6 de maio de 2024
Editorial

Perdoar o PT? Como? Por quê?

Este Editorial foi escrito a partir da leitura de uma coluna de Ascânio Seleme, no jornal O Globo. Depois de lê-la, senti que precisava dizer alguma coisa. Por uma questão de coerência, vou colocar o link da referida coluna https://oglobo.globo.com/opiniao/e-hora-de-perdoar-pt-24527685. Afinal, nem todos que leem O Boletim leem O Globo e vice-versa, logo podem ter perdido esta “pérola do lulopetismo jornalístico”.

Inicio com uma citação de um outro jornalista: Paulo Polzonoff Jr, jornalista da Gazeta do Povo.

Por falar em perdão. Sim, é hora de o PT pedir perdão. Perdoar, são outros quinhentos!”.

Concordo plenamente com ele. Desculpem-me, mas ainda não consegui esquecer o que o PT fez com o país e nem vê-lo “redimido” dos crimes que cometeu em seus quase 4 mandatos presidenciais – 2 de Lula e um e pouco de Dilma (pouco mais de 5 anos).

Há muito mais além disso. O PT não está sendo recusado pelo povo, salvo pelos 30% que se distribui entre os idealistas e os beneficiados pelo Partido. Ele está sendo apartado pelos brasileiros por tudo o que ele, aí inclusos o Partido em si, seus afiliados e ocupantes de cargos nos governos (federal, estadual e municipal) por todo o Brasil.
É difícil perdoar e aceitar novamente o PT, depois de tudo o que aconteceu. Minha sugestão é que os petistas e afiliados honestos e honrados (sim eles existem) fundem outro partido, ostentando um novo nome e empunhando as suas velhas bandeiras éticas, que foram abandonadas no correr dos anos de poder.
A defesa da tese de perdão traz argumentos para defender um ponto de vista: perdão ao PT. No entanto o que não conta é: o PT não está arrependido, está sendo o que sempre foi, uma estrela vermelha solitária, pois acredita ser superior a todos os demais — isso está no seu DNA. Prova disso? Nunca negociou com o Congresso suas propostas, preferiu comprá-lo.
Mensalão e Petrolão são resultados disso. Quando pomos o PT na posição de vítima – o que nunca foi – e desconsideramos o que o “nós contra eles” representou, não é invenção da direita ou do centro, mas fruto do ódio do próprio PT em debater com aqueles que não se alinhavam com seu projeto — sendo generoso. O isolamento é resultado do caminho que sempre trilharam, ou seja: estão onde sempre estiveram.
Apenas para não cair no esquecimento, vale lembrar alguns dos crimes cometidos pelo Partido ou individualmente por seus afiliados:
Waldomiro Diniz: Ex-assessor do então ministro José Dirceu, Waldomiro Diniz
O então assessor da presidência para assuntos parlamentares protagonizou o primeiro escândalo do governo Lula, em fevereiro de 2004. Waldomiro Diniz foi afastado do cargo depois da divulgação de um vídeo em que aparece cobrando propina para arrecadar dinheiro para a campanha eleitoral de 2002. Ele também foi ligado a Carlinhos Cachoeira.
Deste, eu nem precisava falar, mas vamos lá:
Mensalão
Assustado com a repercussão do escândalo, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu desculpas ao povo brasileiro em nome dele e do PT, durante pronunciamento realizado em Brasília. Em 2005, o esquema de compra de votos comandado pelo governo do PT foi revelado e colocou Lula contra a parede. Deputados eram pagos com dinheiro público, desviado com a ajuda do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do operador Marcos Valério. O esquema, revelado por Roberto Jefferson, era chefiado, segundo ministros do STF, por José Dirceu. Ladrões sempre brigam na hora da divisão da grana, né?

