
A Folha de São Paulo – sempre ela- trouxe de volta à vida a filósofa(sic) Marilena Chauí. Eu achava que ela já estava tombada pelo patrimônio mobiliário da USP.
Na minha memória, sua ultima e sensacional aparição pública ocorreu por ocasião do trágico acidente do avião da TAM no aeroporto de Congonhas em 2007. Na ocasião a mesma Folha de São Paulo noticiou que a filósofa(sic/sic) Marilena Chauí acusou a imprensa de montar um cenário de “golpe de Estado” durante a cobertura do acidente’ e estava aflitíssima em falar com Lula para saber se tudo corria bem no Palácio.
Foi sedada por um tempo.
Depois reapareceu sem as bandagens mumificadas no auditório da USP para em uma ‘intervenção’ escalafobética, com a presença de seu líder supremo – Lula – dizer que a “classe média é terrorista”.
É claro que não li a matéria da Folha sobre a mais recente ‘reabilitação’ da filósofa(sic/sic/sic).
Aqui, no Facebook, João Luiz Mauad compartilhou um texto delicioso do Paulo Polzonoff para a Gazeta do Povo sobre a mais recente tentativa da FSP de reintegrar a filósofa(sic/sic/sic/sic) no século XXI.
Claro que não resisti. Desabei na gargalhada. Copiei alguns trechos para compartilhar na minha TL e promover a diversão geral.
A personagem, tombada como móveis e utensílios da USP continua destilando: “… ódio à classe média, acho que o problema é conceitual. “A classe média funciona oprimindo os dominados e bajulando os dominantes. Por isso ela é odiosa (…). A Chauí, é “marxista para valer”, como disse à Folha de S. Paulo. E, por isso, não consegue compreender a vida como uma obra colaborativa.
Repare que, para ela, a classe média funciona oprimindo e bajulando, bajulando e oprimindo. Pobre filósofa rica! Que existência desgraçada deve ter tido alguém ao longo de 84 anos para não compreender dinâmicas de classe média que vão muito além da opressão e bajulação.
Sim, a opressão e a bajulação fazem parte da classe média, assim como fazem parte da vida dos ricos e dos pobres. Mas há também o amor, o serviço, o senso de responsabilidade. A vocação na maioria das vezes desconhecida e inata para a excelência.
Aí está: uma filósofa típica do ambiente universitário brasileiro, na verdade uma repartição burocrática destinada a carimbar carreiras ociosas, bem-remuneradas – e em essência inúteis. Do tipo que não deixa rastro. Uma filósofa que se perdeu num labirinto de ideias ultrapassadas e que agora vem a público confessar que, presa no emaranhado de teias de aranha do seu intelecto carcomido por traças ideológicas, é incapaz de contemplar o século 21.
E olha que já se passaram 25 anos, hein!
Que tristeza! Que tristeza deve ser chegar à famosa “idade provecta” sem nenhuma contribuição efetiva para a liberdade, a prosperidade ou a dignidade do país. Sem deixar qualquer legado que não a lealdade a uma ideologia assassina, um livro de culinária e principalmente o ódio ao homem comum, que levanta todos os dias cedo, trabalha, cria os filhos, tenta economizar uns trocados, fica pateticamente feliz com a compra do carro zero ou a vitória do time do coração, ri dos filmes do Leandro Hassum, faz as refeições ao lado de uma reprodução da Santa Ceia…
O homem comum, de classe média, cujo ponto alto da vida talvez tenha sido uma viagem à Disney ou à Europa para tentar tirar aquele sujeito da guarda real inglesa, aquele com o chapelão felpudo, do sério – e postar nas redes sociais. Pois é. Marilena Chauí dedicou toda uma vida, 84 anos, a lutar contra esse inimigo. Esse coitado. Contra mim e contra você.
E agora, octogenária, do alto de toda a “sabedoria” que a filosofia lhe deu, ela vem a público reafirmar suas convicções cheirando à naftalina e babar seu fel contra seus semelhantes, aqueles cuja mera existência lhe soa como ofensa. Uau!
E aí eu volto à pergunta do título: por que a opinião de Marilena Chauí importa?
Será que é porque ela tem um diploma? O que confere a Marilena Chauí autoridade para disseminar o ódio pela classe média e para desprezar o modo de vida de alguém? Por que ela seria referência em qualquer outra coisa além da incapacidade de fazer aquelas reflexões que foram tão caras a Ivan Ilitch no fim da vida?
A resposta à pergunta inicial, portanto, é esta: a opinião de Marilena Chauí, se importa, é como um alerta do que jamais se tornar, do não ser. E do não continuar sendo.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial “Em Busca da Essência” Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.
