado, a posição mais alta da gama desse SUV compacto da GM era ocupada pela versão Premier – que continua em linha. Com um apelo mais esportivo, porém, a Rally Sport (significado da sigla) ganhou alguns retoques e recursos, ultrapassando a irmã em status – e preço. E neste finalzinho de primeiro parágrafo, caro leitor, em 1º de outubro, eu escrevi: R$ 190.590 contra R$ 169.490. E concluí com o clichê clássico: “Se vale a pena? Falo sobre isso a seguir.” Só que…

Preparando o post hoje, 3 de outubro de 2025, resolvi conferir mais uma vez o preço do carro no site da Chevrolet e… surpresa! Agora o Tracker RS é oferecido ali por R$ 175.990, enquanto o mano Premier sai por R$ 174.990. Com isso, percebo que meu raciocínio – que se chegar ao final deste post, você vai conhecer – estava certíssimo. Enfim, sem mais spoilers, vamos em frente!

Ah, antes de engrenar uma segunda, lembro que, há algum tempo, fiz uma avaliação bem completa de uma antecessora desse mesmo Tracker RS, logo que a versão foi lançada, em 2023. Quem quiser, pode conferir aquela matéria aqui: https://www.rebimboca.com.br/single-post/na-s-estrada-s-com-o-chevrolet-tracker-rs-2024 .

Tracker tem bom fôlego e roda suave

Embora não tenha um desempenho esportivo que seu visual e sigla possam sugerir, o Chevrolet Tracker RS anda bem. Ano passado, ela passou a contar com um sistema de injeção direta de combustível. Além de ajudar a enquadrar o carro nas novas e mais rígidas regras de emissões do Proncove, esse “upgrade” rendeu uns cavalinhos a mais para o motor 1.2 turbo flex de três cilindros, que chegou até os 141 cv e quase 23 kgfm de torque, com etanol. Com isso, ele acelera de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos e retoma velocidade com desenvoltura, ainda que o câmbio automático de seis marchas não seja dos mais ágeis.

As trocas de marchas privilegiam o conforto, com competência, e não há o recursos para seleção manual das velocidades por borboletas no volante. Para “mandar na caixa”, é preciso deslocar a alavanca, no assoalho, para a posição “L”, e acionar a coisa por um pequeno botão na lateral dessa alavanca. Até funciona direitinho, especialmente para reduções, em descidas mais longas e acentuadas, mas não combina em nada com uma tocada mais esportiva.

E, embora tenha bom comportamento em curvas, arrancadas e freadas, sem oscilar em excesso, novamente, esse Tracker RS não tem lá muita afinidade com emoções mais fortes. Não é lento, de forma alguma, mas parece rodar muito mais à vontade em “modo comportado”. E, rodando assim, ele é um carro gostoso de guiar, e que não cansa.

E, de forma talvez um pouco paradoxal, um dos motivos de esse SUV não cansar está justamente em sua simplicidade – se não geral, certamente de uso. Comandos intuitivos e à mão, quantidade limitada, mas suficiente de recursos e configurações, bom funcionamento do que é realmente importante, pouco ruído e pouca agitação em relação aos caminhos. Podem parecer qualidades óbvias, mas ouso dizer que estão longe de serem universais.

Chevrolet Tracker 2026 recebeu rejuvenescimento facial

Lançada há cinco anos e praticamente sem alterações no visual, a linha Tracker ganhou um bom tratamento estético, sobretudo na dianteira. Nada muito radical. O para-choque mudou e os faróis têm um novo desenho e agora são separados em duas partes: na de cima, bem estreitinha, ficam as DLR (luzes diurnas) e as setas de direção, na de baixo, as luzes principais. E, nesta versão RS, há ainda faróis de neblina, mais abaixo. Tudo isso em LED. Um desenho de frente que segue um gabarito bem parecido com recentemente adotado na minivan (que preferem chamar de “crossover”) Spin e que caiu muito bem no SUV, também.

Além disso, neste RS tudo o que poderia ser cromado, é pintado de preto, tendência atual em versões esportivadas de muitas marcas. Assim, a grade dianteira, que tem desenho em colmeia, as (belas) rodas, todas as logomarcas e nomes (menos o RS, que é vermelho), molduras de rodas, spoilers, coberturas de retrovisores e o bagageiro de teto são escuros. Na traseira, o retoque foi mais sutil, alterando apenas o desenho interno das lanternas.

