
De: Joakim Eliasson, Alain Darborg, Suécia, 2025
(Disponível na Netflix em 2/2025.)
Os Assassinatos de Åre, série sueca de 2025, tem apenas 5 episódios, em um total de cerca de 200 minutos, ou 3h20 – menos, portanto, que Assassinos da Lua das Flores de Martin Scorsese, ou O Brutalista, para dar só dois exemplos. A rigor, a série conta três histórias diferentes – e tem aquele jeito assim de que, se fizer sucesso, poderão vir mais temporadas por aí.
Baseia-se em histórias de Viveca Sten, uma escritora prolífica, tida como um dos mais populares autores nórdicos, que, desde 2008, já vendeu mais 7,5 milhão de exemplares de quase duas dezenas de livros de histórias policiais. As adaptações para a TV de suas obras foram vistas por mais de 100 milhões de pessoas mundo afora.
Três histórias. São dois casos policiais diferentes, dois crimes – e um não têm absolutamente nada a ver com o outro. Um deles, o desaparecimento e a morte de uma jovem estudante, Amanda Halvorsen (Freddie Mosten-Jacob, na foto abaixo), é mostrado nos três primeiros dos cinco episódios, que têm o título de Offermakaren, em inglês Hidden in the Snow, aqui Escondido na Neve. O segundo caso policial, o assassinato de um conhecido desportista tornado empresário, Johan Andersson (Viktor Åkerblom), é contato nos dois eisódios finais, com o título de Dalskugan, em inglês Hidden in Shadows – Escondido nas Sombras”
Cada história tem seu próprio diretor: Joakim Eliasson dirigiu os três episódios de Escondido na Neve; Alain Darborg, os dois episódios Escondido nas Sombras. Até mesmo os diretores de fotografia são diferentes: Nea Asphäll fez os episódios 1 a 3, Benjam Orre os episódios 4 e 5.
O que une as duas histórias é a geografia: os dois crimes acontecem em Åre, pequena cidade no Norte da Suécia, na província de Jämtland, de apenas cerca de 1,5 mil habitantes – mas, situada em região montanhosa, com altitudes acima de 1 mil metros, é uma estância turística, o principal centro de esqui da Suécia, que atrai milhares de visitantes.
Une também os dois crimes diferentes o fato de que são investigados pelos mesmos policiais – e aí está a terceira história contida na série. Além dos dois casos policiais, Os Assassinatos de Åre, Åremorden no original sueco, focaliza a história dos policiais Hanna Ahlander (Carla Sehn) e Daniel Lindskog (Kardo Razzazi).
Nas investigações, eles são acompanhados pelos dois outros policiais do destacamento de Åre, Anton (Charlie Gustafsson) e Raffe (Francisco Sobrado), sob a supervisão da chefe local, Birgitta Grip (Pia Johansson).
Mas o centro da trama são Hanna e Daniel. Dois jovens mas já experientes policiais, dois policiais sérios, dedicados, competentes. E belos, os dois.
Hum… Dois policiais jovens atraentes, trabalhando juntos, passando boa parte do tempo juntos… Isso tem pinta de que pode resultar em alguma coisa, né?
Fiquei com essa sensação no início. A sensação continuou mais adiante. Mas, porém, todavia, contudo, no entanto…

Hanna Ahlander não é de Åre, nem daquela região. É da polícia da capital, Estocolmo. Aconteceu de ela estar em um período fora do trabalho, quando, ao mesmo tempo, houve o rompimento da relação com o namorado. Ela precisava reorganizar a vida, achar um apartamento, descansar – e a irmã e o cunhado tinham uma casa para passar férias em Åre. Assim, lá foi ela rumo à estação de esqui.
Só que, por um desses acasos de que é feita a vida – tanto na real quanto nas da ficção –, a moça chega a Åre exatamente quando a pequena cidade está abalada com o desaparecimento da jovem Amanda. E ela logo se oferece – assim como dezenas de moradores – para participar das buscas pela garota desaparecida.
Os roteiristas resolveram abrir o primeiro episódio de Os Assassinatos de Åre justapondo sequências que mostram os últimos momentos de Amanda antes de desaparecer com a chegada da policial Hanna à cidade onde pretendia descansar na bela casa da irmã.
