26 de abril de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDXXXVI

Segunda estranha. Sai com sol e chuva me pegou no meio  do caminho, transformando minha manhã.
Li um pouco mais por causa disso. Li que as Galvão, duas irmãs que cantam Beijinho Doce e ficaram famosas, vão sair de cena. Uma delas, Mariluce, está sofrendo de Alzheimer e não consegue mais lembrar as letras.

Isso me chamou a atenção porque acabara de ler no New York Times uma pesquisa sobre pessoas de 100 anos que ainda mantêm suas atividades mentais em forma.

Elas foram pesquisadas na Holanda e muitas morreram ao longo da pesquisa. O exame de seus cérebros mostrou que grande parte foi atacada pelo Alzheimer, no entanto sua capacidade foi mantida.

Como explicar essa resiliência? Parece que em alguns cérebros apesar do Alzheimer se aproximar, as atividades mentais prosseguem normalmente, com uma ligeira perda de memória.

Quem sabe no futuro se descobre a razão dessa resistência? Enquanto não se descobre, não há outro caminho, exceto os conselhos de bom senso: atividade física regular, exercícios mentais, quem sabe aprendizado de uma nova língua, alimentação equilibrada.

Pela manhã comentei a CPI e as 38 vezes em que se detetou testemunhos falsos, em outras palavras as vezes em que as pessoas mentiram. Inicialmente, pensou-se em prender os mentirosos. Não é um caminho. Agora todas as mentiras são enviadas para o Ministério Público, com um pedido de inquérito.

É uma ilusão pensar que as pessoas falam sempre a verdade. O melhor é se documentar, estudar com atenção os dados, para poder desmontar as mentiras.
O que sobre para os que deram falso testemunho é um abalo na reputação. O Ministro da Saúde Marcelo Queiroga vacinou uma das moradoras da Ilha de Paquetá no domingo.

A frase da mulher repercutiu:

-A vacina é verdadeira, a mão não é verdadeira.

Bolsonaro ficou bravo com um repórter da tevê. O problema foi perguntar pelos 500 mil mortos. Até o momento ele se recusa a falar desse marco. Por muito menos, no passado Fernando Henrique e Lula se solidarizaram com famílias atingidas por desastres.

Alguma coisa se perdeu no Brasil. Essa falta de empatia com o sofrimento humano é um dos traços mais difíceis de Bolsonaro e ele pode ser um dos responsáveis por sua derrocada.

Paro por aqui hoje, vamos ver se amanhã o sol predomina sobre a chuva miúda.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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