3 de outubro de 2024
Ricardo Noblat

Agrava-se a crise política na Venezuela que desgasta a imagem de Lula

Maduro chama a polícia para prender quem o derrotou nas eleições

Lula tem frequentes ataques de cólera por conta do que acontece na Venezuela de Nicolás Maduro. Teve mais um ontem quando soube que a Procuradoria-Geral em Caracas pediu a prisão de Edmundo González, candidato da oposição nas eleições de julho. Horas depois, um tribunal de primeira instância acatou o pedido.

O fato muda qualquer perspectiva de uma mediação como a que Lula pretendia exercer. E deu-se no mesmo dia em que o governo dos Estados Unidos apreendeu o avião presidencial de Maduro que estava estacionado na República Dominicana, alegando que ele foi comprado ilegalmente e contrabandeado.

A prisão de Gonzáles, que três vezes convocado a depor não se apresentou à Procuradoria, provocará uma pressão ainda mais intensa da comunidade internacional sobre o governo de Maduro. De comum acordo com a oposição, Lula havia proposto a realização de novas eleições na Venezuela. Maduro recusou.

Maria Corina Machado, líder da oposição, diz que Maduro perdeu “toda a noção da realidade” ao acionar a justiça para prender González. “Ao ameaçar o presidente eleito, apenas conseguem que nos unamos ainda mais e que haja um aumento do apoio dos venezuelanos e do mundo a Edmundo González”, afirmou Corina.

Maduro interrompeu a apuração de votos nas eleições de julho ao concluir que fora derrotado. O Conselho Nacional Eleitoral anunciou que ele vencera, mas não publicou até hoje as atas com o número de votos obtidos pelos candidatos a presidente urna por urna. As atas em posse da oposição atestam a vitória de González.

Mais de 2 mil pessoas já foram presas na Venezuela por continuarem a se opor ao governo Maduro. A imprensa está sob censura. E agora González é acusado de usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência às leis, associação para cometer um crime e conspiração.

Enquanto isso, Lula arde a céu aberto, como ele mesmo admite em conversas com assessores e amigos. A direita e parte da esquerda o criticam por não condenar publicamente o comportamento de Maduro. Lula limita-se a dizer que não reconhecerá a vitória nem de um lado nem do outro até ver as atas eleitorais.

Lula procede assim para que a posição de liderança do Brasil na América Latina não seja abalada, segundo uma pessoa com acesso a ele. Há macro agendas em jogo como o combate à pobreza e a defesa do meio ambiente. O Brasil não quer perder o comando sobre elas só por engrossar a voz com Maduro.

O terreno à frente de Lula é movediço e poderá engoli-lo se seu desgaste aumentar. Ele tem plena consciência disso, mas acha que não há muito o que possa fazer. Se pudesse, já teria posto para quebrar em Maduro, mas seria arriscado. Ou a crise na Venezuela se resolve por meio de um acordo ou não terá solução tão cedo.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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