Confesso que, naqueles primeiros minutinhos, pensei naquela regra que tem sido tão seguida atualmente, a de que Podendo-Complicar-a-Narrativa,-Por-que-Simplificar? Mas a sensação passou logo. Com exceção daquela abertura, de fato um pouquinho confusa, a narrativa escrita por Karin Gidfors & Jimmy Lindgren com base em histórias criadas por Viveca Sten é correta, escorreita, sem firulas desnecessárias.
Na véspera do Dia de Santa Luzia, Amanda e pelo menos duas dezenas de jovens estavam na festa na casa de Ebba (Frida Argento). Lá pelas tantas, Amanda liga para o pai – quer saber se ele poderia pegá-la na casa da amiga. O pai, Harald (Henrik Norlén) não atende ao celular porque, naquele exato momento, 23h30, como mostra o celular que a câmara focaliza, está trepando com a amante, Mira (Siham Shurafa), no carro dela.
Amanda vai, então, em direção à sua casa a pé, levando a bicicleta, através de uma estrada tomada por gelo e neve.
Um carro se aproxima dela, o motorista buzina. Amanda caminha então até o carro.
Vemos os créditos iniciais, e ouvimos a voz de Hanna falando ao telefone com sua irmã, Lydia (Cora Watson), enquanto dirige na noite profunda numa estrada bem, parecida com aquela em que Amanda estava. Falam sobre o fim da relação de Hanna com o namorado. – “Christian não pode expulsar você do apartamento”, diz a irmã. Em seguida diz que está contente com o fato de que Hanna pôde sair de Estocolmo – e dá instruções sobre como entrar na casa, diz que vai passar a senha do portão por mensagem.
A câmara focaliza em close-up o rosto de Hanna no carro, depois em um posto de gasolina e na casa da irmã. É um belo rosto – mas de uma mulher cansada, angustiada, que está sofrendo profundamente com o momento ruim na vida. (Na foto abaixo, Carla Sehn, que faz Hanna.)

Na sequência seguinte à da chegada de Hanna à casa da irmã em Åre, a mãe de Amanda, Lena (Sofia Papadimitriou Ledarp) está se preparando para ir à igreja, de manhãzinha, céu ainda totalmente escuro. Seus dois filhos mais novos estão se aprontando. Ela bate na porta de Amanda, chama pela filha, entra – e vê que a garota não está lá. Acorda o marido, conta que Amanda não está em casa. – “Ela deve ter ficado na casa de Ebba. Detesto quando ela faz isso.”
Toca a campainha da casa, Lena vai atender – é Mira, na cabeça de Lena uma colega de trabalho do marido. Está com o telefone celular de Harald – “Cheguei cedo no trabalho e vi que ele esqueceu lá na mesa dele”. Nós, espectadores, havíamos visto o telefone no banco de trás do carro em que Harald e Mira trepavam.
Harold chega à sala, Lena vai ver como os dois filhos mais novos estão se aprontando. Mira diz baixinho para Harald que Fredrik, o marido dela (Olle Sarri), encontrou o telefone no carro. – “Acho que ele sabe”, ela conta, e, antes de sair, diz que seria melhor eles pararem de se ver.
Assim que ela sai, Harald pega o celular, e vê que a filha mais velha havia ligado para ele.
Logo em seguida Lena, os filhos e dezenas e dezenas de moradores estão na belíssima igreja do lugar, celebrando o dia de Santa Luzia. Estamos aí com apenas oito minutos, e já aconteceram diversos fatos importantes.
– “Muitos elementos”, me peguei comentando com a Mary ali pelo segundo episódio. E repeti várias vezes o mesmo comentário ao longo dos demais episódios.
Muitos elementos em cada uma das duas histórias policiais – e na história dos policiais. Impressionante. Parece uma característica da ficção dessa escritora de imenso sucesso de quem eu jamais tinha ouvido falar, Viveca Sten.
Coisas estranhas, esquisitas, que deixam suspeitas
Muitos elementos.
