Foi de grande impacto o depoimento da médica Luana Carvalho, na CPI.
Os senadores lamentaram o fato de uma pessoa tão inteligente e articulada ter sido rejeitada para coordenar o trabalho contra a Covid-19, no Ministério da Saúde.
Compartilho desse lamento, mas fico alegre também por ver uma jovem tão talentosa e preparada disposta a trabalhar pelo país que ela diz amar.
Sinto-me um pouco como diante da questão ambiental. Tristeza pela política destruidora de Bolsonaro e Salles, ao mesmo tempo, orgulho por termos um país tão rico em recursos naturais.
É isso, um país com recursos humanos e naturais sendo malbaratados.
Fico feliz por ver que ela conseguiu falar para o grande público, explicando a importância das medidas preventivas e desmontou as teses pró-cloroquina.
Ela conhece as pesquisas, conhece métodos de pesquisas em epidemias, e foi bastante clara ao afirmar que as grandes agências de saúde do mundo já tem uma posição sobre o assunto.
O interessante é sua habilidade em elogiar mesmo os que têm posições diferentes. Ela atribui isso à falta de informação adequada e reconhece a boa fé.
Tive uma intuição da importância desse depoimento e o mencionei na tevê. Velho cão farejador, percebi que estaria diante de uma testemunha inteligente. Tenho a impressão de que é mineira. Escrevi um livro sobre mulheres extraordinárias com o título de Sinais de Vida no Planeta Minas.
Percebi no final de seu depoimento que foi uma criança superdotada, alfabetizou-se aos dois anos. O pai, que é médico, formou-se em advocacia para ajudar na batalha legal numa legislação que não prevê amplamente esses casos.
Uma dúvida que poderia ser discutida é como uma pessoa tão preparada aceita entrar para o governo Bolsonaro. A resposta talvez seja idealismo, esperança de salvar vidas.
Mas é uma discussão historicamente antiga. A Dra. Luana mesmo afirmou que os mais talentosos e preparados rejeitam entrar no governo porque pagam um preço muito alto.
Valeu conhecer uma pessoa preparada, que leu os estudos, conhece métodos para realizá-los e pode esclarecer bem aos senadores.
O senador Luis Carlos Heinze, por exemplo, é fixado no médico francês Didier Raoult, que trabalha com a cloroquina.
Ela mostrou a ele que Raoult hoje é motivo de chacota na comunidade científica.
Aliás, na entrevista de domingo, alertei Heinze para o fato de que Raoult já reviu suas posições e que a fixação do Brasil com cloroquina foi motivo de piada no Parlamento francês.
O depoimento da Dra Luana mostrou como é possível defender uma tese com vigor e delicadeza, quando se está muito bem preparado
Alguns senadores pegaram pesado demais com a Dra. Nise Yamaguchi, talvez por terem muito entusiasmo e apenas um sofrível conhecimento.
Fonte: Blog do Gabeira