“Que moral tem um membro da mais alta corte de Justiça,um sistema que custa 1,8% do PIB (recursos provenientes do contribuinte) para falar contra o custo para o aperfeiçoamento do sistema eleitoral brasileiro que capacitaria as urnas eletrônicas a fornecerem ao eleitor o voto impresso (auditável)?”
Foto: Google Imagens – Eduardo Pedro Gonçalves – Jusbrasil
Essa questão, formulada por mim, sobre um trecho de um artigo do Fernando Schüler para a revista Veja, gerou atritos.
Considero o custo exorbitante da justiça brasileira, sobretudo se comparado aos custos do setor em diversos países, um abuso do patrimonialismo arcaico, oriundo da tradição cartorial, que se consolidou na alta casta dos servidores públicos. Esse é o maior entrave para reformas que visam estancar a sangria desatada que grassa a economia nacional e que só tende a piorar.
Não se espantem com o que lerão a seguir.
Meu leque de amigos é plural.
Alguns são da esquerda ‘moderada’. Eles acham um disparate o sistema judicial brasileiro. Consideram-no uma engrenagem emperrada, ineficaz e caríssima.
Outros, sem viés ideológico definido, mas que ‘odeiam’ o Bolsonaro – acham-no um boçal/fascista. Para estes, não importa o custo da justiça, contanto que ela foda o governo e o tire do Palácio do Planalto, ela é útil.
Por sua vez, os que acreditam no Bolsonaro, porque acham que ele é um ponto fora da curva na sequencia dos políticos brasileiros que chegaram ao mais alto cargo da nação, o defendem dizendo que ele está sendo alvo dos ataques da justiça, da imprensa, de parte do parlamento e de grupos econômicos afetados pelos cortes de recursos públicos destinados a imprensa e outros setores e pelo seu agressivo perfil populista. Dizem alguns que se ele fosse mais frouxo já teria dobrado e ajoelhado frente aos desejos dos tradicionais vencedores.
Os mais à esquerda, agora inspirados pelo ardor ao ‘garantismo’ emanado do STF, travam a polêmica, recorrendo a peripécias textuais, como a de um longo artigo do site Conjur (junho de 2020) que em um trecho suscita muitas controvérsias e até risadas.
O trecho diz o seguinte: “A avaliação do custo do Poder Judiciário, mais do que ter em vista o elemento produtivo/econômico, precisa levar em consideração o elemento humano/cidadão. Este deve ser o parâmetro fundamental para avaliação quanto ao seu custo para a sociedade”.
Quem tem amigos ainda fiéis à doutrina marxista ou dela derivadas,sabe como eles ficam extasiados com argumentos sobre a “centralidade da economia’ sobre todos os aspectos da vida social, até mesmo existencial.
É prática recorrente nas manifestações dos marxistas conectar o ‘elemento humano’ às suas teses de Estado Forte, controlado por uma casta de servidores públicos justos que, forjados nas caldeiras calientes dos seus sonhos de revolução, ascenderam do proletariado ao topo da cadeia alimentar de onde passam a amar o povo, quando dele mais se distanciam econômica e criticamente.
Como tal tipo de polêmica já se tornou enfadonha,ninguém mais pede um exemplo de êxito dos modelos econômicos baseados no marxismo ou mesmo sobre as virtudes humanitárias do rígido modelo chinês ou de regimes socialistas mais flexíveis, que fundem o idealismo marxista às artimanhas do capitalismo.
Tenho amigos artistas,intelectuais,empresários e rentistas também. Essas categorias se dividem quanto ao tema em tela.
Os mais artísticos, digamos assim,desejam no intimo uma sociedade sem regras e aberta a todo experimentalismo das subjetividades, onde a criação seja uma virtude geral e irrestrita que fará do mundo um lugar melhor para se viver.
Empresários se manifestam de forma objetiva. Sobretudo, quando se trata de Justiça e Negócios.
Os rentistas são mais subjetivos.Seus humores dependem dos fatores em jogo. Com sua renda protegida, a bolsa bombando e os riscos dos investimentos sob controle em fundos abrigados na rede bancária, maior detentor da divida pública nacional e dos juros dela provenientes, não se preocupam com os altos custos da Justiça.
Conforto e segurança econômica confere a essa categoria uma espécie de pódio de onde pode emitir opiniões simpáticas as correntes progressistas, ser hostil ou a favor do governo. Rentistas podem também ser antifascistas, anticomunistas e até mesmo… anticapitalista, sem risco de perder um tostão da sua renda.
Já os intelectuais, como de praxe, antes de qualquer coisa, hostilizam o fascismo. Todavia, o ‘elemento humano’ dessa categoria cola o rótulo de fascista no orador de quem discorda.
Tal reducionismo é muito útil para quem deseja encerrar uma conversa imersa em sentimentalismo e chata pra krlho.
Contudo, amigos intelectuais de viés liberal, são pragmáticos.
Então, a conversa rola mais animada quando um deles sugere aos amigos engalfinhados que abram suas mentes às reformas que situem o indivíduo e a coletividade no centro de um pacto contra os privilégios da alta casta estatal, apontada como epicentro das desigualdades sociais e da injustiça.
Um liberal exaltado de direita, acha que para quebrar as pernas dessa ‘raça’ – ainda que alertado de que marajá e sultão não são etnias – sugere ações objetivas e uma agressividade dirigida ao alvo – aos inimigos da Nação, que seja desprovida de salamaleques, discursos adocicados, tapinhas nas costas com luvas de pelica.
Acredita ele que essa é a única forma de abrir a fenda da hipocrisia, entrada para o abismo social que separa as castas abrigadas na tradição patrimonialista que engrossou suas fileiras através dos séculos e agora amarra a sociedade brasileira no atraso.
Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial “Em Busca da Essência” Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.
Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.
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