Por intuição deixei de comentar longamente aqui a saída do Ministro Fernando Azevedo da Defesa.
Sabia que as coisas iriam se complicar a partir de uma frase de sua carta, dizendo que manteve as Forças Armadas como instituições do Estado Brasileiro.
Era um recado bastante claro de que não aceitou a tentativa de Bolsonaro de transformá-las em forças de apoio ao seu governo.
Hoje os três chefes das Forças Armadas pediram demissão em protesto contra a pressão bolsonarista.
Abriu-se uma crise militar inédita, precisamente num governo que se dizia portador das bandeiras do período em que os militares dominaram o país.
Bolsonaro enfrenta uma nova situação. Ele afirmou num momento: o meu Exército não sairá às ruas para impor restrições determinadas pela pandemia.
Nem Caxias diria meu Exército, se ressuscitasse de repente. Diria: nosso Exército.
Assim como esperei um pouco ontem, creio que devo continuar esperando para ver como será feita a substituição dos militares demissionários.
Na conversa que tive com observadores militares, há um certo otimismo com a capacidade de resistência legalista nas Forças Armadas.
Isso não dispensa a vigilância da sociedade e sua atuação, mesmo em tempos de pandemia, caso o estado de direito seja violentado.
Há entre os observadores alguma inquietação sobre o trabalho dos bolsonaristas sobre as PMs que não têm a mesma consistência institucional.
Enfim, estamos entrando em tempos mais perigosos ainda. O pano de fundo é a pandemia. Bolsonaro quer aplicar mais amplamente sua política que resulta em mais mortes, num amplo genocídio.
O vírus vai contribuir para sua derrota em 22 ou antes disso.
Perdemos Contardo Calligaris que morreu em São Paulo, aos 72 anos. Era seu leitor e já participei de alguns debates com sua presença inteligente.
As mudanças que esperávamos no Ministério das Relações Exteriores não aconteceram na sua plenitude. Pelo menos, Ernesto Araújo caiu. Nada mais distante do Brasil do que a versão que imprimiu à sua política externa.
O novo chanceler é diplomata, nunca foi embaixador. Sua falta de experiência e possivelmente de brilho é o que Bolsonaro precisa para impor suas diretrizes, sem resistência.
Enfim, a causa do nosso dramático isolamento continua de pé: ela se expressa na destruição ambiental, na tragédia sanitária e se encarna na figura de Jair Bolsonaro.
Fonte: Blog do Gabeira