Começa mais uma semana agitada. Na quarta, o Supremo decide, em reunião plenária, se confirma ou não a decisão do Ministro Barroso em autorizar a CPI da pandemia. Acredito que vai referendar o voto do meio da semana.
Alguns senadores querem incluir estados e municípios nas investigações. É bom porque de um lado tira o argumento de Bolsonaro de que é perseguido, de outro, torna o trabalho mais completo.
Tanto no Rio como em Santa Catarina o comportamento dos governadores resultou em processo de impeachment. Witzel, do Rio, de forma irreversível, creio eu.
Para muita gente, as mortes começam a deixar o domínio dos números e ganham nomes conhecidos, pessoas com quem se conviveu.
Para mim que convivi com muitas pessoas, esse processo já é antigo. Para além dos números, há caras conhecidas, memórias, tanta gente morrendo que às vezes acho estranho e meio irreal que continue vivo.
A Índia decidiu proibir a exportação de Redemsevir, aquele remédio permitido pela Anvisa que encurta o tempo de hospitalização. É um antiviral. Se proíbem o antiviral, creio que seguirão proibindo a exportação de vacinas. A situação lá Índia registra mais de 100 mil casos de contaminação por dia, um número maior que o do Brasil. A verdade é que lá há mais gente:1,3 bilhão de habitantes.
Tudo isso me preocupa. Na Europa, a Astrazeneca tem problemas; na China fala-se da possibilidade de uma terceira dose de Coronavac.
De onde tiramos as vacinas para o processo de vacinação maciça que o Brasil precisa? A única notícia otimista vem dos Estados Unidos onde parece que já vacinaram grande parte da população e seguem produzindo.
Mas os Estados Unidos já indicaram que darão preferências ao México que é vizinho. Mas tudo depende também da argumentação brasileira.
Já existem, segundo pesquisas divulgadas hoje, 90 variáveis de coronavírus no Brasil. A P1, aquela que surgiu na Amazônia, foi encontrada em grande escala numa estação de esqui canadense.
Se o problema do coronavírus ficasse circunscrito a um só país, ele deveria ter sido debelado em Wuhan, onde apareceu. Mas nos tempos globalizados de trocas intensas, todo mundo percebeu, quase todo mundo porque Trump e Bolsonaro são figuras especiais, que estávamos diante de um problema coletivo,de toda a humanidade.
O governo brasileiro tem de aprender a falar essa linguagem, inclusive questionando as patentes.
É difícil convencer Bolsonaro. Mesmo porque, além de sua resistência a considerar o problema da pandemia, vai passar a semana tentando achar uma saída para o Orçamento, cujas contas, segundo Paulo Guedes , não fecham.
A discussão entre o governo e o Congresso está muito interessante porque revela um pouco do Brasil.
Guedes diz o seguinte: vamos cortar R$30 bilhões de emendas parlamentares, lá na frente ajeitamos tudo; já os deputados dizem, vamos manter os R$30 bilhões, lá na frente a gente ajeita,
Tudo muito improvisado, sem visão clara de como conduzir o país, para onde, gastado quanto.
Pelo menos, essas tardes de abril estão lindas. Hoje, ciclando pela Lagoa, vi as pessoas banhadas numa bela luz crepuscular de quase outono. Talvez não se dessem conta mas alguma coisa boa, inconsciente, estava acontecendo com todos que nos moviamos sob aquela luz.
Fonte: Blog do Gabeira