14 de outubro de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

O que significa o cumprimento de Bolsonaro a Alexandre de Moraes

O ministro foi mais aplaudido do que o presidente.

Muda nada o cumprimento cordial trocado por Bolsonaro com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, na posse dos novos ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília. A iniciativa foi de Bolsonaro.

A certa altura da cerimônia, quando o locutor registrou a presença de Moraes, o auditório do TST, lotado por juízes, advogados e servidores, irrompeu em aplauso. Foi um longo aplauso. Bolsonaro recusou-se a aplaudir, com as mãos pousadas nas pernas.

Na hora de ele ir cumprimentar os juízes empossados, um por um, Bolsonaro viu que Moraes, sentado, estava imediatamente depois deles. Não cumprimentá-lo seria uma afronta, e ele sairia dali com a merecida pecha de homem mal educado.

Então, avisou-o com um gesto de mão que deveria levantar-se para receber o cumprimento, gesto que seria dispensável porque Moraes também é um homem educado. A cena durou menos de 5 segundos, se tanto. E foi aplaudida também.

No mesmo dia, Bolsonaro havia atacado outra vez Moraes, embora sem citar seu nome. E Moraes havia aplicado mais uma multa, a terceira, ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) pelo não uso de tornozeleira eletrônica como ele havia determinado.

Silveira foi condenado pelo Supremo por 10 votos contra 1 a 8 anos e 9 meses de prisão e perda de mandato por ameaças e incitação à violência contra ministros da Corte. A pena foi indultada por Bolsonaro. Moraes entende que a perda do mandato se mantém.

A birra de Bolsonaro com Moraes nada tem a ver com Silveira. Bolsonaro quis pôr um delegado da confiança dos seus filhos na direção da Polícia Federal – Moraes impediu. É Moraes que preside os inquéritos que ele e os filhos respondem no Supremo.

Não bastasse, Moraes, a partir de agosto, será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Quer dizer: será ele quem presidirá as próximas eleições. É o pior cenário possível para Bolsonaro que vê no ministro seu maior inimigo, só menor que Lula.

Para quem está empenhado em desacreditar o sistema eleitoral e prepara-se para desconhecer os resultados das eleições caso as perca, Moraes é o alvo ideal. E Bolsonaro, com a concordância dos militares que o cercam, não esconde isso de ninguém.

O Brasil jamais ouviu da boca de um aspirante a golpista que ele pretendesse dar um golpe se tivesse força para isso – agora, ouve.

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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