São Paulo, a maior cidade do Brasil e motor financeiro do país, enfrenta há décadas um problema recorrente e inaceitável: o caos causado pelas chuvas. Apesar de sua gigantesca arrecadação e papel central na economia, a cidade parece incapaz de se preparar para desafios que, ano após ano, se tornam cada vez mais previsíveis. Enchentes, deslizamentos de terra, apagões e colapsos no trânsito já fazem parte do calendário paulistano, gerando frustração e um sentimento de abandono.
Nos últimos anos, os impactos das chuvas têm sido ainda mais graves e frequentes. Em novembro de 2023, tempestades causaram alagamentos em diversas regiões, deixando milhares de famílias desabrigadas, interrompendo o transporte público e provocando apagões em bairros inteiros. Em novembro de 2024, o problema se repetiu com tragédias ainda maiores: deslizamentos de terra em áreas vulneráveis ceifaram vidas e causaram destruição em massa. Mais recentemente, em janeiro de 2025, novas chuvas intensas desencadearam enchentes-relâmpago, quedas de energia e caos generalizado no transporte. Esses episódios escancaram uma realidade alarmante: São Paulo está despreparada para enfrentar tanto as mudanças climáticas quanto os próprios erros de planejamento urbano.
O mais preocupante é que as soluções já existem. Em várias cidades ao redor do mundo, tecnologias avançadas têm sido utilizadas com sucesso para prevenir desastres e proteger populações. Sensores conectados via IoT (Internet das Coisas) monitoram níveis de rios e volumes de chuva em tempo real. Sistemas de inteligência artificial analisam dados meteorológicos com precisão, permitindo ações preventivas antes de tempestades. Aplicativos e alertas automáticos avisam moradores em áreas de risco iminente, enquanto obras de infraestrutura inteligente, como pavimentos permeáveis e reservatórios subterrâneos, reduzem significativamente o acúmulo de água.
Essas soluções são uma realidade em diversas cidades, mas em São Paulo, a resposta do poder público parece parada no tempo. A estratégia ainda gira em torno de construir “piscinões”, uma solução que remonta às gestões de Paulo Maluf e Celso Pitta nos anos 1990 e 2000. Apesar de vivermos em uma era de avanços tecnológicos, o atual prefeito, Ricardo Nunes, insiste em recorrer a estratégias antiquadas, ignorando o potencial de inovações que já transformam outras cidades em exemplos de resiliência urbana.
Esse cenário revela não apenas uma falta de visão, mas também uma gestão focada em soluções de impacto imediato e político, em vez de priorizar investimentos estruturais de longo prazo. É inaceitável que uma cidade que arrecada mais de R$ 90 bilhões por ano em impostos continue refém de problemas crônicos, deixando milhões de pessoas, especialmente as que vivem em áreas mais pobres, expostas a tragédias previsíveis.
Está claro que algo precisa mudar. São Paulo tem o potencial de se tornar referência em gestão urbana e inovação tecnológica, mas isso depende de vontade política e planejamento que transcenda ciclos eleitorais. A escolha de secretários e gestores baseada em alianças políticas, em vez de critérios técnicos, só perpetua o atraso e a ineficiência.
Os cidadãos também têm um papel crucial nessa transformação. É hora de exigir mais transparência, comprometimento e resultados concretos das lideranças públicas. A frustração da população precisa se converter em ação, para que a cidade esteja preparada para os desafios do futuro.
A tecnologia pode, sim, ser uma grande aliada, mas precisa vir acompanhada de liderança responsável, planejamento estratégico e coragem para inovar. São Paulo, com seus vastos recursos financeiros e profissionais qualificados, tem tudo para liderar o Brasil como um exemplo de resiliência e modernidade. Cabe agora aos gestores saírem da inércia e colocarem a cidade na vanguarda da inovação urbana.


Bruno César Teixeira de Oliveira, com uma carreira sólida na gestão de riscos, compliance e prevenção a fraudes em instituições financeiras.