29 de março de 2024
Veículos

Porque dirigir o VW Passat pode complicar sua vida


É provável que você já tenha passado por uma situação assim. Acostumado, satisfeito com determinada coisa, mas tem a oportunidade de experimentar outra, do mesmo tipo, com a mesma função, mas infinitamente melhor. E, depois disso, aquilo que antes era plenamente satisfatório passa a ser insuficiente para você ou, em casos mais extremos, passa ser frustrante e a incomodar. Com alguns, esse tipo de coisa pode acontecer em relação ao vinho, por exemplo. São felizes tomadores de garrafas baratas compradas no supermercado da esquina que têm a chance de experimentar bebidas mais elaboradas – e caras – e passam a achar as antigas rolhas azedas. Ou com um aparelho de TV, depois de assistir àquele musical na tela ultramegaagadê superblastersound surround de troucentas polegadas que o cunhado exibido acaba de comprar. Ou ainda com o Smartfone do colega, que faz com que o seu se pareça com um emissor de sinais de fumaça. E, como você já deve estar suspeitando – afinal de contas este aqui é um espaço dedicado a eles – pode acontecer também com os automóveis. Por isso, se você é uma pessoa volúvel e se vê como possível personagem dos exemplos que dei aí acima, vá por mim: não dirija o VW Passat 2018, nosso assunto de hoje aqui no blog e que, em breve, estará também em um novo vídeo na TV Rebimboca.

A elegância da discrição. O Passat não é dos modelos que mais chamam a atenção na rua. Quem não é particularmente ligado em carros pode até confundi-lo com seus irmãos menores Jetta e Virtus. Há anos que genes fortes e dominantes andam dando a cara a praticamente toda a família VW. E, mesmo com as modificações que ela vem sofrendo nos últimos tempos, a individualidade e a diferenciação estética dos modelos não parecem ser prioridade.
Não que o carro seja feio ou mesmo sem graça. Ele tem um jeitão classudo, contemporâneo, com linhas limpas e bem bacanas, pelo menos para o meu gosto. Mas, depois de passar uma semana com ele, digo a vocês sem nenhum medo de ser injusto que é por dentro, no interior da cabine e nas entranhas mecânicas e tecnológicas que ele realmente se diferencia e encanta.

Comecemos pelo conforto. Para o motorista, a ergonomia beira a perfeição. Banco e direção permitem regulagens certinhas para os tipos mais variados – inclusive o meu, que é um pouco fora de padrão. E tudo fica ao alcance das mãos e dos olhos, com deve ser. Além do ego, o banco massageia o corpo de seu condutor e, se o inverno acontecer de verdade na parte do Brasil em que você estiver, o aquece também. Esse banco é tão esperto e gentil que, para que você saia ou entre no carro, ele se desloca alguns centímetros para trás, facilitando seus movimentos.

O painel é totalmente digital (TFT) e pode ser configurado de acordo com sua preferência. O tablier têm partes em metal escovado e abriga uma central de multimídia bem completa e que “fala” a língua Android e o idioma Apple para se entender com o seu smartfone. Na tela de 9,2 polegadas, além das funções de entretenimento, que podem também ser manipuladas com gestos a distância, é possível ajustar uma série de outros recursos do carro, como configurações, o modo de condução e o ar-condicionado. Este, aliás, oferece regulagens de intensidade e temperatura individuais para quem vai na frente e ainda uma terceira para quem vai atrás.

Bom para quatro. Os assentos para os outros ocupantes são também ótimos – desde que, no banco de trás, eles sejam no máximo dois. O terceiro passageiro ali, se ocupar o lugar do meio e não for uma criança, passará aperto. E não sou eu quem diz isso, mas sim os três convidados que instalei ali para uma pequena viagem para o alto da serra. Depois de uma centena de quilômetros, eles optaram por fazer um rodízio e dividir o desconforto.
Basta uma olhada no desenho dos assentos traseiros para antecipar isso. Junto às janelas, eles são, ergonômicos e acomodam com perfeição o corpo dos passageiros, enquanto no centro, o desenho é reto e o encosto esconde um apoio de braço com porta-copos escamoteável. Para piorar as coisas, o túnel no assoalho é alto, quem sabe para acomodar os componentes da tração integral de versões vendidas na Europa.Independentemente disso, com seu rodar é bem macio e – quando conduzido dentro dos padrões de civilidade – silencioso, o Passat tira ótimas notas como carro da diretoria da empresa. E, com seu porta-malas de 586 litros que pode ser aberto com um movimento do pé, mantém a classe mesmo nas viagens mais longas.

