Ontem escrevi sobre o ator Paulo Gustavo. Pela expressão dos médicos, estado extremamente grave, fiquei pessimista. Ainda assim, embora já circulasse pela internet, não fechei o texto admitindo sua morte.
Quem decide a morte são os médicos em combinação com a família. A mim, compete apenas lamentar pois foi um caso que segui pelos jornais, desejando intensamente que Paulo Gustavo sobrevivesse à Covid-19.
Durante esse período, lembrei-me de outras longas agonias Uma delas, da de Tancredo Neves, cobri como repórter.
Há uma diferença nítida entre os dois casos. Paulo Gustavo tinha apenas 42 anos e uma longa vida pela frente. Todos os esforços para mantê-lo vivo eram justificados ainda que sua vida dependesse unicamente de instrumentos.
Sempre havia a esperança no ar. Quando se trata de um paciente idoso como Tancredo, tinha minhas dúvidas sobre prolongar a vida com a ajuda de aparelhos, à espera de uma improvável cura.
No caso de Tancredo, pensando no seu sofrimento, cheguei a desejar que os instrumentos fossem desligados. Agora não, mantive sempre a esperança de que Paulo Gustavo iria se recuperar, inclusive com as notícias de que interagia discretamente com pessoas que o visitavam .
É muito difícil determinar o momento em que os aparelhos funcionam, mas o processo é praticamente irreversível.
Continuo acompanhando a CPI. Hoje foi o dia de Nelson Teich. Deixou o Ministério da Saúde porque não concordou com o uso da hidroxicloroquina defendida por Bolsonaro. Se fosse um pouco mais arguto, nem entraria, porque a suposição de que teria independência era muito inviável.
Teich tem uma forma de escapar às perguntas muito inteligente. Ele fala que não pode dar opinião e que só pode se manifestar sobre dados. Quando perguntaram se o atraso e incompetência na compra das vacinas era responsável parcialmente pelas mortes, esquivou-se. Precisava de uma pesquisa para afirmar isso. Citou Seychelles onde, apesar da vacina, há muitos casos de Covid.
O problema é que as quatro vacinas existentes no mercado passaram pela fase três, demonstrando eficácia e segurança. Bilhões de dólares foram investidos nas pesquisas e na própria compra das vacinas. A presunção universal, exceto alguns negacionistas, é de que vacinas salvam vidas. Não é nada arriscado afirmar que a falta delas pode provocar mortes durante uma pandemia.
O interessante na CPI é que os senadores perguntam, recebem uma resposta mas não costumam refletir muito sobre ela. Passam para a outra.
Bolsonaro delirou de novo hoje. Disse que vai editar um decreto proibindo medidas restritivas de governadores e prefeitos e que o STF não pode detê-lo.
Em seguida insinuou que o vírus era uma criação dos chineses. Será que há uma guerra, perguntou?
Quando um ex-militar não consegue distinguir se há ou não uma guerra, sua cabeça está bem confusa. Vou escrever mais detalhadamente sobre isso.
Fonte: Blog do Gabeira