24 de abril de 2024
Ricardo Noblat

PT sem petismo

Militantes (VEJA.com/AFP)

A história do PT guardará o nome de João Vaccari, ex-tesoureiro do partido, preso por envolvimento com corrupção na Petrobras.
Ele foi citado na abertura e no fechamento do 5º Congresso do PT, em Salvador.
Na quinta-feira à noite, lembrado por um militante, Vaccari ganhou três minutos de aplausos.
No sábado à tarde, elogiado por Rui Falcão, presidente do partido, foi de novo demoradamente aplaudido.
Nenhum dos 720 congressistas mencionou os nomes de José Dirceu, ex-ministro de Lula, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, ambos condenados como mensaleiros. Foi como se jamais tivessem existido.
Quanto à corrupção, assunto incômodo para petistas de todos os matizes, nada se discutiu no congresso. Por isso ficou de fora da “Carta de Salvador”, documento com 3.834 palavras.
Um anexo à “Carta” reuniu as 13 resoluções aprovadas pelo congresso. Com 4.730 palavras, dedica à corrupção menos de 600. Dessas, 415 se ocupam do que os governos do PT fizeram para combatê-la.
As demais informam que o partido promoverá uma campanha de comunicação a respeito. E criará um grupo de “juristas progressistas” para refletir sobre o papel da Justiça “na criminalização da política, dos partidos e dos movimentos sociais”.
O congresso ensinou ou reforçou duas coisas: o PT está longe de morrer como querem seus adversários. E longe de voltar a se parecer com o que foi.
Congresso de partido por aqui se resume a aclamar seus líderes e a deliberar sobre o que eles propõem.
Em Congresso do PT, a discussão corre solta. Quem tem mais votos, leva. E, salvo Lula, os demais líderes não escapam a duras críticas.
Entenda-se por petismo um conjunto generoso de valores, princípios e boas ideias que foram desprezadas tão logo o partido chegou ao poder.
Ou antes, quando Lula concluiu que para o PT chegar lá precisava jogar conforme as regras do jogo. Para tal orientou Dirceu.
O partido fez concessões reprováveis. Desfigurou-se. Mergulhou na lama. E está ameaçado de perder sua base social.
O PT não está apenas “machucado” como admite Lula. Atravessa a pior crise dos seus 35 anos.
Reelegeu Dilma pelo pau do canto. E à custa de um formidável estelionato eleitoral. Nem Fernando Collor, deposto por corrupção, foi tão impopular quanto Dilma é.
Os 30% dos brasileiros que preferiam o PT se reduziram a 5%. O partido perdeu o monopólio das ruas desde 2013.
Parte dos petistas que não se reconhece no atual PT alimentou o sonho de que o 5º Congresso pudesse marcar o início da reconciliação entre o partido e o petismo. Pois sim…
Obediente a Lula, a tendência majoritária impôs sua vontade sem ceder em absolutamente nada. De resto, algemou o partido ao governo. Optou assim pela paralisia.
Foi o triunfo da insolência burra.
Envelhecido, o PT avisou aos eventuais interessados: “Quem quiser venha conosco pelo que fizemos até aqui, e que já foi muito”.
Não acenou para eles: “Quem quiser venha conosco pelo que já fizemos e pelo que ainda pretendemos fazer”.
A saber: isso, aquilo e aquilo outro. Tópicos de uma nova agenda capaz de atrair uma nova esquerda e de agradar aqueles à procura de uma ideologia.
Na véspera da instalação do congresso, a propósito de meios para financiar campanhas, Jaques Wagner, ministro da Defesa, disse que o PT não é melhor do que os outros. Portanto, não deve recusar dinheiro de empresas privadas.
Ora vejam! O PT que há 12 anos se apresentava como um partido diferente dos outros suplica, agora, para ser tratado, pelo menos, como igual aos outros.
Texto do dia 15/06/2015
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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