Sou daquelas pessoas que esperam a vacina para reorientar a própria vida: rever o trabalho, realizar algumas viagens, enfim sair da quarentena.
Por isso preocupa-me a situação da vacina no Brasil. O chamado plano do governo não existe ainda. Foram apenas definidas, grosseiramente, algumas prioridades.
As apostas que fizemos, vacina da Oxford e governo federal, Sinovac e governo paulista podem ter sido corretas. Mas não são as mais rápidas.
O Instituto Butantã informou que apresentará um relatório até o dia 15, esperando que a Anvisa, depois disso, libere a Sinovac.
A vacina de Oxford tornou-se um pouco confuso na fase 3 porque, administradas meias doses e, o que pior, parece que tiveram melhor resultado.
Na verdade, exceto a russa que depende de confirmações, a única vacina aprovada é da Pfizer que começa a ser aplicada na Inglaterra.
Portugal tem um plano detalhado de vacinação e também seguirá a escolha inglesa pela Pfizer.
O governo brasileiro está um pouco hesitante nesse momento tão complexo do mercado internacional. Rejeitou a vacina da Pfizer por razões logísticas: ela precisa ser mantida a uma temperatura de 70 graus negativos.
O governo não se preocupou também em tentar uma vacina nacional. Gastou apenas R$1 milhão nessas pesquisas e enterrou dez vezes essa quantia pesquisando vermífugos propagandeando a hidroxicloroquina.
O próprio Bolsonaro afirmou que era melhor investir na cura do que na vacina. Deputados bolsonaristas afirmam na rede que as vacinas modernas, baseadas na medicina genética, são perigosas.
Um jornalista ligado ao governo disse na TV que as vacinas tradicionais são mais seguras porque as que trabalham com a informação genética nunca existiram e ninguém sabe o que podem produzir.
Com isso, vamos ficar dependendo da vacina de Oxford-Astrazeneca que vai se atrasar um pouco e o próprio governo prevê o início da vacinação em março.
Até lá, ingleses, portugueses e norte-americanos já estarão imunizados. No caso da Sinovac, São Paulo afirma que pode aplicá-la em janeiro. Mas cadê o relatório? Tudo dependerá dele e da análise da Anvisa.
Em caso da sucesso da Sinovac só os paulistas, no primeiro período, terão acesso.
Quem vive no Rio terá de esperar a Fundação Oswaldo Cruz produzir a vacina de Oxford que ainda tem de ser testada de novo e passar pelo crivo da Anvisa.
O colunista Fernando Reinach que escreve sobre ciência no Estadão ainda lembrou algo importante: será preciso fiscalizar a fabricação para ver se as vacinas produzidas em grandes escala têm as mesmas propriedades das que foram usadas em testes.
É um longo caminho que demandava um trabalho estratégico do país desde os primeiros meses do ano que se encerra. Além da incompetência, lutamos contra o negacionismo.
Somos reféns de um governo obscurantista.
Fonte: Blog do Gabeira