Morreu hoje no Rio, aos 88 anos, Sérgio Ricardo. Era compositor, fazia cinema, pintava – um artista de muito talentos.
Minha lembrança dele é mais musical. Não vi seus filmes mas ouvia sua canções. Lembro-me de Zelão, uma novidade dentro do movimento da Bossa Nova. Não era romântico e apresentava alguma inquetação social. Lembro-me, se a memória não falha, de um verso que dizia: no fundo de um barracão, só se cozinha ilusão, restos que a feira deixou…
Outro trabalho admirável de Sérgio Ricardo é a trilha Sonora do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.
Ele ficou muito conhecido porque num festival da canção da Record, foi vaiado, quebrou o violão e jogou alguns pedaços na plateia.
Vaiava-se muito naquele época. Acho uma crueldade vaiar artistas. Já não penso o mesmo sobre vaiar políticos. Parte do jogo.
A primeira vez que fui vaiado, creio, fui diante da Embaixada Americana. Protestávamos contra o bombardeio da Líbia e introduzi também o tema da invasão russa no Afeganistão.
Era vaiado em alguns encontros do PT. Lembro-me de um congresso no hotel Glória, fiquei entre os convidados ao lado de Brizola.
Quando anunciaram meu nome, houve vaia e gritos: cadê meu telefone celular?
Era uma critica à minha posição sobre a quebra do monopólio nas telecomunicações. Eu defendia o movimento dos sem telefone e achava que a privatização iria democratizar o aparelho.
Hoje estamos entupidos de telefone celular. Mesmo os que me leem devem ter comprado dois aparelhos cada um, quando isto se tornou possível.
A gente fica velho e se aproxima da morte e vê como essa história de vaias e aplausos importa pouco.
O que ficou da obra de Sérgio Ricardo é infinitamente superior aquele momento no festival da Record.
Minhas homenagens.