1 de maio de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Só idiotas e bolsonaristas mascarados ainda acreditam em Bolsonaro

A mais recente mentira de um mentiroso compulsivo.

Só os idiotas de verdade serão capazes de acreditar na desculpa de Bolsonaro para justificar a transferência de R$ 800 mil de sua conta em um banco no Brasil para a conta aberta por ele em um banco nos Estados Unidos. Os bolsonaristas mascarados, também.

Foi por ocasião de sua fuga para Orlando, na Flórida, onde assistiu pela televisão, em doce conforto, à tentativa de derrubada de Lula em 8 de janeiro do ano passado. Dera em nada o golpe planejado por ele entre novembro e dezembro para manter-se no poder.

Descoberta a transferência, Bolsonaro agora disse ao jornal O Estado de São Paulo:

“Eu mandei o dinheiro acreditando na derrocada completa da poupança no Brasil. […] O pessoal me disse que o volume de dinheiro enviado por brasileiros após as eleições multiplicou por três”.

Grossa mentira, mais uma de quem mente compulsivamente. Diz a Polícia Federal em documento enviado ao ministro Alexandre de Moraes, presidente do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para apurar atentados à democracia:

“Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de golpe de Estado que estava em andamento”.

A fuga de Bolsonaro começou a ser tramada ainda em junho de 2022, a quatro meses da eleição que perderia, quando ele e seu ajudante de ordem, o tenente-coronel Mauro Cid, embarcaram juntos no dia 8 para Los Angeles, onde haveria a Cúpula das Américas convocada pelo presidente Joe Biden.

Mauro Cid levou no avião oficial da FAB um kit de joias presenteadas por governos estrangeiros ao Estado brasileiro durante o governo Bolsonaro. Fazia parte do kit: um relógio da marca Rolex de ouro branco, um anel, abotoaduras e um rosário islâmico.

A comitiva de Bolsonaro voltou ao Brasil sem Mauro Cid. Ele levou as joias para a casa do seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, amigo de Bolsonaro há décadas, que chefiava em Miami o escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.

No dia 13 de junho, Mauro Cid viajou à Pensilvânia para vender o relógio Rolex de ouro branco e outro relógio da marca Patek Philippe. A Polícia Federal localizou um comprovante da venda no valor de US$ 68 mil, o que correspondia a R$ 332 mil.

O dinheiro foi depositado no BB Américas, na conta do general Mauro Cid, segundo ele informou ao seu filho. De fevereiro de 2022 a maio de 2023, o general movimentou em sua conta quase R$ 4 milhões – entre valores recebidos e enviados –, destaca relatório do Coaf.

Um novo conjunto de presentes oficiais deixou o Brasil em 30 de dezembro no avião que levou Bolsonaro para o exílio voluntário nos Estados Unidos. Entre os presentes carregados por Mauro Cid dentro de uma mala, havia duas esculturas douradas: a de uma árvore e a de um barco.

Em 18 de janeiro de 2023, em mensagens trocadas com Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, Mauro Cid disse:

“Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil – aquele navio e aquela árvore –, elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro. Então, eu não estou conseguindo vender”.

Em março, o Tribunal de Contas da União começou a discutir sobre a necessidade da devolução das joias que pertenciam ao Estado brasileiro. Foi então que auxiliares de Bolsonaro deram início a uma operação para recuperar e repatriar às pressas o kit de joias roubadas.

Bolsonaro retornou ao Brasil no dia 30 de março. Embora Mauro Cid tenha providenciado para ele um certificado falso de vacinação contra a Covid-19, ele corria o risco de ser forçado pelo governo americano a deixar a casa que um amigo lhe emprestara em Orlando.

Seria humilhante para ele retornar nessas condições. De resto, parte do dinheiro obtido com a venda das joias sumira com a recompra de algumas delas. Bolsonaro não gosta de perder dinheiro, gosta de ganhar, lícita ou ilicitamente, e também por meio de doações.

Em 23 de junho, aliados de Bolsonaro anunciaram uma campanha e pediram doações via Pix para ele. A Justiça de São Paulo havia bloqueado mais de R$ 370 mil de Bolsonaro pelo não pagamento de multas durante a pandemia por não ter usado máscara em diversas ocasiões.

O total doado nos seis primeiros meses foi R$ 17,2 milhões, 17 vezes superior ao necessário. Só idiotas e inocentes ainda acreditam no que Bolsonaro lhes diz. Acreditam também os que escondem seu DNA bolsonarista, seja por vergonha ou falta de coragem de tirar a máscara.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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