* Ebba, a amiga de Amanda, colega de escola, que havia dado a festa, tem algumas atitudes um tanto estranhas. Na sequência inicial, durante a festa, ela observava Amanda de longe. Na manhã seguinte, quando Harold, o pai da amiga, aparece na casa dela e faz perguntas sobre a filha, Ebba demonstra claramente que está escondendo coisas.
E são muitas as coisas que ela está escondendo, conforme o espectador irá vendo ao longo dos três episódios da história. Coisas importantes, terríveis.
* O cachorro da família de Amanda é encontrado morto, envenenado. Harald, o pai, se questiona se há alguém querendo se vingar dele, de sua família. E, bem, há alguém que poderia estar querendo se vingar dele, sim – Fredrik, o marido da mulher com quem ele andava transando. A polícia vai suspeitar de Fredrik.
* Surge dentro da casa de Lydia, onde Hanna estava vivendo aqueles dias, uma faxineira um tanto estranha, que se identifica como Zhura, (Diana Gardner). É uma imigrante, provavelmente do empobrecido Leste Europeu, que não fala sueco, apenas inglês. O espectador ficará sabendo que havia uma ligação entre Zhura e Amanda – a jovem estudante, uma idealista, uma altruísta, tentava ajudar a imigrante pobre.
* Um dos professores de Amanda e Ebba no curso secundário, um tal Lasse Sandahl (Fredrik Söderholm) também terá um papel importante na trama – um papel obscuro, negativo, ruim.
* Bosse Lundh (Robin Stegmar) é o organizador das buscas por pessoas desaparecidas naquela região do país. Hanna o vê pela primeira vez
quando se oferece como voluntária – juntamente com dezenas de outras pessoas do lugar. Mais tarde o espectador verá esse Bosse Lundh em sua casa, na festa de seu aniversário, organizada por sua mulher, Annika (Moa Gammel). O casal tem uma discussão brava, num momento em que se isolam dos convidados – e aquilo deixa o espectador com uma pulga atrás da orelha. Daí a algum tempo fica-se sabendo que Annika tem uma empresa de limpeza, que faz faxina na casa das pessoas – uma ligação com a imigrante Zuhra. E que a empresa está afundada em dívidas.
Muitos elementos.

Quando o corpo de Amanda aparece, Hanna procura Birgitta Grip, a chefe do destacamento policial de Åre, explica que trabalha em Estocolmo mas está de licença, e se oferece para trabalhar na investigação. Como seu grupo é bem pequeno, Birgitta, é claro, fica feliz da vida e coloca Hanna para trabalhar ao lado do seu policial mais experiente, Daniel Lindskog.
Em uma bela sacada do roteiro, Hanna e Daniel já haviam se conhecido, por absoluto acaso, logo no dia seguinte à chegada da moça a Åre. Hanna havia pegado o carro da irmã e ido até a área central da cidade; como não conhecia nada, entrou em uma contramão. Daniel estava passando, pediu para ela fazer a volta; como Hanna teve dificuldade de engatar a ré no carro que não dominava, o policial da cidade pediu um documento de habilitação da forasteira. Hanna procurou, não achou, explicou que tinha deixado no seu carro, que aquele era da sua irmã, ou do seu cunhado – mas aí se lembrou de mostrar a identificação de policial de Estocolmo.
Ao saber pela chefe que a moça iria trabalhar com ele, Daniel, por via das dúvidas, resolveu se informar sobre ela com amigos policiais da capital. E ficou sabendo por eles que Hanna havia sido colocada em dispensa provisória enquanto a corregedoria examinava uma acusação de assédio feita contra ela.
Daniel, é claro, fica um tanto de pé atrás com a colega. Mas qualquer desconfiança que pudesse ter vai desaparecendo com o tempo, diante da seriedade com que Hanna se dedica ao trabalho de investigação de cada pista que poderia levar ao esclarecimento do assassinato da garota Amanda.
E, com o tempo, Hanna esclarece a história da acusação de assédio contra ela. A acusação era mentirosa – e lá pelas tantas uma pessoa da corregedoria liga para Hanna com a informação de que a investigação havia sido concluída e a acusação contra ela retirada.
Ao final do terceiro episódio da série, o caso de Amanda resolvido, com a prisão da pessoa assassina, Daniel pergunta a Hanna se ela não gostaria de pedir remoção de seu posto em Estocolmo para ficar mais tempo em Åre.
