Falava-se sobre a mansão do banqueiro Edmar Cid Ferreira, que foi a leilão várias vezes e que, desta última, tinha seu valor estimado em 80 milhões de reais – ex-banqueiro que morreu no mês passado e que dessa grana, não consta que tenha levado nem um pedacinho para comprar um terreno no céu… supondo que ele tenha ido para lá, o que me parece pouco provável…
Com 8.500 m², está num dos bairros mais valorizados de São Paulo – não li nas mídias se de fato foi vendida!
O arquiteto que comentava a respeito é uma cabeça privilegiada, que preconiza atitudes em relação ao viver em São Paulo, extremamente vanguardistas – no bom sentido. Homem viajado, viveu em diversas cidades importantes do mundo e seus pontos de vista certamente se chocam com o assim chamado establishment, o que temos como confortável, mas que não é, em absoluto, “válido, lúcido e inserido no contexto”, a não ser naquele contexto que se coaduna com essa expressão usada por mim, já bem ultrapassada…
Na entrevista, a radialista comentou ter visto seis sofás na sala de estar e eu fiquei me perguntando se, em algum momento da vida, eu teria tido um número de amigos (de fato) que pudesse ocupar todo esse espaço sentado…
Em seguida, comenta-se sobre luxo e quem, nos dias de hoje, poderia arcar com ele…
E esse arquiteto, figura que admiro muito, ainda que não compartilhe de todas as suas opiniões – exatamente por serem vanguardistas ao extremo e (irritantemente) irrefutáveis em seu bom senso – se sai com essa:
“Em uma ocasião em que entrevistei Yuval Harari – para quem não sabe ou não se lembra, escritor israelense que escreveu um dos best sellers mundiais, Homo Sapiens – ele me disse a respeito de luxo: “Luxo é não ter celular”.
Yuval, que é casado, deixa o seu, bem como seus compromissos que precisam ser agendados, com seu marido – desnecessariamente, menciono aqui que ele é gay e menciono também que, do meu ponto de vista, ser gay tem essa particularidade, aparentemente de compensação para o enorme número de perrengues que esses caras têm que enfrentar ao longo da vida como tal: são inacreditavelmente sensíveis e muito inteligentes – ao menos aqueles que eu conheço e admiro…
Fiquei, muito tempo depois do final dessa entrevista, matutando a respeito dessa colocação: “luxo é não ter celular”… Simplesmente brilhante: não ter, ou não carregar, o objeto de desejo da maior parte da humanidade, que hoje não ousaria ir ao banheiro sem o próprio!
Voltando para casa de Uber, conversando com o motorista em um congestionamento, ele me diz: “Se eu algum dia não precisar mais trabalhar com aplicativo, não vou querer ter carro!”
Instantaneamente eu me lembrei da assertiva do Yuval Harari…
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!