É comovente a foto de uma criança yanomami de 12 anos, esquálida, deitada numa rede. Ela tem oito anos e pesa 12 quilos. Sofre de malária e subnutrição.
Os ianomâmis estão sofrendo muito também com a pandemia. Lembro-me que a primeira vítima entre os indígenas foi a de um jovem ianomâmi de 15 anos.
O território deles está ocupado por garimpeiros e o governo não os tira de lá.
O Brasil já foi denunciado no Tribunal Internacional por falta de proteção aos povos indígenas. No STF, o Ministro Luís Roberto Barroso tem tentado obter do governo um plano de ação para a pandemia. Esse plano nunca sai direito. Parece que há uma tentativa de protelar.
Por trás disso tudo, está a própria visão do governo que não aceita bem que os índios tenham suas terras e seus costumes, algo assegurado em dois artigos da Constituição.
Bolsonaro sempre defendeu a tese de que os índios deveriam se integrar na sociedade, produzindo e consumindo como os brancos..
Os ianomâmis são considerados um povo com muita auto estima e lembro-me que, quando deputado, participei de uma comissão Brasil-Venezuela que tratava dos temas comuns aos dois países. Um deles era precisamente os Ianomâmis, cujo território atravessa a fronteira dos dois países.
A ausência de uma política de proteção aos povos tradicionais e à floresta resulta em destruição. O desmatamento aumenta a incidência de malária, o mercúrio usado no garimpo produz doenças degenerativas. Vamos perdendo árvores, animais e gente.
O mais triste é saber que existe uma grande disponibilidade internacional para a cooperação, que é possível proteger a floresta e os povos tradicionais e, ao mesmo tempo, prosperar de forma sustentável;
É a grande tragédia do Brasil moderno. O mundo está pronto para investir, reconhecendo a importância de nossa riqueza ambiental e o governo insiste numa exploração predatória, alheio aos anseios da humanidade e ao futuro das novas gerações.
Recomeça esta semana a CPI da Pandemia. Creio que o mais importante nela será discutir a incompetência ou falta de vontade de comprar vacinas no tempo certo. O depoimento de Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação, é um momento importante. Vai balizar os depoimentos dos diretores da Pfizer que tentaram e não conseguiram vender a vacina ao Brasil, no ano passado, e também o depoimento do General Pazuello que adiou sua presença na CPI só para saber o que Wajngarten diria.
Hidroxicloroquina e vacina tardia fazem parte do mesmo e grave equívoco do governo. Bolsonaro acreditava que todo mundo iria se contaminar, logo não havia muito a fazer, além de tomar hidroxicloroquina e tocar a economia. Isso não é imunização de rebanho mas sim mortandade de rebanho.
Fonte: Blog do Gabeira