Seguindo…
Cassação de Dirceu
Ele negou ter comprado apoio político, e, em um dos seus discursos de defesa sobre o caso, chegou a dizer: ‘estou cada vez mais convencido da minha inocência’. Com 293 votos a favor e 193 contra, a Câmara dos Deputados cassou o mandato do então deputado José Dirceu (PT-SP) por quebra de decoro, em dezembro de 2015. A decisão ocorreu depois de uma série de depoimentos de Roberto Jefferson (PTB), que revelaram o escândalo do mensalão e dos Correios, e que resultaram na demissão de Dirceu da Casa Civil.
Escândalo dos ‘Aloprados’
Hamilton Lacerda durante as eleições no Diretório do PT em São Caetano em 2006. A Polícia Federal prendeu dois integrantes do PT que tentavam negociar um falso dossiê que ligava José Serra e Geraldo Alckmin – candidatos ao governo de São Paulo e à Presidência, respectivamente – ao escândalo dos sanguessugas. Um dos ‘aloprados’, termo cunhado por Lula, era Hamilton Lacerda, ex-assessor de Aloizio Mercadante.
Renúncia de Palocci
Ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda, Antonio Palocci foi preso em 26 de setembro de 2016. Em março de 2006, Antônio Palocci renunciou ao cargo de ministro da Fazenda. A renúncia aconteceu depois da acusação de que ele teria chefiado o esquema de corrupção na época em que era prefeito de Ribeirão preto. Palocci teria cobrado “mesadas” de até R$ 50 mil mensais de empresas que prestavam serviços à prefeitura para os cofres do PT.
Prisão da cúpula do PT
Genoíno é flagrado a caminho da prisão após o STF determinar a execução das penas dos envolvidos no escândalo do mensalão. Em outubro de 2012, 8 anos após a explosão do escândalo do mensalão, José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares foram condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha. Em agosto de 2014, Genoíno pediu progressão de regime e passou a cumprir a pena em casa, assim como Delúbio e Dirceu.
Faxina de Dilma
No primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff, perderam o cargo sob suspeita de malfeitos os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda), Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva (Esporte), Pedro Novais (Turismo) e Mário Negromonte (Cidades). Dilma enfrentava a primeira turbulência no poder.
Lava-Jato (Petrolão)
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa
O juiz Sérgio Moro, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal conduziram as investigações do maior escândalo de corrupção do país, com o foco inicial no desvio de recursos da Petrobras. Cerca de R$ 2,9 bilhões já foram recuperados. Delatores disseram que parte da propina do esquema ia para o PT.
Prisão do ex-tesoureiro
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, durante transferência para o Complexo Médico Penal em Pinhais, Curitiba. Acusado de receber propina de contratos da Petrobras para o PT, em doações oficiais e em espécie, o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto foi preso em abril de ano 2015. Ele já foi condenado pelo juiz Sérgio Moro.
Pedaladas e o pedido de impeachment
Em parecer unânime do Tribunal de Contas da União, diante, as pedaladas fiscais (manobras contábeis) praticadas pela presidente Dilma Rousseff foram consideradas crime de responsabilidade fiscal. Pedido de impeachment contra Dilma na Câmara defende a cassação por crime de responsabilidade. O que foi efetivado em plenário, com a presença do STF (como manda a CF), mas parcialmente indevida, porque criou uma jurisprudência indevida de cassar o mandato da Presidente e não cassar seus direitos políticos… como se fosse um “cala a boca”. Absurdo!

Marqueteiro é preso
Na fase “Acarajé” da Operação Lava-Jato, o marqueteiro das campanhas de Dilma e Lula, João Santana, foi preso junto com a sua mulher, Mônica Moura. Eles são acusados de receber dinheiro de propina no exterior repassado pela Odebrecht.
Delcído Amaral: ex-líder do governo e delator
O ex-líder do governo, senador Delcídio Amaral, foi preso em flagrante ao tentar comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró. Em negociação para firmar acordo de delação, Delcídio implicou Dilma e Lula no escândalo da Petrobras. Afirmou que ambos atuaram para melar a Lava-Jato.
PF bate na porta de Lula
Na 24ª fase da operação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo da Polícia Federal. Ele foi levado para prestar depoimento (condução coercitiva, na minha opinião, absurda à época, pois ele nem fora convidado ou intimado a depor. Foi uma jogada política da Lava-Jato). Sua relação com empreiteiras já era investigada. Filhos de Lula e o braço-direito, Paulo Okamoto também são alvos da operação.
Depois de julgamentos em Primeira e Segunda Instâncias, o ex-presidente Lula foi preso. Condenado a mais de 12 anos, somente em um dos crimes (triplex), e mais outros muitos, relativos ao sítio de Atibaia… foi solto, pelo leniente – ou comprometido – STF, que rejeitou a Prisão em Segunda Instância.
E ainda há outros processos em andamento, todos em Segunda Instância, com relação aos mesmos mandatos…
Como poder perdoar para redimir seus pecados?
Porém, o tão esperado mas nunca realizado, reconhecimento dos erros do PT no passado recente nunca existiu. Sem esse ato de contrição, o popular mea culpa, fica difícil para o cidadão comum aceitar que os referidos malfeitos não voltarão a se repetir.
Confiança perdida é muito difícil de ser reconquistada!

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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