E, no início do quarto episódio, poucas semanas após a solução do caso Amanda, acontece uma nova morte violenta ali.

O segmento Escondido nas Sombras começa com belíssimos planos gerais de uma região próxima a Åre – uma imensa área toda coberta de neve, uma espécie de vale cortado por uma ponte de estrada de ferro. A câmara está bem no alto, muito provavelmente em um drone, e ela faz um travelling suave pela paisagem. Pessoas andando por ali parecem pequeninas. Há um suave zoom para mais perto – e vemos que caminha na frente uma criança, seguida por um adulto. A criança é a primeira a avistar algo na neve. O zoom prossegue em direção a esse algo, um ponto mais escuro no meio da brancura da neve que enche toda a tela – uma cabeça decepada.
Daniel estava para entrar em um período de licença-paternidade, para cuidar da filhinha bebê, Alice – sua jovem mulher, Ida (Cecilia Forss), iria passar uma breve temporada fora, fazendo um curso.
Diante do novo caso ocorrido na região, Daniel até pede para Ida ficar, adiar o curso – mas ela se recusa terminantemente. O resultado é que o policial passará os dias seguintes dividido entre os cuidados com a filhinha e as investigações. Vai deixar Alice sob os cuidados da sogra – o que provocará, na volta de Ida, discussões, stress.
Naquele trecho de campo coberto de neve, perto da grande ponte ferroviária, haviam sido achados diversos pedaços de um corpo de homem. Uma coisa horrível, mesmo para policiais experientes, de estômago forte.
O policial Raffe conta para Hanna – e para o espectador – que aquela ali é chamada de ponte do suicídio. Uma indicação óbvia de que já tinha havido casos de mortes ali – algo que sugere, também, que um corpo estendido na via férrea pode ser partido, cortado, desmembrado em várias partes pelas rodas dos vagões.
A jovem legista Ylva (Maxida Märak), no entanto, afirma com segurança que o homem já estava morto quando o corpo foi desmembrado.
Ao ouvir as explicações da legista, o mais jovem do destacamento policial de Åre, Anton, pede licença para se ausentar do local onde estão os restos do morto, e sai para vomitar.
Muitos elementos. Como a primeira história, esta segunda é cheia de diversos elementos. Depois de passar mal diante dos pedaços de corpos e das explicações da legista, o jovem policial Anton vai para um bar-boate da cidade – e fica conhecendo um rapaz que o paquera, e os dois saem do bar apressados para uma transa na casa do sujeito.
O sujeito se chama Carl Willner (Samuel Astor), e, mais tarde, passará a ser um suspeito do assassinato.
Sim, porque, com as provas recolhidas pela legista Ylva, a polícia passa a tratar o caso não como possível suicídio, mas como assassinato.

Uma mulher chamada Marion Andersson (Agnes Kittelsen) liga para a polícia, e diz que seu marido, Johan, não havia aparecido em casa, e não atendia ao celular.
Johan Andersson era uma pessoa bastante conhecida em Åre, e em toda o país, um ex-astro do esqui, campeão do mundo, tornado empresário, dono, com o amigo e sócio Linus Sundin (Philip Oros), de uma empresa de eventos turísticos e esportivos. Depois do telefonema de sua mulher, a identificação do corpo havia sido feita rapidamente. E mais: exames mais detidos, mais específicos, haviam determinado que a causa da morte havia sido um golpe violento na cabeça. Homicídio, sem sombra de dúvida.
Muitos elementos: um policial que está sendo obrigado a tomar conta da filhinha bebê porque a esposa estará ausente. Um outro policial que está tendo um caso com um grande amigo da vítima.
Mas tem mais, muito mais.
Um dos principais projetos da empresa de eventos do morto e seu sócio estava ligado à diocese – e o pastor Ole Nordhammar (Björn Elgerd), um sujeito muito jovem para o cargo, e muito estranho, havia de repente, dias antes da morte de Johan, cancelado totalmente o projeto, deixando a empresa em uma péssima situação.
