Quando cheguei de volta, escrevi sobre a morte de uma menina no interior do Estado do Rio, assassinada pela mãe e a mulher que vivia com a mãe. Um caso de morte combinada em consequência de torturas e maus tratos.
Foi assim com o menino Henry, no Rio. Achei estranho dois casos de assassinato de crianças em menos de dois meses no país.
Vejo agora com horror o que aconteceu em Saudades, Santa Catarina. Um jovem armado de facão matou três crianças e duas professoras.
Como explicar? Mandetta depondo na CPI da Pandemia afirmou que a Covid 19 teve uma grande repercussão na saúde mental.
Mas é muito difícil estabelecer uma conexão direta entre esses crimes e as tensões produzidas pela pandemia.
Mas ainda tentaremos entender essas tragédias por mais repugnante que seja a pesquisa sobre o tema.
Quanto ao depoimento de Mandetta, creio que não trouxe grande novidade apesar de sua consistência. Mandetta escreveu um livro sobre o tema, Paciente Brasil, deu várias entrevistas, fez muitas lives. Em algumas delas, participei.
Achava que seu depoimento deveria ser o primeiro porque é uma espécie de orientação para o plano de trabalho.
Gostaria de debater ponto por ponto. Observo que, como era o ministro da Saúde quando a pandemia chegou, muitos perguntam se a tragédia poderia ter sido evitada desde o princípio.
Era possível cancelar o carnaval de 2020? Era possível criar barreiras sanitárias eficazes?
No carnaval de 2020, a pandemia não era uma realidade para a população. Suspendê-lo traria uma rebelião. Quanto às barreiras sanitárias algo poderia ser feito, mas as próprias barreiras sanitárias precisam de foco. Hoje, por exemplo, quem sai do Brasil é barrado lá fora. No melhor dos casos, é preciso fazer uma quarentena de 14 dias. Mesmo assim, quarentenas sem fiscalização são precárias. As que funcionam são aquelas em que as pessoas ficam presas num quarto de hotel.
Enfim, era possível reduzir o impacto da pandemia, apesar de ter sido impossível para todos os países evitar que entrasse em suas fronteiras.
É esse fracasso de longo prazo que está em jogo na CPI. Pazuello saltou fora. Andou sem máscara num shopping de Manaus e agora argumenta que está de quarentena porque teve contato com duas pessoas contaminadas.
Pazuello teve Covid 19 há alguns meses. Ninguém está acreditando na sua história. Daqui a 14 dias vai ter de responder a tudo e essas dificuldades não desaparecem em duas semanas.
Estou acompanhando a história do ator Paulo Gustavo. Os jornais publicam detalhes de seu tratamento, ilustram a entrada de ar nos pulmões. Não conheço bem seu trabalho, mas tenho torcido por ele. Ao ler as reportagens, a gente sofre junto, sente a mesma vulnerabilidade.
O comunicado dos médicos diz que sua situação é extremamente grave. Quando médicos dizem isso, a gente sabe que depende de um quase milagre. E ele tem apenas 42 anos, toda uma vida pela frente. Na torcida, continuo esperando tudo.
Fonte: Blog do Gabeira