Mais um dia de CPI. E um dia de confusão. O cabo Domingueti da PM de Minas apareceu para denunciar uma tentativa de venda de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca para o Brasil e um pedido de propina de um dólar por dose.
Trouxe também um vídeo comprometendo o deputado Luis Miranda que denunciou o negócio com a Covaxin, esse objeto de contrato e quase resultou num rombo de US$45 milhões.
Essas confusões são feitas para confundir investigadores e levar consigo os chamados intérpretes que, na tentativa de explicar, acabam confundindo mais. A quem interessa a confusão?
A CPI cometeu um erro. Deveria seguir investigando o caso Covaxin, ouvindo o presidente da Precisa. Ele ganhou o direito de ficar calado. Mesmo assim, era preciso seguir o fio da meada.
O segundo erro foi ter dado muito destaque à denúncia contra Luis Medeiros. As denúncias de corrupção são feitas por gente que deseja um país melhor, mas são feitas também por quadrilhas em choque. O que importa, no fundo, é apurar a veracidade das denúncias.
Muito possivelmente o cabo Domingueti faz parte de um projeto de confundir a CPI e afastá-la do seu caminho.
Mas o importante é pura e simplesmente perguntar qual o caminho e voltar a ele.
O caminho é seguir investigando o contrato com a Precisa e seguir nele.
Muito possivelmente vai ficar clara a trama para confundir. Mas isso é um problema secundário,embora também grave.
Desde o princípio, digo que uma CPI desse tipo não pode perder o foco.
Vivemos um momento estranho: um cabo da PM tenta vender vacinas numa reunião com coronel do Exército. O coronel é cúmplice no pedido de propina.
Perguntam ao cabo da PM por que não deu voz de prisão ao Coronel. Ele responde: mas aí precisava de um general.
Haja roteirista para imaginar um país como o Brasil.
Hoje foi um dia de sol. A frente fria vai embora no fim de semana. Mas o inverno não.
Fonte: Blog do Gabeira
Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.