Na posse do novo ministro da saúde tinha muita gente sem máscara, se abraçando, em contradição com as regras da OMS.
A saída do antigo ministro, Mandetta, também foi marcada por abraços e cantoria, sem nenhuma preocupação com a segurança antiviral.
Pesquisas mostram que mais da metade dos brasileiros não cumprem as regras básicas de proteção contra o coronavírus.
Especialistas acham que muitas coisas acontecem por causa da subnotificação. Meu palpite é de que a invisibilidade do vírus também desempenha um papel.
Somos gregários, indisciplinados, construímos um terreno fértil para o coronavírus. Leio sobre a situação do Peru e vejo que lá têm os mesmos problemas.
O Peru é o segundo país em número de casos na América Latina, perdendo apenas para o Brasil. Há o caso de um policial que pediu licença por sentir sintomas da Covid19 e foi encontrado bêbado numa praça.
Por isso é difícil apenas abrir leitos e comprar respiradores. Além dessa indisciplina cultural, o chamado distanciamento enfrenta outras dificuldades.
Nos Estados Unidos, com o apoio de Trump, têm havido várias manifestações pela volta à vida normal, independente de alcançadas as condições de segurança para isso. Michigan, Minnesota, Texas, a corrente política mais conservadora sai às ruas para protestar.
A ideia de que um inimigo comum dessa natureza provocaria uma sólida aliança nacional é uma ilusão tanto aqui como nos EUA.
Nossa realidade, entretanto, é mais difícil. Além de uma oposição política ao isolamento, defendida por Bolsonaro e seus seguidores, ainda há essa indisciplina difusa, essa descrença no perigo da pandemia.
Ainda assim, creio, atravessaremos o deserto.
Fonte: Blog do Gabeira
Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.