A jovem e belíssima mulher do pastor, Rebecka (Amalia Holm, na foto acima), tem também um comportamento bastante estranho, como bem notam Daniel e Hanna, em visita ao pastor para perguntar sobre o projeto envolvendo a empresa de Johan. Hanna, em especial, com a sensibilidade feminina, fica intrigada com Rebecka – e descobre que a bela jovem apanha do marido pastor de Deus! E que, além disso, era amante de Johan, o morto.
E ainda tem a figura de Jens (Jon Øigarden), o ex-de Marion e pai biológico de Leo (Baxter Renman), o garoto aí de uns 10, talvez 12, que Johan criava com muito carinho, amor.
Muitos elementos. Pelo que mostram as duas desta série Os Assassinatos de Åre, as tramas criadas por essa dama sueca do crime Viveca Sten têm muitos, muitos elementos.

Sou um leitor de novelas policiais/espectador de filmes e/ou séries policiais meio esquisito, eu acho. Claro: me fascinam as tramas policiais em si, a forma com que os autores e realizadores expõem os fatos, vão mostrando como agem os investigadores, como as pistas vão sendo descobertas, tudo isso. Gosto demais dos bons whodunit, as tramas em que o fundamental é saber quem fez, quem matou, que só revelam tudo no final – o estilo Agatha Christie de criar e contar as histórias. Gosto demais, também, das tramas que, ao contrário, vão revelando para o leitor/espectador, pouco a pouco, algumas pistas, às vezes até revelando para nós coisas que os próprios investigadores só irão descobrir depois – o estilo preferido por Alfred Hitchcock, que sempre dizia e repetia que desta maneira, revelando fatos para o espectador, o suspense ficava maior.
Gosto demais de histórias policiais – mas, engraçado, me fascinam de maneira especial os personagens dos detetives, dos policiais. A vida pessoal de quem investiga os crimes. Os problemas que a dedicação deles ao trabalho trazem para suas relações com os cônjuges, os filhos. As relações entre eles e seus colegas de trabalho, as disputas, as brigas, as amizades que se travam, se fortalecem, os amores que surgem.
“Meio esquisito”, eu disse – mas seria mesmo esquisito isso? Ora bolas: eu poderia apostar que as pessoas sabem mais sobre a personalidade de Sherlock Holmes, dr. Watson, Hercule Poirot, Miss Marple, Sam Spade, Perry Mason, Philip Marlowe, Mario Conde, Delegado Espinosa, Comissário Maigret, Harry Hole, do que propriamente dos crimes que eles investigaram…
Bem… De qualquer forma, achei que uma das melhores coisas desta série Os Assassinastos de Åre é a relação entre os dois principais personagens, os policiais Hanna e Daniel.
Como nas comédias românticas, a relação entre os dois começa com um certo desentendimento, um certo estranhamento: o policial da província pede a carteira de motorista da policial da metrópole, da capital. E, depois, quando ela se apresenta para trabalhar com ele, Daniel desconfia, liga para conhecidos em Estocolmo, tenta levantar a ficha da moça, vê que há ali um afastamento do trabalho para investigação de comportamento.
Os Assassinatos de Åre não tem nada a ver com uma comédia romântica, mas o fato é que, como nas comédias românticas, a relação entre a mocinha e o mocinho da história começa meio mal, meio com problemas – mas logo as coisas vão se acertando, e os dois vão se aproximando, ficando bons amigos.
No terceiro dos cinco episódios, o último da história “Offermakaren”, “Escondido na Neve”, Hanna, cabeça dura, workaholic, desobedece a uma orientação de Daniel, e parte para fazer uma investigação de noite, numa estrada afastada – e acaba sendo perseguida pelo assassino da garota Amanda e deixada quase desacordada no campo nevado. Daniel pressente o problema, vai atrás da colega, consegue encontrá-la e, depois de chamar uma ambulância, a protege da hipotermia abraçando-a.
Ao longo dos episódios quatro e cinco, na história Dalskugan, Escondido nas Sombras, os dois já são amigos, companheiros bem próximos. Há um estresse entre Daniel e sua mulher Ida – mas ele ama a mulher, e resiste à possível, provável atração que àquela altura está sentindo pela colega bonita, atraente.
Se houver uma segunda temporada desta Åremorden, acho difícil que Daniel continue resistindo.