Vale mencionar aqui também uma outra mudança, “invisível”, relacionada a uma suposta sensibilidade do motor turbo de três cilindros da Chevrolet – família que também equipa a linha Onix e a picape Montana. A questão estava relacionada à correia dentada de comando, banhada a óleo e que sofreria danos precoces quando lubrificada com produto fora das especificações do manual. A partir deste ano, porém, essa correia passou a ser produzida com outros materiais, que a tornam (segundo o fabricante) mais resistente, inclusive a lubrificantes diferentes do que é recomendado pela montadora.

Tracker RS também foi renovado por dentro

E, por dentro, dá para notar o banho de loja com os olhos e com a ponta dos dedos. Isso porque, além do rearranjo do painel de instrumentos digital e da multimídia, algumas partes dos painéis receberam um bem-vindo revestimento acolchoado, que não só torna o contato mais agradável, como contribui para uma ligeira melhoria acústica. Além disso, aqui e ali há filetes luminosos em LED, que dão um ar sofisticado ao carro – e ainda uma simpática projeção luminosa no chão, quando se abre as portas da frente; simpática e útil, pois ajuda a enxergar o caminho.

Pena que esses cuidados tenha se estendido apenas aos forros das portas dianteiras, deixando os passageiros do banco de trás apenas com plásticos duros. Há ali duas portas USB para recarga de celular, mas senti falta de saídas de ar-condicionado e fiquei a sensação de que os passageiros ali podem achar que estão viajando de segunda classe.

O espaço ali, como já elogiei nas matérias anteriores sobre a Tracker, é muito bom para mais dois adultos, trata bem os passageiros com sua suspensão macia e os 393 litros de capacidade no porta-malas são ok para viagens e compras, sem exageros. Viagens, aliás, que ganham uma atração a mais com o teto solar panorâmico, algo que aumenta a sensação de espaço e dá a qualquer passeio um jeitinho de roteiro turístico.

Mas o que mais chama a atenção assim que você entra na Chevrolet Tracker RS é a forração dos bancos, vestidos em um (ótimo) couro padrão preto “Jet Black” e Vermelho “Victory”. A combinação, exclusiva desta versão, é interessante, mas me pareceu um pouco exagerada – e, talvez, com o tempo, cansativa. Mesmo para quem torce pelo Flamengo.

Para aumentar a tranquilidade, esse topo de linha vem equipado com seis air-bags, aletra de colisão e frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego e até um auxílio autônomo para estacionamento. E tem chave presencial com partida por botão e sensores que acionam automaticamente os faróis e os limpadores de para-brisas, além de sistema de conexão Wi-Fi com antena de maior capacidade a bordo, que pode funcionar de modo integrado ao espelhamento de celulares sem fio. Algo que foi providencial para mim em um trecho com sinal fraco de telefonia em uma região distante – e, para mim, desconhecida – do centro do Rio por onde passei.

E então, o Tracker RS 2026 vale a pena?

Como já comentei em outras ocasiões (e continuo achando), o Chevrolet Tracker é, entre os SUVs compactos do chamado segmento B, um dos mais – se não o mais confortável. Sua combinação de espaço, estilo, comportamento e praticidade de uso merecem elogios e, para quem curte um visual de inspiração esportiva – sem fazer questão de um desempenho tão emocionante quanto a aparência –, essa versão RS pode ser uma boa opção.

Originalmente, eu havia concluído o texto deste post assim:

A questão talvez seja seu preço, de cerca de R$ 190 mil. Por esse valor, hoje, você consegue comprar, por exemplo, um concorrente direto, como o VW T-Cross em versão mais potente, equipada com motor 1.4 turbo de 150 cv e 25 kgfm de torque. Ou, investindo um pouquinho mais, um Hyundai Creta 1.6 turbo, de 193 cv e 27 kgfm. Ambos talvez com menos “pinta” de esportivo, mas com mais desempenho e, também, itens de assistência autônoma, como assistente de permanência em faixa e piloto automático adaptativo.

É, pelo jeito, meu raciocínio estava corretíssimo. Não por acaso, como comentei lá na abertura, hoje, 3 de outubro de 2025 o Chevrolet Tracker RS 2026 está sendo cotado a Tracker RS R$ 175.990 no site da marca (https://encurtador.com.br/IiXWG). Vou manter aqui a frase com que pretendia encerrar o post, naquela sua primeira versão: parafraseando Sartre, também entre os carros, o inferno pode ser os outros. Mas vou complementá-la com um “nada como a concorrência para trazer os preços para um patamar mais realista”.

Fotos: HK

Fonte: Rebimboca Comunicação

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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