9 de novembro de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDXLVI

Mais um dia de CPI. E um dia de confusão. O cabo Domingueti da PM de Minas apareceu para denunciar uma tentativa de venda de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca para o Brasil e um pedido de propina de um dólar por dose.

Trouxe também um vídeo comprometendo o deputado Luis Miranda que denunciou o negócio com a Covaxin, esse objeto de contrato e quase resultou num rombo de US$45 milhões.

Essas confusões são feitas para confundir investigadores e levar consigo os chamados intérpretes que, na tentativa de explicar, acabam confundindo mais. A quem interessa a confusão?

A CPI cometeu um erro. Deveria seguir investigando o caso Covaxin, ouvindo o  presidente da Precisa. Ele ganhou o direito de ficar calado. Mesmo assim, era preciso seguir o fio da meada.

O segundo erro foi ter dado muito destaque à denúncia contra Luis Medeiros. As denúncias de corrupção são feitas por gente que deseja um país melhor, mas são feitas também por quadrilhas em choque. O que importa, no fundo, é apurar a veracidade das denúncias.

Muito possivelmente o cabo Domingueti faz parte de um projeto de confundir a CPI e afastá-la do seu caminho.

Mas o importante é pura e simplesmente perguntar qual o caminho e voltar a ele.

O caminho é seguir investigando o contrato com a Precisa e seguir nele.

Muito possivelmente vai ficar clara a trama para confundir. Mas isso é um problema secundário,embora também grave.

Desde o princípio, digo que uma CPI desse tipo não pode perder o foco.

Vivemos um momento estranho: um cabo da PM tenta vender vacinas numa reunião com coronel do Exército. O coronel é cúmplice no pedido de propina.
Perguntam ao cabo da PM por que não deu voz de prisão ao Coronel. Ele responde: mas aí precisava de um general.

Haja roteirista para imaginar um país como o Brasil.

Hoje foi um dia de sol. A frente fria vai embora no fim de semana. Mas o inverno não.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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