A série tinha boa aprovação no IMDb e no Rotten Tomatoes
A bela Carla Sehn nasceu em Estocolmo, em 1994, filha de pais poloneses. Poderia ter virado música – estudou piano clássico por dez anos na Lilla Akademin da capital sueca. Estudou na Escola de Economia de Estocolmo e fez psicologia na britânica University of Exeter. Que figura! Em 2016, finalmente, entrou para a Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo. Começou a carreira em uma série da TV sueca em 2009, e neste início de 2025, época do lançamento de Os Assassinatos de Åre, aos 30 anos de idade, tinha já 16 títulos no currículo – inclusive, vejo agora, a gostosa, ótima série Gente Ansiosa, de 2021. Não me lembrei dela na série ao ver agora Os Assassinatos de Åre.
No IMDB, no final de fevereiro de 2025, pouco mais de duas semanas após o lançamento, a série estava com a nota de 6,7 em 10, média da avaliação de 6,8 mil leitores do site enciclopédico. No Rotten Tomatoes, tinha 83% de aprovação entre os críticos e 77% entre os seres humanos, perdão, os leitores do site.
Anotação em fevereiro de 2025
Os Assassinatos de Åre/Åremorden
De Joakim Eliasson, Alain Darborg, Suécia, 2025
(Joakim Eliasson dirigiu os três episódios “Offermakaren, Hidden in the Snow, Escondido na Neve”. Alain Darborg dirigiu os dois episódios “Hidden in Shadows, Escondido nas Sombras”).
Com (nos cinco episódios:)
Carla Sehn (Hanna Ahlander),
Kardo Razzazi (Daniel Lindskog),
Charlie Gustafsson (Anton Lundin), Francisco Sobrado (Raffe Herrera), Pia Johansson (Birgitta Grip, a chefe da polícia de Åre), Cecilia Forss (Ida Lindskog, a mulher de Daniel), Algot Tangen (Alice, a filhinha de Daniel e Ida), Maxida Märak (Ylva Labba, a legista)
(nos episódios 1 a 3, “Offermakaren, Hidden in the Snow, Escondido na Neve”:)
Freddie Mosten-Jacob (Amanda Halvorsen, a garota assassinada), Henrik Norlén (Harald Halvorsen, o pai de Amanda), Sofia Papadimitriou Ledarp (Lena Halvorsen, a mãe de Amanda), Frida Argento (Ebba Niemi, a grande amiga de Amanda), Siham Shurafa (Mira Berg, a amante de Harald), Olle Sarri (Fredrik Berg, o marido de Mira), Fredrik Söderholm (Lasse Sandahl, o professor de Amanda e Ebba), Robin Stegmar (Bosse Lundh, o marido de Annika), Moa Gammel (Annika Risberg, a empresária), Diana Gardner (Zuhra, a imigrante faxineira), Cora Watson (Lydia, a irmã de Hanna)
(nos episódios 4 e 5, “Hidden in Shadows, Escondido nas Sombras”:)
Amalia Holm (Rebecka Nordhammar), Björn Elgerd (Ole Nordhammar, o pastor), Agnes Kittelsen (Marion Andersson), Baxter Renman (Leo Andersson, o filho de Marion e Jens), Viktor Åkerblom (Johan Andersson, o homem assassinado), Jon Øigarden (Jens Wenolf, o ex de Marion e pai de Leo), Samuel Astor (Carl Willner, o amigo de Johan, que namora o policial Anton), Philip Oros (Linus Sundin, o sócio de Johan)
Roteiro Karin Gidfors & Jimmy Lindgren
Baseado em histórias de Viveca Sten
Fotografia Nea Asphäll (episódios 1 a 3), Benjam Orre (episódios 4 e 5)
Música Anders Herrlin, Jennie Löfgren
Montagem Ellen von Zweigbergk, Fredrik Alneng, Boris Murzin, Magnus Häll, Håkan Karlsson
Desenho de produção Teresa Beale
Figurinos Amanda Hansson
Produção Brita Lundqvist, SF Studios, Viaplay
Cor, cerca de 200 min (3h20)
Fonte: 50 anos de filmes

Jornalista, ex-editor-executivo do Jornal O Estado de S. Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.
