Bolsonaro prossegue combatendo a obrigatoriedade do uso de máscaras. Desse vez, depois de lojas comerciais e templos, liberou os presídios do uso obrigatório de máscaras.
Isso acontece num momento em que cientistas do mundo inteiro alertam a OMS para o perigo da contaminação com coronavírus pelo ar, essas partículas que ficam flutuando em ambientes fechados, alguns com ar condicionado.
Não se pode dizer que Bolsonaro quer punir os presidiários. Ele está dando aos presídios o mesmo tratamento que dá aos templos religiosos. Ao que parece ele tem as igrejas em alta conta.
Acredito que Bolsonaro ainda sonha com a chamada imunização do rebanho, aquele tese segundo a qual um grande número de contaminados acaba neutralizando a epidemia.
No caso dos presídios, pouca gente vai se importar se usam máscaras ou não . Afinal, estão presos e devem pagar pelo que fizeram. Mas esse raciocínio não funciona. Em primeiro lugar, nossa lei pune apenas com a privação da liberdade. Em segundo lugar, os presídios não são ilhas.
Se compreendermos os presídios como inseridos de alguma forma na sociedade, o cuidado com eles significa também cuidado com a quem está do lado de fora.
Para começar, os milhares de trabalhadores que trabalham em presídios não vivem lá. Eles saem para ver suas famílias. No presídio entram advogados e visitantes. Em alguns casos, os presos são deslocados para depor em juízo.
Por todas essas razões, é preciso cuidado. Não interessa ter um intenso foco da doença nos presídios.
Na Coreia do Sul houve contaminação em igreja, na China houve contaminação em restaurante.
Com o documento que saiu ontem e foi publicado num jornal da Universidade de Oxford a própria OMS é acionada para ficar mais atenta a esse tipo de contaminação.
A OMS vacilou no principio sobre as máscaras. Independente de sua reação, a iniciativa de dois partidos questionando os vetos de Bolsonaro no Supremo podem dar certo. O ideal era o Congresso derrubar os vetos. Mas como o Congresso é muito devagar, corre o perigo de fazer isto depois de morrer muita gente.
A reabertura dos bares no Brasil e na Europa foi marcada por grande procura. Na Europa, estão na fase descendente da curva. Aqui ainda não chegamos lá. Gostei da declaração do chefe de policia de Londres: bêbado não respeita isolamento social.
Na verdade, bêbado adora pegar no braço, contar segredo. Será preciso uma fiscalização muito sábia porque, a partir de um certo nível, o álcool torna as pessoas agressivas também.
Os fiscais ouvem coisas do arco da velha. Aqui no Rio, uma administradora de empresas perdeu o emprego por insultar um fiscal publicamente.
Enfim, o caminho é muito estreito e cheia de armadilhas nessa reabertura precoce.
Fonte: Blog do Gabeira