Acelerar é preciso. Para quem gosta de dirigir, no entanto, a parte mais interessante do pacote é aquela que não aparece de cara, mas sim quando o pé direito se assanha. Na prática, a mecânica e os recursos do Passat são virtualmente os mesmos disponíveis no Golf GTI, versão esportiva do hacth médio da marca e que também é vendido aqui no Brasil. Sob o capô, mora o mesmo motor 2.0 turbinado, com 16 válvulas e injeção direta, calibrado para gerar 220 cavalos e 35,7 kgfm (quilos) de torque. E para fazê-lo trabalhar, há também o mesmo espertíssimo câmbio automatizado DSG de dupla embreagem com suas seis marchas que podem opcionalmente ser trocadas, rápido como um raio, por borboletas atrás do volante.
Através da tela da central multimídia você pode escolher entre quatro modos de condução: Eco, Sport, Normal e Individual, esta última customizável pelo motorista. De acordo com sua vontade, tipo de ambiente ou o astral do dia, o gerenciamento do motor e de outros sistemas auxiliares, incluindo até o ar-condicionado, é ajustado para atender ao perfil que escolher da melhor forma.

Na estrada, subindo a serra com asfalto apenas razoável, escolhi uma combinação entre a performance da opção Sport e a maciez da Normal, o que não comprometeu a estabilidade do carro nem do humor de meus passageiros. Quando o piso melhorou, fomos de Sport completo. Ultrapassagens, retomadas, curvas… até mesmo uma simples redução de marchas para esperar que o carro à frente passasse para a faixa da direita ficou divertida. Ou seja, se você for o tal diretor da empresa que mencionei ali atrás, dispensar o motorista nos finais de semana pode tornar a vida mais interessante.
Estar seguro também é preciso. O pacote de segurança está no mesmo nível do que empurra o carro. Além dos controles de tração e de estabilidade, há o ACC que, com o piloto automático acionado, controla automaticamente a distância e a velocidade em relação ao carro da frente. O interessante e novo – pelo menos para mim – é que a função de frenagem de emergência “City Emergency Brake”, que breca o carro na iminência de uma batida em baixas velocidades, também funciona quando se usa a marcha a ré. Ou seja, uma tremenda garantia contra pequenos amassados e aranhões na hora de estacionar. Os faróis são de LED e tem um assistente que ajusta automaticamente o farol alto de modo que não ofusque quem vem na mão contrária.

Briga de alemães. Com um valor inicial de cerca de R$ 165 mil, o Passat 2018 tem como opcionais apenas a pintura especial e o teto solar. De acordo com o configurador do site da VW, um carro idêntico ao do nosso teste sai por pouco menos de R$ 172 mil. Ou seja, mais ou menos a mesma coisa que um BMW 320i e um pouco menos que um Mercedes Benz C 180, dois de seus principais concorrentes.
Embora nesta faixa ambos os oponentes, também alemães, ofereçam um pouco menos recheio e um tanto menos de potência, vale lembrar que os dois têm tração traseira, um sistema mais caro e que proporciona uma condução um pouco diferente, enquanto o Passat é tracionado pelas rodas da frente. Independentemente disso, o VW oferece, sem dúvida, um desempenho mais esportivo.
Quanto a questão lá do começo, de que dirigir um carro muito bom pode deixar a gente até com má vontade em relação aos modelos mais simples, isso acontece mesmo. Mas, acreditem, não comigo. Adoro carros e isso inclui dos mais simples e baratos, como um velho Fusca, aos mais sofisticados, como uma Ferrari ou um Jaguar executivo (só para mencionar modelos que dirigi mais recentemente). Mas devo confessar que, desde que dirigi esse Passat, sinto falta do banco que melhor se ajustou ao meu corpo e modo de dirigir de que me lembro até hoje. Será que eles vendem avulso?

Ficha técnica do Passat Highline 2018 (segundo informado pela montadora)
Motor: Dianteiro, 4 cilindros em linha, transversal, 2.0, 16V, duplo comando no cabeçote, turbo com injeção direta.
Combustível: gasolina
Potência máxima: 220 cv (entre 4.500 rpm e 6.200 rpm)
Torque máximo: (35,7 kgfm entre 1.500 rpm e 4.400 rpm)
Transmissão: automatizada de dupla embreagem, seis marchas, tração dianteira
Direção: com assistência elétrica
Suspensão: Independente McPherson na dianteira e multilink na traseira, com amortecedores ajustáveis eletronicamente
Freios: Discos ventilados na dianteira, sólidos na traseira
Pneus: 235/45 R18
Dimensões (metros): Comp.4,76; Larg. 1,83; Alt: 1,47; Entre-eixos: 2,79
Tanque: 66 litros
Porta-malas: 586 litros
Peso: 1.529 kg
Velocidade Máxima: 246 km/h
Tempo 0-100: 6,7 segundos
Consumo cidade: 10,4 km/l
Consumo estrada: 12,9 km/l
Valor inicial sugerido: R$ 164.620,00
Opcionais:
Cor especial Marrom Oak -R$ 1.750,00;
Teto solar elétrico panorâmico – R$ 5.370,00
Total para um carro idêntico ao que avaliado: 171.740,00

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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