3 de maio de 2024
Colunistas Walter Navarro

Feliz dia da Rita Lee

A cada 24h sinto que estou ficando um dia mais velho e não vejo graça.
Ontem, acordei às 4h, com uma dor horrível no joelho direito. Perdi o sono e vi o filme “Elis”, sobre a Elis Regina, que morreu em 1982, aos 36 anos, quando eu tinha 21. Gostei. Do filme.
Rita Lee está com 75 anos. Minha mãe, Cléa, caminhando para os 90, mês que vem.
Misturei joelho, com Elis, Rita, Cléa e tive vontade de ter uma “Jeannie é um Gênio”, para realizar umas vontades e fantasias. Acontece que a Barbara Eden, que fazia o papel de Jeannie e era meu símbolo sexual, tem idade para ser minha mãe, vai fazer 92 anos, em agosto. E tirem o Édipo da sala, por favor.
Jeannie, para quem sabe ou lembra, realizava todos e mais alguns desejos de seu amo, o Major Nelson, literalmente, num piscar de olhos. E até hoje não entendo como o Major Nelson poderia desejar algo melhor que a própria Jeannie, sempre a postos e às ordens, dentro de sua garrafinha mágica. E ele nem precisava esfregar a garrafa, bastava tirar sua tampa.
Sem Jeannie e cachorro no mato, lembrei da Lâmpada Maravilhosa de Aladim. Essa sim: bastava esfregá-la, fazer três pedidos ao Gênio que vivia na lâmpada e pronto, pedidos concedidos.
Três ou infinitos pedidos, não sei, a lâmpada só não pode fazer uma pessoa se apaixonar, nem trazer alguém de volta do mundo dos mortos. Ou seja, não era lá tão maravilhosa assim.
O que eu pediria? Primeiro, que minha mãe tivesse 30 anos a menos. Mas assim, eu e meus irmãos também teríamos que ter 30 anos a menos, caso contrário, ficaria tudo muito estranho.
Mas o que nossos parentes e amigos mais próximos pensariam de nós? Que o milagre era feitiço, pacto com o demônio, tipo “O Retrato de Dorian Gray”.
Então, eu pediria que todos meus amigos e parentes também voltassem 30 anos no tempo. Mas e os amigos deles e os parentes dos amigos? E a Rita?
E se eu pedisse ao gênio da lâmpada que todo mundo ficasse 30 anos mais jovem? Não adiantaria, a Elis Regina continuaria morta…
Além de sem Elis, outro problema. Ninguém poderia ter consciência do tempo que passou e voltou. Seria uma bagunça todo mundo ter, no mínimo, mais duas chances de fazer diferente. Conhecer o futuro, sem poder mudá-lo, deve ser horrível. E sem saber, pra que voltar? Qual a graça de sermos 30 anos mais jovens e mudar nada; fazer tudo certo ou errado de novo.
Pensei em tudo isso porque vi uma foto recente da Rita Lee. E queria que ela tivesse 45 anos de novo. Ou 25.
Rita Lee é sinônimo da mulher ideal, mesmo com todos os defeitos que deve ter. Rita Lee e Leenda. Linda, louca, alegre. Mulher fantástica, exemplo para todas. Mas claro, se todas fossem iguais à Rita Lee, que mundo chato! O Brasil é interessante porque só tem uma.
Rita Lee e Leevre. Livre, leve e solta. Talentosa, gostosa, mesmo magérrima ou falsa magra.
Ovelha negra e doce vampira. Mulher cheia dos melhores e mais obrigatórios afrodisíacos: inteligência, independência, felicidade, deboche, humor, graça. E que boca!
Hoje é Dia Internacional da Mulher, mas não generalizemos certo? Parabéns a todas, mas com moderação, porque há controvérsias. Tem a Rita Lee, mas tem muita mulher aí que humilha Darwin…
Rita Lee é generosa e modesta, quando pergunta: Como vai você?
Assim como eu, uma pessoa comum, um filho de Deus, nessa canoa furada, remando contra a maré. Não acredito em nada, até duvido da fé.
Filha de americano com italiana… E Lee, não é sobrenome. Ela e as duas irmãs, Mary Lee Jones e Virgínia Lee Jones carregavam esta “calça”, em homenagem ao general Robert E. Lee, do exército confederado norte-americano. Pode? Deu no que tá dando e seja o que Deus dará.
O Jones? Deve ser do Indiana ou do David Bowie.
Não vou contar, de novo, pelo menos hoje, a entrevista que fiz com Rita, no hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, em setembro/outubro de 1997.
Como o “gentleman” que sou, fiz questão de colocar o maridão, Roberto de Carvalho, na jogada. Rimos muito. Os dois são hilários, simpáticos, carismáticos.
E claro, porque acho ridículo dizer que atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher. O contrário também. Grandes se atraem.
Este Roberto de Carvalho… Eis um cara de sorte! E um tem mania pelo outro. Leiam que lindas declarações os dois fizeram, numa entrevista em 2003, no GNT.
Primeiro Rita: “Eu tenho a impressão que a gente vai nascer uma coisa só na próxima vida, porque a gente é diferentemente igual, é aquela coisa inexplicável, é realmente inexplicável. O que eu mais gosto é dele, o amor que eu sinto por ele e ele por mim, é a proposta da vida mesmo, amar e ser amada”.
Aí vem Roberto e arrasa: “Eu gosto de tudo junto à Rita, pra mim, estar junto à Rita, de acordar e saber que ela está viva e do meu lado, isso para mim é a grande benção, nada pode ser melhor do que isso. E a Rita tem uma qualidade cativante, que faz ser gostada, amada e admirada pelas pessoas. Isso é incontestável e pra quem está do lado dela, vivenciar momentos de felicidade, em que ela está plena, abundantemente feliz, é totalmente contagiante, intenso, um êxtase, é o máximo. A única coisa que eu quero da vida é que enquanto nós estivermos por aqui, que nós estejamos juntos e quando não estivermos aqui, que nós continuemos juntos onde estivermos”.
Puta amor, orra, meu!
Então fica assim, é isso que desejo a todas as mulheres hoje: uma pitada de Rita Lee e um quilo de Roberto para cada uma. Que amem e que sejam amadas, mesmo no estilo, cada panela tem sua tampa.
E para Rita, em particular, que confessou não querer luxo, nem lixo, mas que sonha ser imortal e deseja saúde pra gozar no final, espero que ela seja, não imortal, posto que é chama, mas infinita enquanto durar e gozar.

PS: Ah! Não fiz, nem roubei versos porque amor é prosa,
sexo é poesia. Amor é bossa nova, sexo é carnaval. Pelo menos até eu achar outra lâmpada maravilhosa.

Walter Navarro, Shangrilá, 8 de Março de 2023.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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