24 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Manifesto de um presidente em defesa de policiais assassinos

O que disse Bolsonaro sobre mais uma chacina no Rio.

Ferido em ação na Vila Cruzeiro é levado para hospital Getúlio Vargas Reprodução

“Parabéns aos guerreiros do Bope e dos que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa.”

(Neutralizar é o novo sinônimo de matar. Foram mortas 25 pessoas na segunda maior chacina policial da história do Rio. Marginais também têm direito à vida, e ainda não se sabe se 20 dos 25 mortos eram marginais.)

“A operação vinha sendo planejada há meses, e os agentes de segurança monitoravam os passos de chefões do tráfico com objetivo de prendê-los fora da comunidade, o que não foi possível devido ao ataque da facção, fazendo-se necessário o uso da força para conter as ações.”

(Essa é a versão escarrada da polícia que o Ministério Público investigará para saber se é verdade ou se é a desculpa sempre oferecida quando acontece uma coisa dessas. Nenhuma autoridade responsável se apressaria a assinar embaixo, menos ele.)

“Para se ter ideia do grau de violência dos bandidos, parte dos alvos da operação foi responsável pelo assassinato de 13 agentes de segurança pública somente em 2022. ‘Especialistas’ omitem essas informações com o intuito de demonizar aqueles que arriscam suas vidas por nós.”

(Outro trecho do discurso que a Polícia do Rio tem pronto para oferecer a cada nova chacina. O presidente amigo de milicianos celebra a “justiça” feita ao arrepio da lei. Queiroz, seu parceiro, acompanhou-o: “São 20 votos a menos para a esquerda”)

“A ação integrada resultou ainda na apreensão de grande quantidade de drogas; 13 fuzis, 4 pistolas e 12 granadas; além de recuperar 30 veículos roubados.”

(Quer dizer o que com isso? Que a apreensão de drogas, fuzis, pistolas e granadas compensa as 25 mortes? Por que não disse que nenhum dos bandidos procurados foi preso? Como pode ter sido bem-sucedida uma operação que resultou apenas em mortes?)

“Lamentamos pela vítima inocente, bem como pela inversão de valores de parte da mídia, que isenta o bandido de qualquer responsabilidade, seja pela escravidão da droga, seja por aterrorizar famílias, seja por seus crimes cruéis.”

(Cadê as provas de que a mídia isenta bandido? Sem mais nem menos, o porta-voz da Polícia Militar do Rio culpou o Supremo Tribunal Federal pela chacina. Afinal, se Bolsonaro esculacha o tribunal, por que policiais não poderiam fazê-lo também?)

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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